Manuel Fernandes, sócio líder do centro de excelência em Óleo e Gás da KPMG no Brasil
Após um longo período de retração nos negócios, por conta da queda vertiginosa na demanda conjugada com aumento de oferta, a indústria de óleo e gás começa a apresentar sinais de otimismo. Um estudo com 723 profissionais, dentre eles 50 brasileiros, efetuado pela consultoria norueguesa DNV GL apontou que executivos da área ainda esperam um ano difícil, mas já estão mais otimistas com as oportunidades de negócios. O levantamento mostra que a confiança nas perspectivas para o segmento mais que triplicou no país, de 16% em 2016 para 50% em 2017, sendo a média global, para efeitos de comparação, de 32%. Do ponto de vista da lucratividade, o estudo mostra que os profissionais no Brasil estão mais pessimistas, quando apenas 26% deles esperam alcançar suas metas de lucro, contra 34% das expectativas globais.
A reação dos investidores no Brasil é reflexo das medidas que vêm sendo implantadas pelo governo brasileiro para atrair investimentos para o setor, que é um dos mais importantes no País. O mercado recebeu com bastante entusiasmo as notícias sobre o fim da regra do operador único no pré-sal, apesar de alguma desconfiança com o direito de preferência assegurado à Petrobras. Também repercutiu muito bem o anúncio das mudanças nas exigências de conteúdo local, que reduziu à metade a necessidade de percentual para contratação de equipamentos que deixará de ser detalhada por itens e passará a ser global. Já para exploração em terra, o índice de conteúdo local será 50%. Na regra anterior, os percentuais eram definidos em cada edital. A expectativa é que a nova política seja colocada em prática a partir da 14ª rodada de licitações de blocos para exploração de petróleo e gás natural, prevista para acontecer no segundo semestre deste ano, juntamente com as 2ª e 3ª rodadas de Partilha de Produção e com a 4ª rodada de Acumulações Marginais.
Ainda no tema da flexibilização do conteúdo local, um estudo da consultoria internacional IHS apontou que, com a mudança na política atual, o país poderá produzir, em 2025, um milhão de barris a mais por dia. Isso seria um nível 30% superior ao cenário previsto caso não haja alterações nesses parâmetros. Consequentemente, o número de vagas diretas e indiretas criada no setor aumentaria em 70 mil postos até 2020 e a arrecadação total de participações, em mais de US$ 300 bilhões nos próximos cinco anos. Segundo ainda a IHS, as regras atuais de conteúdo local implicam um sobrecusto dos projetos de petróleo no país, estimados entre 15% e 22,5%, por conta dos preços maiores cobrados aqui.
Além disso, atendendo a um antigo anseio dos investidores e da indústria, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) divulgou que fará a 4ª e 5ª rodadas de Partilha de Produção, no primeiro semestre de 2018 e no segundo semestre de 2019, respectivamente, conjuntamente com a 15ª e 16ª rodadas de Licitações de blocos exploratórios e com a 5ª e 6ª rodadas de Acumulações Marginais, definindo um calendário que permitirá aos investidores, operadoras e cadeia de fornecedores para o setor de óleo e gás se planejar antecipadamente. Depois de a ANP ficar um longo período sem a realização de leilões, a expectativa do mercado é que todas as licitações previstas aconteçam efetivamente ao longo dos próximos três anos. Numa perspectiva otimista levando em conta o potencial das áreas leiloadas, de acordo com a agência, esse movimento deverá injetar na indústria um investimento direto de cerca de US$ 83 bilhões, fazendo com que a cadeia do setor se movimente. Paralelamente, o valor arrecadado com os royalties do petróleo - compensação financeira paga pelas empresas que fazem a exploração por eventuais danos ambientais que podem ser causados durante o processo de extração - também deverá ajudar na retomada da economia do país e, principalmente, do estado do Rio, um dos principais produtores de petróleo do país e que vem passando por uma grave crise financeira. Somam-se a essas medidas, de forma positiva, a possibilidade de manutenção das políticas do Repetro, tratamento especial de importações e exportações para fins de incidência do ICMS, e o plano de parcerias e desinvestimento da Petrobras estabelecida no Plano Estratégico que deve alcançar algo em torno de US$ 21 bilhões para o biênio 2017/2018.
Já no setor de estaleiros, o caminho passa por buscar oportunidades em reparos e manutenção. Dos investimentos anunciados pela Petrobras, principal player do mercado, a previsão é que, até 2021, entrem em operação 19 novas embarcações do tipo FPSO (sigla em inglês para Unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência), sendo que 12 já foram contratadas. Nossa análise é que para atingir o volume de produção prevista, próximo a 3 Mboe (milhões de barris de óleo equivalente)/dia, seriam necessários 16 FPSO, o que provocaria novas demandas de construção apenas por volta de 2024.
Diante do momento conturbado que o setor está vivendo, as empresas vêm buscando alternativas para encarar os desafios atuais. Surge daí um movimento que passa por uma reestruturação operacional (custos e despesas) e rolagem de dívidas e descomissionamento de áreas e ativos, com as empresas concentrando esforços e investimentos nos projetos mais rentáveis. Na busca pela eficiência, escala e rentabilidade, destacam-se a consolidação e a busca de um modelo de operações em conjunto. Como exemplos, podemos citar a Shell que adquiriu a BG, a recente joint venture entre Schlumberger e Weatherford, a fusão da FMC Technologies com Technip e a compra da Baker Hughes pela GE.
Vale ressaltar que, apesar das adversidades que a indústria está enfrentando, o mercado de óleo e gás brasileiro continua atraente para os investidores, tanto nacionais como estrangeiros, que mantêm alto interesse no Brasil por conta do preço e da atratividade dos ativos. Todos de olho no potencial das reservas naturais brasileiras, na retomada das atividades petrolíferas no estado e no crescimento da indústria e do setor nos próximos anos.