Coriolano Xavier, vice-presidente de Comunicação do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM
De acordo com a Estimativa de Apoio ao Produtor (PSE) da OCDE¹, índice que representa o quanto da receita bruta dos produtores rurais é proveniente de recursos de políticas agrícolas governamentais, a realidade dos subsídios em 2014 foi a seguinte: Noruega (58,4%); Japão (49,2%); China (20,2%); União Europeia (18,0%); México (13,3%); EUA (9,8%); Canadá (9,0%); Rússia (8,9%); Brasil (4,4%); e Austrália (2,3%). E aqui estão apenas os 10 países de maior fatia subsidiada, entre eles os principais protagonistas do agro mundial².
Esse quadro é praticamente um documento de elogio à competitividade do produtor brasileiro. Nosso agricultor ou criador navega contra a maré dos subsídios recebidos por seus competidores e, também, contra a maré interna dos gargalos de infraestrutura, custo do dinheiro, queda da demanda e da confiança dos consumidores. Sem falar nos desafios sanitários e produtivos do ambiente tropical.
Aqui, o produtor produz bem, produz muito e é um dos que menos recebe receita do governo, ainda que o agronegócio represente 22% do PIB e 46% das nossas exportações. O país é o terceiro maior exportador de produtos agropecuários, atrás do conjunto da União Europeia (28 países) e dos Estados Unidos. Exportamos US$ 88,2 bilhões em 2015, importamos US$ 13,3 bilhões e obtivemos um saldo positivo de US$ 75,2 bilhões -- a melhor balança comercial agrícola do ano, entre os cinco maiores exportadores mundiais o agro. O Brasil é visto como um líder global do setor.
Em parte, vem daí o compasso de espera das negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio), por um comércio agrícola mais livre. Para países da OMC, o Brasil é um dos gigantes do agronegócio e a tendência é não abrirem as portas facilmente para nossa força competitiva na produção de alimentos e fibras. Claro que esse é um processo de negociação histórico e ainda em curso; mas arrisco dizer que, neste momento, seria um engano estratégico depositar muitas fichas nessa aposta.
Portanto, os avanços do agronegócio brasileiro sobre novos mercados internacionais parecem depender, hoje, muito mais da visão estratégica e do fomento dos próprios produtores e exportadores. Por exemplo, sensibilizando o governo para buscar acordos bilaterais ou multilaterais de comércio, um estratagema usado por vários países para contornar os impasses da OMC. E, por incrível que pareça, pode-se dizer que ainda estamos fora desse jogo.
São eles também que podem alavancar programas estratégicos de marketing no exterior, visando produtos de nossa pauta agropecuária, marcas de empresas, de regiões, ou mesmo a “marca Brasil”, que daria um guarda-chuva agregador para a percepção das ofertas brasileiras, a exemplo de iniciativas bem sucedidas como da Austrália, Chile, Uruguai, Estados Unidos e Itália, entre outros países.
Já somos vistos no mundo como um agronegócio forte, avançado e competitivo. Os números comprovam. Agora, o próximo passo é termos um agronegócio cujos produtos sejam desejados e cuja riqueza seja ainda mais sustentável.
(1) A Estimativa de Apoio ao Produtor ou PSE na sigla em inglês (Producer Support Estimate) é calculada pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), para as principais economias do mundo.
(2) In “Projeto Agrotendências 2016” – Canal Rural/Wedekin Associados.