Domingo, 24 Novembro 2024

Coriolano Xavier, vice-presidente de Comunicação do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM

Os problemas e surpresas do Brasil são tantos, e a cada dia, que a gente acaba se esquecendo das coisas boas e dos avanços que acontecem por aqui. Um desses casos – na verdade um grande exemplo -- está na suinocultura, que transformou uma questão de passivo ambiental em uma bela solução, através da biodigestão dos dejetos gerados na atividade. Hoje, cerca de 75% da carne suína produzida no país sai de granjas que tratam os dejetos com biodigestor.

Tudo começou por volta do ano 2000, um pouco antes talvez, com a conscientização dos produtores sobre o forte impacto ambiental dos dejetos da suinocultura, cujo rebanho somava à época cerca de 30 milhões de animais e hoje está na casa dos 38 milhões. Primeiro, foi negociado e consolidado com o setor um “termo de ajuste de conduta”, seguido de uma ação continuada de difusão tecnológica para neutralização dos efeitos dos dejetos, por órgãos públicos de pesquisa e extensão. Fechando o quadro, disponibilizou-se financiamento para a instalação de biodigestores nas granjas, com fontes nacionais e internacionais de recursos.

Por essa época, o biodigestor era uma tecnologia que se pagava em três a quatro anos, com o então florescente comércio de créditos de carbono. Esse estímulo, aliás, foi fundamental para puxar os suinocultores para a solução ambientalista. Mas mesmo depois, em 2008-2010, quando o mercado de créditos de carbono perdeu força, os dividendos da biodigestão continuaram firmes, pois ele também representava energia (biogás) para abastecer as granjas, muitas vezes gerando excedentes para venda nos mercados energéticos regionais.

Uma granja tecnificada e com 1.500 matrizes, por exemplo, consegue substituir toda a energia que consome pelo biogás produzido em seus biodigestores, economizando até algo em torno de 30-40 mil reais por mês, dependendo as características de seu sistema de produção. E ainda sobra o benefício da fertilização do solo (com os resíduos orgânicos da biodigestão) para as lavouras da propriedade, economizando na adubação.

Encarou-se o problema de frente, inovou-se na abordagem e deu certo. Claro que a educação do produtor e de suas equipes, os recursos para financiamento e o rigor na concessão de licença ambiental para novos projetos de suinocultura tiveram um papel fundamental na expansão e consolidação dessa solução ambiental. Assim como o incentivo inicial proporcionado pelo mercado internacional de créditos de carbono.

No entanto, talvez mais forte do que isso foi a atitude. A capacidade de enxergar a oportunidade do momento, a consciência do problema e a vontade de construir uma solução, provando que conhecimento, eficiência, compromisso e sustentabilidade andam juntos e dão bons resultados. É só querer e fazer acontecer. O exemplo da carne suína ambientalmente sustentável está aí para quem quiser conhecer.

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