Sábado, 23 Novembro 2024

Por Stephen Lock – VP da Speyside

Recentemente, durante uma conferência fechada, eu ouvi Sergio Moro, o “super juiz” brasileiro, falar sobre as investigações que transformaram o cenário político e empresarial do país.

Moro, o juiz responsável por expor o escândalo de corrupção da Petrobras, denominado de Operação Lava Jato, foi recebido na conferência como um astro de rock: foi ovacionado e aplaudido em pé. Detalhe: esta foi uma conferência de banqueiros e advogados e investidores internacionais. Porém, a Operação Lava Jato parece estar entrando numa nova fase de investigações e tudo indica que  empresas estrangeiras poderão ser interrogadas e até mesmo indiciadas..

De fato, essas acusações no Brasil poderão ser apenas o começo. Para muitas multinacionais, acusações de corrupção no Brasil poderão levar a acusações criminais nos EUA. Na verdade, conforme afirmado pelos advogados da Norton Rose Fulbright, até mesmo empresas que não são norte-americanas poderão enfrentar acusações subsequentes de corrupção, com base na lei FCPA dos EUA. No caso de algumas multinacionais, até mesmo subempreiteiras poderão ser submetidas à British Bribery Act, a lei antipropina do Reino Unido - mesmo que as propinas em troca de contratos não tenham sido pagas no Reino Unido e nem tenham envolvido nenhum elemento do governo.

Para as empresas estrangeiras prestes a cair na rede do juiz Moro, esta não é apenas uma questão legal a ser tratada em particular com os promotores. De fato, é uma questão séria de reputação corporativa cujo impacto na marca corporativa deverá durar anos.

Eu já morei em cinco países emergentes e não me surpreende o fato de que são sempre os mesmo nomes envolvidos em acusações de corrupção. Entre eles estão uma empresa farmacêutica; duas gigantes globais de engenharia e uma empresa elétrica, que já foram acusadas e indiciadas em praticamente todos os países emergentes onde eu vivi. Corrupção corporativa geralmente é reflexo de uma “cultura corporativa mais enraizada”. No entanto, para a maioria das empresas uma acusação de corrupção é um grande choque.

Portanto, se você for uma multinacional prestes a ser investigada no escândalo da Lava Jato, além de acionar os seus advogados o que você deve fazer para garantir que a sua reputação corporativa sobreviva a esse processo? O que fazer para convencer as pessoas de que este episódio é um fato isolado na sua ética corporativa?

Empenho e ênfase na gestão de RP durante investigações sobre corrupção não é apenas uma questão de “melhores práticas”. É puro bom senso financeiro. Enquanto o preço das ações da Petrobras e da Volkswagen (que está envolvida em outro caso) despencam, quanto antes você utilizar RP para tentar amenizar o desastre nas relações com investidores queuma investigação criminal pode causar, melhor.

Determine a sua narrativa dos eventos e esteja preparado, de forma proativa, para falar sobre o assunto. Seja o mais factual e aberto possível (dentro daquilo que os seus advogados criminalistas permitirem). Faça substituições imediatas na gerência e anuncie essas medidas abertamente. Se você estiver fazendo mudanças operacionais ou no processo de vendas, seja honesto a respeito.

Invista em comunicações internas no mínimo o dobro do tempo que você costuma investir em comunicações externas. Você tem um trabalho a fazer. Demonstre um compromisso inabalável com conformidade e ao mesmo tempo, ofereça apoio e suporte aos funcionários honestos e éticos, para que eles se sintam empoderados para enfrentar ‘aquilo que está por vir’. Empenhe-se para garantir que as pessoas jovens e talentosas tenham ‘um motivo para ficar’ na empresa.

Obviamente, as suas estratégias de comunicação devem ser discutidas a priori e alinhadas com os seus consultores legais externos. No entanto, essa não é uma área de litígio que necessariamente exija uma orientação dos seus seguradores. Esta é uma área muito complexa e as multas aplicadas pela FCPA (e em muitos casos pela UK Bribery Act) provalmente não são seguráveis, mesmo em se tratando de apólices que cobrem prejuízos causados por diretores e diretores executivos.

Em se tratando de litígio, às vezes, contar o seu lado da história pode ser benéfico, enquanto que outras vezes a melhor coisa a fazer é recuar a fim de não se prejudicar.

Como em qualquer crise, é importante montar uma equipe de Gerenciamento de Crise para lidar com a questão. No entanto, isso não é exatamente uma crise, pois pode levar anospara ser resolvida. Portanto, convoque uma equipe de Gerenciamento de Litígio, cuja área de atuação vá além das questões legais e que tenha poderes e representatividade junto à Diretoria (mas não necessariamente junto ao CEO). O erro mais caro que essas equipes podem cometer é limitar as comunicações a um press-release com considerações posteriores ao fato. É preciso integrar RP ao planejamento: contrate alguém com experiência concreta em assuntos de corrupção e casos de crime corporativo e que entenda a necessidade de equilibrar transparência com confidencialidade corporativa; de fazer uso da sinceridade sem cair em desacato ao tribunal e que saiba trabalhar em equipe.

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*Todo o conteúdo contido neste artigo é de responsabilidade de seu autor, não passa por filtros e não reflete necessariamente a posição editorial do Portogente.

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