Sábado, 23 Novembro 2024

Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)

Relatório preparado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), organismo criado em 1948 pelo Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ONU) para monitorar políticas de desenvolvimento na região, mostra que a situação da infraestrutura dos portos no Brasil não é diferente daquela que se vê no resto do continente. Ou seja, há uma indefinição quanto à infraestrutura que se quer para as próximas décadas, diante de uma realidade a que não se pode fugir: a região exporta hoje menos produtos de valor agregado que há quinze anos.

Diante disso, as autoridades latino-americanas, de um modo geral, não sabem se continuam a avançar na criação de uma infraestrutura para escoar commodities ou para exportar produtos de valor agregado. Até porque a tendência de cargas a granel que passam para contêineres parece ter chegado a um momento-limite e não deverá ir muito mais além.

Na verdade, apostar na expansão da infraestrutura para a exportação de matérias-primas significa admitir a submissão aos padrões impostos pelos países mais desenvolvidos, ou seja, aceitar como inevitável uma nova forma de colonialismo. Só que avançar na direção contrária pode significar também desperdício de investimentos na medida em que o continente passa hoje de uma fase de desindustrialização para uma total quebra das empresas. Basta ver que, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), a indústria brasileira de bens de capital vem apresentando resultados cada vez mais baixos de ocupação de sua capacidade instalada, chegando a 65,7% em maio de 2015.

Seja como for, segundo o relatório da Cepal, o que se tem hoje na América Latina é resultado de pouco investimento em infraestrutura portuária. Na década de 1980, esse investimento alcançou 4% do Produto Interno Bruto (PIB), mas na década de 1990 caiu para 2%, tendo ocorrido uma melhora para 3,7% ao final do século XX, o que levou muitos especialistas a imaginar que a substituição do investimento público pelo privado seria a solução. Só que essa substituição não ocorreu na medida em que se esperava e, atualmente, a demanda de transporte é maior que a oferta. Ou seja, lamentavelmente, os latino-americanos vivem hoje da infraestrutura deixada por seus avós. Com isso, é grande a possibilidade de que muitos navios de 10 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) comecem a chegar à América do Sul com muita capacidade ociosa.

Os números da Cepal mostram ainda que houve, na América Latina, de 2000 a 2013, um crescimento de 68% na construção de cais nos portos, passando-se de 13.600 metros para 22 mil metros. E que, em termos de volumes, no mesmo período, passou-se a movimentar de 4,39 milhões de TEUs para 24 milhões, com um aumento de 460% na produtividade. Se se tomar como parâmetro o ano de 1990, essa produtividade cresceu 770%. Hoje, porém, diante do atual quadro desfavorável e da falta de perspectivas, duvida-se que seja possível crescer nesse ritmo por falta de infraestrutura portuária suficiente.

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