Domingo, 24 Novembro 2024

Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Não é preciso ser um globetrotter para se saber que o comércio exterior que se praticava há dez ou vinte anos não existe mais e que hoje o planeta caminha em direção da formalização de pactos regionais, colocando por terra a esperança que havia de que grandes acordos multilaterais, intermediados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) e regidos por negociações de tarifas e controle de fronteiras, pudessem ser assinados e seguidos por todos. Parece que o pragmatismo chinês de defender prioritariamente seus próprios interesses, ocupando espaços sempre que o interlocutor o permita, é o que vai prevalecer daqui para frente.

Diante disso, é de se elogiar o pragmatismo adotado pela política externa comercial do atual governo brasileiro, que parece colocar em primeiro lugar os interesses do País, deixando para trás uma mentalidade retrógada que procurava edulcorar uma possível liderança do País por meio de um relacionamento com outros governos com base em financiamentos a juros maternais pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Aparentemente, o pragmatismo chinês começa a influenciar os responsáveis em Brasília pela diplomacia comercial.

Se alguma dúvida resta quanto à eficiência dessa política, basta lembrar que o Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina, que na década de 80 superava o da China em 150%, em 2013 representava apenas 60% do PIB chinês. Isso mostra a diferença de crescimento entre as duas regiões nos últimos trinta e seis anos. E mostra também que esse crescimento desenfreado da China não foi obtido com a exportação de produtos básicos, mas com a venda de produtos de valor agregado, que são aqueles que geram os empregos que acabam movimentando também o mercado interno.

Sem entender esse fenômeno, os três últimos governos brasileiros isolaram o País, deixando-o despreparado para atuar nesse novo modelo de comércio internacional. Como o Mercosul vai para onde o Brasil for, o bloco sul-americano também se isolou do mundo. Basta ver que, dos 400 acordos firmados nos últimos dez anos, não mais que cinco envolveram o Brasil e o Mercosul.

Além disso, os três últimos governos se recusaram peremptoriamente a discutir questões regulatórias internacionais que hoje já se tornaram imperativas, deixando de endossá-las por motivos ideológicos que se justificariam se o mundo ainda vivesse ao tempo da Guerra Fria (1945-1991). Entre essas questões, estão medidas de padronização dos produtos, proteção do consumidor, regras de investimento, competitividade, transparência, barreiras técnicas e sanitárias.

Portanto, para começar a mudar o status internacional do País, o atual governo precisa se inspirar não só no pragmatismo chinês como forma de atuação, mas também nos modelos norte-americano e inglês em que são os empresários que apontam os caminhos a seguir, cabendo aos governantes viabilizá-los, e não o contrário. Em outras palavras: o comércio exterior brasileiro precisa deixar para trás o quanto antes uma legislação e um estilo de atuação de meados do século 20, se pretende competir com os países que já estão no século 21.

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