Sábado, 23 Novembro 2024

Por Antonio Roque Dechen, Presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Professor Titular do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ/USP, Presidente da Fundação Agrisus e Membro do Conselho do Agronegócio (COSAG-FIESP). 

A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura) denominou o ano de 2015 como o Ano Internacional do Solo.  Diante disso, as instituições de ensino e de pesquisa do Brasil voltaram sua atenção para este imenso patrimônio que é o nosso solo.

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) adotou o tema: “A semente da vida está em nosso solo”, uma feliz escolha para a instituição agronômica pioneira em pesquisas sobre solos no Brasil. O IAC foi criado pelo Imperador D. Pedro II em 1887 em virtude de que, naquela época, a região do Estado de São Paulo enfrentava sérios problemas com a exaustão da fertilidade dos solos, posto que o Brasil não tinha acesso a fertilizantes (a primeira referência à importação de fertilizantes é de 1895, realizada por Pereira Barreto).

Entre os anos de 1876 e 1883 foram plantados 105 milhões de pés de café na região de Campinas, fazendo com que a região produzisse, em 1886, o equivalente a 15% de todo o café produzido no estado.  O cultivo continuo de café sem o manejo adequado estava exaurindo a fertilidade dos solos.

O primeiro diretor do Instituto Agronômico foi o alemão Franz Wilhelm Dafert, discípulo de Justus Von Liebig (Lei do Mínimo), qual teve a difícil missão de mudar paradigmas e implementar ações com embasamento técnico cientifico junto aos produtores para assegurar que os solos fossem manejados de forma correta e possibilitassem cultivos sucessivos na mesma área, ou seja, foi o responsável pela ação pioneira de sustentabilidade em solos brasileiros, merecendo destaque também a visão empreendedora e contribuição de D. Pedro II com a implantação de Institutos de Pesquisas Agronômicas em diversas regiões do Brasil e da criação da primeira Escola de Agronomia do Brasil, na Bahia, em 1877.

O Instituto Agronômico e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (fundada em 1901), são pioneiros em estudos dos solos em todas as suas vertentes, e em conjunto com a EMBAPA, e as Instituições estaduais de ensino e pesquisas, prestam valiosa colaboração à sociedade brasileira e mundial, já que os solos são a base da nossa produção agrícola.  O Brasil tem hoje uma produção agrícola expressiva: neste ano, está ultrapassando a barreira de produção de 200 milhões de toneladas de grãos, fazendo parte de um restrito grupo de países que produzem uma tonelada de grãos por ano por habitante.

Oportuna a escolha do tema: “A semente da vida está em nosso solo”, por uma instituição que já lançou 1020 cultivares de plantas das mais variadas espécies e realiza levantamentos detalhados de solos, tem laboratórios de análises químicas e física de solos, de análises de resíduos, todos  com ISO 17025, sendo certamente uma das instituições brasileiras que mais contribui para a paz, produzindo alimentos e combatendo a fome.  E como já disse John Boyd Orr, primeiro Diretor Geral da FAO, “Não se constrói a paz em estômagos vazios”.

Privilegiado o Estado que tem uma Instituição do porte do Instituto Agronômico, que implantado em Chão Fecundo (título do livro comemorativo do centenário da Instituição), continua lançando sementes às mãos cheias nos solos brasileiros, e como Instituição Pública tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento do País e qualidade de vida de todos nós.

Parabéns aos Pesquisadores e Funcionários, parabéns Instituto Agronômico por seus 128 anos em pesquisas que vão além dos horizontes do solo.

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