João Guilherme Vargas Netto é consultor sindical
Crise política, moralismo justiceiro, ajuste fiscal e recessão: as pintas de cada onça são diferentes, mas são todas onças famintas.
Tudo aparece misturado como em uma horrorosa feijoada fria. Mas, para compreender aquilo que diariamente nos bombardeia, eu sugiro que se divida a crise (pelo menos na sua compreensão) de forma a facilitar as resistências.
A primeira crise é política, onde impera o barata-voa, com a oposição desnorteada (alguns esperando que o mamão caia de maduro e outros sacudindo o mamoeiro) e o governo emparedado (com dificuldades para viabilizar qualquer projeto e recuperar a mínima confiança de uma escassa maioria aritmética).
Junto com ela há a crise que chamo de “moralista”, que se materializa nos sucessivos lances da Operação Lava-Jato, com prisões, delações, investigações, condenações e o que mais seja para alimento dos meios de comunicação, desespero e vergonha dos denunciados e ranger de dentes da sociedade. Nos últimos dias ficou evidente uma operação para tentar “sujar” o movimento sindical como um todo nas águas lamacentas da corrupção e dos malfeitos visando enfraquecer a resistência dos trabalhadores.
Por iniciativa errada do governo foi criada a terceira crise: o ajuste fiscal. Hoje já se sabe que como foi elaborado e implementado, o ajuste é um fracasso. Não há a menor possibilidade de que ele seja completado com êxito antes que a lona do circo das agências de risco caia sobre o picadeiro.
E, por fim, há a recessão. Ela é uma crise monstruosa, que devora empregos e corrói salários, levando os trabalhadores ao desespero e acuando o movimento sindical, obrigado agora a uma luta de resistência depois de anos de protagonismo das centrais sindicais e sua atuação unitária.
Não adianta botar ou tirar qualquer bode da sala, enquanto nela se agigantam essas quatro onças ferozes: a crise política, o moralismo justiceiro, o ajuste fiscal e a recessão. As pintas de cada onça são diferentes, mas são todas onças famintas.
É hora de resistência e nesta hora cresce o papel daquelas entidades sindicais que ao longo dos anos de bonança fizeram a lição de casa e são hoje fortes o suficiente para enfrentar a crise, construir uma nova unidade e apresentar (com seus trabalhadores) novos rumos econômicos corretos para a sociedade.