João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical
Nós brasileiros estamos fascinados, cada vez mais, pelos boletins noticiosos do tempo (como os norte-americanos o são há anos) e estamos aprendendo a diferença entre temperatura e sensação térmica.
A temperatura é medição precisa, aritmética e a sensação térmica depende dos ventos, da umidade do ar e da subjetividade.
As crises atuais no Brasil também estão sujeitas a essa diferença.
Há a temperatura objetiva da crise, principalmente em se tratando da recessão, com o crescimento do desemprego, a queda dos salários e investimentos e há a subjetividade da crise política, carnavalizada pela mídia, com as rajadas da Lava Jato e a umidade relativa do impedimento presidencial artificial e a interinidade do vice-presidente.
O movimento sindical, sofrendo como todos, a sensação térmica, não pode deixar de controlar a temperatura real.
A recessão é um fato e a política proposta pela equipe econômica do governo transitório é recessiva, mesmo que algumas medidas pareçam contrariar isso.
É para enfrentar esse quadro (recessão agravada por intenção), que o movimento sindical precisa se unir rapidamente para a resistência.
Levando em conta as vacilações decorrentes da própria transitoriedade e a instabilidade do governo e entre o governo e sua equipe econômica, o movimento sindical unido deve agir desde já, reafirmando aquilo que considera inaceitável e atuando de forma a derrotar, se possível, as piores propostas.
Na terceirização, por exemplo, devemos observar a janela de oportunidade aberta para nós no Senado e procurar garantir, a favor dos trabalhadores, o mais rápido possível, uma legislação com preservação de direitos que foram espezinhados pela Câmara, o que só será possível enquanto dure a dualidade presidencial.
Sem descuidar da sensação térmica é preciso saber, com certeza, a temperatura real.