Sábado, 23 Novembro 2024

Artigo publicado, originalmente, no site da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet)

O preço do petróleo nos mercados de Londres e Nova York são referências para o resto do mundo, esta commodity chegou a cair abaixo dos 52 dólares, menor valor desde 2009, após a crise dos mercados de 2008. A brusca queda de 55% desde a metade de 2014 resultou da super oferta de petróleo, assinalada por picos de produção na Rússia, no Iraque e nos Estados Unidos. Este cenário, associado a demanda reprimida em função da lentidão dos mercados da China, Japão e Comunidade Europeia, situação que deveria provocar inquietação na Arábia Saudita, maior exportadora e dona da maior capacidade de produção de petróleo do mundo.

A economia saudita é pouco diversificada e muito dependente do setor petrolífero, responsável por 85% das exportações e 50% do PIB. Entre 2014 e 2015, a receita com petróleo deve cair 88%, sendo responsável por um déficit de 39 bilhões de dólares, o maior da história, que deverá provocar cortes nos gastos públicos e, possivelmente, alguma instabilidade política. Ainda assim, a Arábia Saudita pode suportar tranquilamente o baque, devido ao tamanho de suas reservas monetárias, cerca de 750 bilhões de dólares, e o país tem um grande diferencial nesta área, o menor custo de produção de petróleo no mundo, cinco dólares por barril.

A queda dos preços não é boa para a Arábia Saudita, mas é capaz de criar grandes dificuldades para seus adversários no Oriente Médio, principalmente o Irã, e também para avaliar a força florescente da produção norte-americana do shale oil, também conhecido como folhelho, que causa apreensão por minimizar a dependência de Washington do petróleo saudita.  Os Estados Unidos, tradicionalmente um dos maiores importadores de petróleo, estão a um passo de tornarem se autossuficientes, graças ao shale oil*, saudado como uma revolução no campo energético.

A produção nas formações de folhelho foi bastante frenética, e atualmente envolve cerca de 6 mil companhias diferentes em um mercado abastecido por 4 milhões de poços nos EUA. Neste cenário, a produção de petróleo cresceu 60% desde 2008 e, segundo as estimativas até 2016, o país poderá se tornar o maior produtor mundial, ultrapassando inclusive a Arábia Saudita. O volume de petróleo no mercado dos EUA é grande e o país a <!---->[1]<!--[endif]-->partir de junho de 2014, se tornou autossuficiente, e pela primeira vez em quatro décadas, o governo autorizou exportações de petróleo cru.

O folhelho colocou Washington na rota da independência energética o que pode preocupar os sauditas, situação que poderia minar a antiga parceria entre os dois países, baseada na troca de segurança militar pela segurança energética. Para a Arábia Saudita, o preço baixo do petróleo pode ser um obstáculo para a incipiente indústria norte-americana, visto que a maioria dos empresários envolvidos na produção do shale oil tem grandes dívidas, produto da capitalização para financiar o início da exploração.

No Brasil, a queda de preço do barril de petróleo, esbarra no cenário muito confuso, turbulências na área política e sobressaltos na economia.  Porém, a área de Petróleo & Gás apresenta fôlego com aumento de produção, inclusive com a antecipação de 5 anos da exploração no pré-sal, o país continua como um grande consumidor de petróleo.  Isso significa que as despesas com a importação devem diminuir substancialmente, provocando um alívio financeiro para o caixa da Petrobras, que indiretamente subsidia os consumidores brasileiros através da venda de gasolina com preços controlados pelo governo.

Outro desafio para a Petrobras vem do pré-sal, pois o custo de extração do shale oil americano é em média da ordem de 65 dólares o barril, a extração do pré-sal é mais cara que a convencional, segundo informações da empresa, o “breakeven point” (preço mínimo de viabilização econômica) dos projetos da camada pré-sal está entre US$ 41 a US$ 57 por barril do petróleo Brent.

