Coriolano Xavier, vice-presidente de comunicação do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS) e professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM
Hoje, dia 18 de agosto, celebra-se o Dia Nacional do Campo Limpo, data criada para reforçar a cada ano a conscientização sobre a importância da destinação das embalagens vazias de defensivos agrícolas. Sucesso em nosso meio rural e referência de eficiência no exterior, o Sistema Campo Limpo de logística reversa mudou o paradigma de responsabilidade com as embalagens de agroquímicos, pós-consumo, na agricultura brasileira.
Atualmente essa iniciativa é uma reserva brasileira de conhecimento em recolhimento e descarte ambientalmente correto de embalagens, inclusive com potencial de contribuição para outros programas que surjam no Brasil, sob o guarda-chuva da Política Nacional de Resíduos Sólidos (de 2010), que impõe às cadeias produtivas da economia a responsabilidade de dar destinação adequada aos resíduos sólidos produzidos.
Desde 2002, quando começou a funcionar, o Sistema Campo Limpo já evitou o descarte indevido de mais de 360 mil toneladas de embalagens e, hoje, encaminha para reciclagem ou incineração 94% das embalagens devolvidas pelos agricultores. Enquanto isso, países como França, Canadá, Espanha e Alemanha estão com recolhimento na casa dos 70%-80%, Japão com 50% e os Estados Unidos bem mais atrás, na faixa de 35%.
Sob uma perspectiva histórica, é possível creditar o sucesso desse programa, em primeiro lugar, à legislação que instaurou a determinação de se devolver e recolher as embalagens dos defensivos agrícolas adquiridos pelos produtores rurais (Lei 9.974/2000). A subsequente conscientização dos produtores também foi decisiva, assim como a liderança da indústria em todo o processo e o suporte essencial dos canais de comercialização de insumos, no campo.
O Sistema Campo Limpo reúne cerca de uma centena de empresas fabricantes de defensivos, cinco mil distribuidores e cooperativas em todo o Brasil, 12 recicladores e três incineradores. Estrutura que é alimentada por uma malha de mais de 400 unidades de recebimento de embalagens, distribuídas em 25 Estados e no Distrito Federal. Esta rede retira do campo embalagens usadas em aproximadamente 55 milhões de hectares cultivados.
A gestão operacional desse complexo aparato de logística reversa está a cargo do InpEV – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, representante das indústrias de agroquímicos. Uma operação cuja força está no fato de integrar efetivamente os elos da cadeia comercial de defensivos agrícolas, da fábrica ao produtor rural – e também o poder público, que fiscaliza o sistema de destinação, emite licenças para as unidades de recebimento e apoia os esforços de conscientização do agricultor.
Costuma-se dizer que em cadeias produtivas não existem heróis. No caso do Sistema Campo Limpo isso é concreto, pois os segmentos da cadeia de produção agrícola, no antes e no dentro da porteira, mergulharam no desafio de fazer a logística reversa dos defensivos em um país continental e dar um passo à frente para a sustentabilidade no campo. E deu certo, muito certo. Mas nesta história, na verdade, tem sim um herói: o agronegócio.