Por Alfredo Lopes, filósofo e consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam)
A decisão de terceirizar os serviços da Suframa é a crônica sinistra de uma morte anunciada. O jogo da prorrogação dos incentivos faz lembrar o expediente da morte súbita, conquistada com o auxílio da estratégia eutanásia, adotada pelos servidores da autarquia e sua liderança aloprada. Por isso é risível acreditar que desembarquem em Manaus os benefícios anunciados no novo pacote de concessões logístico-portuárias com elevação para R$ 190 bilhões no valor total de investimentos para o setor. Permanecemos e, não tenhamos dúvida, permaneceremos sentados, parados, pregados na pedra do porto com um único e velho vestido - parodiando o poeta - cada dia mais curto. O governo federal recorre às concessões na tentativa de recompor o caix a, aumentar a arrecadação com velhos estratagemas e o mercado, de pé atrás como um Curupira, está atrás de algo mais prosaico e escasso: a credibilidade.
Contradizendo o que publicou em um grande jornal há um ano sobre cabotagem, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, soltou uma informação na semana passada, antecipando o tal plano de concessões, onde está agendada a construção de uma ferrovia que pode ser usada pela indústria da Zona Franca de Manaus para colocar seus produtos no Sudeste. Não me diga! A ferrovia ligaria Itaituba no Pará a Sinop no Mato Grosso e daí, passe de mágica, para o Sudeste. A promessa dessa linha férrea, do Norte ao Sul, é antiga como o discurso ético necessário a sua moralização. De olho no agronegócio, a senadora fundiu amnésia logística com deficiência geográfica e confusão nas premissas e racionalidade de vantagens nos diversos modais de transportes.
Há um ano, ela dizia que a navegação entre portos dentro do país é o meio de transporte mais barato e de menor risco de acidentes. E recorreu ao “Os Velhos Marinheiros” de Jorge Amado para reconhecer um dos mais graves gargalos da política nacional de transportes: a navegação de cabotagem, e apontar a falta de comandantes e marinheiros em número e qualificação, para explicar o abandono dessa modalidade ambientalmente correta e economicamente inteligente e rentável. Faltam comandantes, senhora ministra, não apenas para adotar a obviedade logística da cabotagem - que os ingleses transformaram em mecanismo eficaz de viabilização do Ciclo da Borracha, e que fez do Barão de Mauá um dos mais respeitados visionários e empreendedores deste Brasil. Falta comandante p ara entender e gerenciar a relação do Brasil consigo mesmo, sua parte maior e mais promissora que é a Amazônia, e dirigir essa embarcação monumental de integração que nos levaria a uma civilização nova e respeitada, livre das chacotas que as concessões e desilusões logísticas nos impõem.