O custo médio de extração por barril publicado pela Petrobras é de 14 dólares sem participação governamental em impostos e outros. Para o pré-sal, esse valor é provavelmente um pouco menor que a média da companhia, devido à alta produtividade dos poços atualmente em produção. Somando-se a isso a participação governamental de 18 dólares, mais os custos médios da Petrobras para descoberta menores que a média da indústria, mais o investimento médio, chega-se a um custo total da ordem de 50 dólares por barril.

O preço do petróleo do tipo Brent vem oscilando atualmente na faixa de US$ 60.  Alguns estudos sugerem que com o custo de extração do barril no pré-sal a 40 dólares se inviabilizaria os investimentos. Mas antes disso, a vítima seria a indústria americana de óleo alternativo.  É razoável supor que o barril não descerá muito além dos 60 dólares.

O banco francês BNP Paribas estima que o preço do petróleo Brent saia do patamar de US$ 55 por barril no segundo trimestre para uma média de US$ 63, chegando a US$ 67 no terceiro e no quarto trimestres de 2015, respectivamente. A expectativa para 2016 é uma média de US$ 75 o barril.

O Petróleo é uma commodity, e como toda commodity ela varia muito ao longo do tempo, dependendo das circunstâncias e dos fatores que a oferta e a demanda condicionam, além de fatores políticos.  O preço do petróleo está baixo para o mercado, esta situação torna as empresas petrolíferas mais cautelosas nesse movimento de portfólio de ativos de exploração e produção ser feito com muito cuidado. Além disso, há o risco real de o Irã voltar ao mercado petrolífero de forma mais robusta, após a retirada de sanções impostas pelos Estados Unidos, com a assinatura do acordo nuclear.

Isto porque devido às sanções, o Irã, o quarto país do mundo em reservas de petróleo, viu sua produção cair sucessivamente 3 milhões de barris diários (mbd) em 2012, em 2,5 mbd em 2011 e atualmente 1,3 mbd em 2015. O fim das sanções dos EUA, segundo os analistas da Bolsa de Nova York (Nymex) deve fazer com que as exportações iranianas subam de 1,6 mbd em 2014 para 2,4 mbd em 2016.

Enquanto isso, as companhias petrolíferas são profundamente penalizadas por questões complexas como guerras, grupos religiosos fundamentalistas, geopolítica do Oriente Médio e a toda logística em torno do petróleo. Os reflexos são sentidos nas Bolsas de Valores globalizadas, nos últimos seis meses, as ações da Goodrich Petroleum (USA) caíram 86%. As da Oasis Petroleum (USA), 75%.  A Petrobras é um caso entre muitos, e não um caso único, ao contrário do que a mídia notícia.

Em sua eterna luta para jogar mais sombras onde já não existe luz, a imprensa brasileira está ignorando ou deixando de divulgar o fato mais importante do ano na economia global, a dramática queda do preço do petróleo. Evento que terá impactos brutais nas diferentes economias e blocos econômicos, mas a mídia nacional prefere centrar seus holofotes na Petrobras, e na operação Lava Jato da Polícia Federal como se fosse de um caso único de depressão num ambiente de extrema ventura.

Fonte:

Arábia prevê déficit importante em 2015 após queda do preço do petróleo. Jornal do Commercio. Disponível em: http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/internacional/noticia/2014/12/25/arabia-preve-deficit-importante-em-2015-apos-queda-do-preco-do-petroleo--161853.php Acesso em 18 jul. 2015.

GHIRARDI, André. Petróleo: a virada nos mercados globais e o Pré-sal. Carta Capital, Rio de Janeiro, 17 de nov. 2014.  Disponível em:http://www.cartacapital.com.br/blogs/outras-palavras/petroleo-a-virada-nos-mercados-globais-e-o-pre-sal-8281.html  Acesso em 15 jul. 2015.

Petrobras – Fato Relevante: Volumes Excedentes da Cessão Onerosa. Rio, 24 de junho de 2014. Disponível em: http://www.investidorpetrobras.com.br/pt/comunicados-e-fatos-relevantes/fato-relevante-volumes-excedentes-da-cessao-onerosa

Petróleo Brent Dados Históricos. Disponível em: http://br.investing.com/commodities/brent-oil-historical-data, Acesso: 17/07/2015

 

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