Domingo, 24 Novembro 2024

Matthew Gharegozlou - Vice-Presidente da Progress para a América Latina e Caribe

A última revolução industrial - ou "Indústria 4.0", para aqueles que mantêm a contagem - evoca imagens de drones entregando encomendas, carros auto conduzidos, robótica inteligente e impressão em 3D, mas até que ponto este é um cenário real?

O relatório SmartThings Living Future, criado por um grupo de acadêmicos e futurólogos, divulgou recentemente a sua visão de futuro que descreve casas impressas em 3D, alimentos para download e cidades subaquáticas.

Mas, tal como a prancha voadora do filme De Volta para o Futuro 2, que já deveria ter se tornado real, mas não chegou a acontecer, as tecnologias só podem se desenvolver tão rápido quanto suas encarnações anteriores permitem, ou seja: elas precisam ser construídas sobre bases sólidas.

O último século e meio da inovação industrial foi marcado por inovações que levaram a indústria a trabalhar tão bem como nunca antes: a integração do ERP com outras aplicações centrais de negócio, os códigos de produtos universais e o intercâmbio eletrônico de dados (EDI) são apenas a ponta do iceberg.

A maior falha, porém, tem sido a incapacidade de se chegar a um amplo acordo sobre normas comuns. A Indústria 4.0 é dependente de conectividade, talvez mais do que qualquer outra coisa. Assim se os dispositivos e sistemas funcionam com base em complexos e variados padrões, que nem sempre interagem entre si, o que temos, na prática, é a falta de um padrão de qualquer natureza.

Para usar um exemplo menos industrial, mas bem claro: se não há padrão de interconexão, a casa conectada com um serviço de pedidos automatizado não vai ser capaz de reunir informações sobre a geladeira para saber se ela está precisando de uma reposição de suco. Ou se a máquina de lavar roupa ficou sem sabão; ou, ainda, se a máquina de café está sem cápsula.

Alavancar o potencial da Internet das coisas depende fortemente da interoperabilidade. Os Gigantes da tecnologia, que passaram tanto tempo construindo muros para proteger padrões proprietários, terão que atuar juntos novamente para chegar a um acordo sobre normas universais, utilizando frameworks de código aberto para permitir a integração entre eles e outros inovadores.

A Oportunidade da Internet Industrial das Coisas
A Indústria 4.0 envolve a informatização de máquinas e a automação utilizando a robótica, bem como a medição inteligente e a análise de dados para melhorar a eficiência, rentabilidade e segurança.

Analistas do mercado global de terceiros preveem que o investimento na Internet industrial das coisas (IIoT) chegará a US $ 500 bilhões até 2020. As empresas que introduzem automação e técnicas de produção mais flexíveis para a fabricação podem aumentar a produtividade em até 30%.
Além disso, a exploração preditiva dos ativos pode ajudar as empresas a economizar aproximadamente 12% em reparos programados, reduzir os custos gerais de manutenção em até 30% e eliminar avarias em 70%.

Essas tecnologias de automação serão impulsionadas por sensores avançados, tecnologias de big data e aplicações de máquinas inteligentes que irão colher, gerenciar, analisar dados contextuais e levar feedback ao usuário ou dispositivo na forma de informações relevantes, tudo em tempo real.

Olhemos agora para a proliferação de dispositivos móveis usando software inteligente, computadores tradicionais, servidores de big data e dispositivos da Internet das coisas. Tudo isto nos dá uma noção da magnitude dos dados contextuais disponíveis e do grande aparato orientado ao seu emprego.

Embora a IIoT ainda esteja em sua infância, sua capacidade de evoluir vai depender de quão bem essa explosão de dados estará integrada e suportada através de um ecossistema aberto de dispositivos.

Dê um passo para trás para dar um salto gigante para a frente
Toda revolução industrial até hoje não foi capaz de estabelecer as bases que vão resolver com sucesso os desafios da interoperabilidade de dados e dispositivo. O resultado disso é que há um perigo real de a indústria tentar correr antes de poder andar.

Para evitar isso, os desafios fundamentais de integração devem primeiro ser enfrentados. As empresas ainda lutam para integrar o seu ERP com outras aplicações centrais de negócio devido à mudança de programas para a integração em tempo real, de modo a fornecer dados de saída do ERP para outros sistemas.

Muitos códigos de produtos universais, que controlam itens comerciais em lojas, ainda não estão totalmente integrados com os dados de experiência e perfil do cliente, o que significa que é mais difícil oferecer ofertas personalizadas baseadas nas preferências. Além disso, o intercâmbio eletrônico de dados (EDI) - e outras habilidades das empresas de trocar documentos eletronicamente - ainda não foi totalmente resolvido, como também os formatos de mensagens ainda não estão padronizados.

E enquanto esses problemas básicos existem, um desafio muito maior de interoperabilidade aparece. Isto é, uma falta de interoperabilidade entre os dispositivos e máquinas que usam diferentes protocolos e têm diferentes arquiteturas. Os gigantes da tecnologia que foram os primeiros inovadores da web, incluindo Google, Amazon e Apple têm usado seu poder de criar ecossistemas fechados que eles controlam sozinhos.

Isto levou outros fornecedores e parceiros a seguirem o exemplo, criando os seus próprios padrões para o desenvolvimento de aplicações baseadas em sistemas operacionais ou dispositivos proprietários. Surgiu assim um desafio de interoperabilidade muito real: a falta de normas comuns com dispositivos e sistemas populares que não compartilham dados com o outro se não estiverem conectados dentro do mesmo ecossistema.

Os gigantes da tecnologia precisam encontrar uma forma de cooperação que não ameace o atual padrão IP de conexão, ao mesmo tempo em que constroem um padrão aberto mutuamente benéfico que estimule a colaboração na perspectiva do desenvolvedor.

Algum progresso foi feito pela organização sem fins lucrativos Industrial Internet Consortium, mas não é o suficiente. Estes gigantes têm a capacidade de decidir como a IIOT se desenvolve e cabe a eles promover, de fato, a colaboração que irá tornar mais célere e efetiva a inovação na área da indústria.

O papel da arquitetura aberta e das linguagens web
As tecnologias alicerçadas em uma arquitetura aberta vão ajudar as empresas a aprender e desenvolver sistemas que se integram de forma prática e produtiva. Isto inclui a construção de novos frameworks de tecnologia aberta como NativeScript e React Native, que ajudam os desenvolvedores a desenvolver aplicações IIoT para trabalhar em todos os sistemas e com capacidade de compartilhar dados entre eles.

As empresas devem incentivar os desenvolvedores IIOT a usarem linguagens web para escalar aplicações em qualquer dispositivo ou plataforma. O JavaScript é uma linguagem web popular e a única que roda em qualquer plataforma. É também a única a empregar o conceito "escreva uma só vez e execute em qualquer lugar".

Abertura para todos
Ecossistemas fechados são, provavelmente, a maior ameaça para a IIoT bem-sucedida. Se os players industriais querem tirar proveito e acelerar a sua própria transformação digital para conduzir novos modelos de negócio; ou se querem aproveitar as oportunidades de receita e de mercado, então eles devem olhar mais de perto as tecnologias abertas e seguras e começar a inovar para a IIoT de hoje. Integrar o legado com o futuro, esta é a única forma de avançar de fato com a indústria 4.0, ao invés de nos dedicarmos apenas a belos cenários futurísticos.

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