João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical
Em um livro recente da editora Boitempo que é uma contribuição para entender o impeachment e a crise política no Brasil, André Singer defende uma frente ampla, democrática e republicana como alternativa.
Seu artigo é, dentre os vários editados, um dos mais pertinentes porque o autor se preocupa com a presença dos trabalhadores – e do movimento sindical – no desenrolar da crise e em sua solução.
O governo interino, segundo ele, anuncia e prepara um ajuste duro que agride direitos trabalhistas e sindicais e impõe um período defensivo de resistência.
Para André Singer “a classe trabalhadora entra dividida no período defensivo. Primeiro porque as forças sindicais racharam na luta contra o impeachment e um importante setor do sindicalismo apoia o governo interino, resultado do golpe parlamentar. Embora essa ala afirme não endossar propostas como a idade mínima de aposentadoria, faz elogios ao plano de contenção do setor público. Será necessário, em primeiro lugar, reconstruir a unidade do trabalho para ter chance de barrar as propostas regressivas que listei anteriormente. Tarefa difícil”.
A análise é correta no essencial e a avaliação sobre a dificuldade de se “unir o trabalho”, embora um pouco pessimista, também é pertinente.
Os passos concretos que o movimento sindical tem dado ao identificar as agressões, estabelecer uma pauta comum unitária e reconstruir sua unidade de ação apontam a para algo necessário e possível de ser realizado, apesar das dificuldades no caminho, que são imensas.
Talvez o artigo de André Singer desperte entre outros intelectuais a atenção para o movimento sindical e os estimule a se aproximar – intelectualmente, organicamente e fisicamente – dos esforços que o conjunto do movimento sindical tem feito para se posicionar unitariamente na luta pelo desenvolvimento com distribuição de renda, pelo produtivismo contra o rentismo e pela democracia que garante os próprios direitos trabalhistas e sindicais.