Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)
As estatísticas sobre emprego e salários continuam a revelar a dramaticidade dos impactos da crise econômica sobre a vida de milhões de brasileiros. Altas taxas de desemprego, que cresceram em ritmo alucinante, aumento da informalidade e da precarização das condições de trabalho, queda dos salários e da massa salarial.
Segundo a PnadC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 11,4 milhões de pessoas estavam desempregadas em maio (taxa de desemprego de 11,2%). Há um ano, esse número era de 8,1 milhões desempregados. A crise econômica colocou na dramática situação de desocupados mais 3,3 milhões de pessoas. O desemprego cresceu porque postos de trabalho foram fechados (1,2 milhão) e mais 1,1, milhão de pessoas passaram a procurar trabalho e não encontraram.
O Dieese pesquisa, além do desemprego aberto (aquele que inclui quem procura emprego de forma efetiva nos últimos 30 dias, sem realizar nenhum tipo de atividade nos sete dias anteriores àquele em que é entrevistado pelo levantamento); o desemprego pelo trabalho precário (que inclui os desempregados que fizeram algum tipo de bico) e o desemprego pelo desalento (quem precisa de emprego, mas desiste da procura por estar desestimulado, nos 30 dias anteriores ao da Pesquisa, mas buscou trabalho nos últimos 12 meses). Segundo a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), para a Região Metropolitana (RM) de São Paulo, a taxa de desemprego total foi de 17,6%; na RM Salvador, de 23,7%; no Distrito Federal, de 18,9%; na RM Fortaleza, de 12,9% e; na RM Porto Alegre, de 10,2%.
Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), registro administrativo mantido pelo Ministério do Trabalho, em maio, foram eliminados quase 73 mil postos de trabalho com carteira de trabalho assinada. Em um ano, foram fechados quase 1,8 milhão de postos formais de trabalho.
O assalariamento informal (sem carteira) manteve-se praticamente estável no último ano. Houve queda no trabalho autônomo ou por conta própria, ou seja, a crise também tem afetado aqueles que trabalham prestando serviços às empresas, às famílias ou em vias púbicas (camelôs).
Há queda no rendimento médio (-12,3 % na RM Salvador e -7,4% na RM São Paulo, segundo a PED). Com menos gente ocupada e com nos salários, também cai a massa salarial.
Destruindo os empregos, arrochando os salários, precarizando os postos de trabalho, a crise faz a economia atuar na contramão, ou seja, deixar de gerar bem-estar e qualidade de vida para todos. Ao mesmo tempo, ao enfraquecer o mercado interno de consumo, desestimula a produção e o investimento, ampliando ainda mais o ciclo recessivo da economia.
Para que o pais volte a gerar emprego, é necessário crescimento econômico sustentado por uma demanda oriunda do aumento da massa salarial (mais empregos com melhores salários), pelos investimentos público e privado (infraestrutura econômica, social e produtiva) e pela capacidade ampliada de importar e exportar, de maneira equilibrada.
O Brasil tem enorme potencial para crescer de maneira sustentável, construindo capacidade política para alavancar o investimento público e privado; desmontando a indexação rentista; combatendo o spread bancário; dando potência à política monetária; organizando uma política cambial de desenvolvimento industrial; destravando o setor de construção, petróleo e gás; animando o desenvolvimento industrial; mobilizando o setor de serviços e de turismo; agregando valor na produção agrícola e pecuária, entre tantas outras grandes oportunidades.