Fernando Sampaio é Diretor executivo da ABIEC e integra a Comissão Executiva do GTPS – Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável
No dia 5 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente. A criação desta data teve como objetivo a conscientização da população sobre os temas ambientais, principalmente aqueles que dizem respeito à preservação. Por meio de sua atuação sustentável, a pecuária brasileira vem contribuindo muito para o meio ambiente.
Mas a pecuária usa espaço demais e emite gases de efeito estufa demais pelo que entrega, dizem. Será?
A pecuária é capaz de transformar biomassa não comestível em um alimento de altíssimo valor nutricional e também capaz de ocupar terras que não são adequadas à agricultura. A criação de animais é essencial para a vida de cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo. Pastagens podem ser enormes sumidouros de carbono. O próprio índice usado para converter metano em equivalente carbono tem sido contestado por pesquisadores do porte de Gylvan Meira Filho, do Instituto de Estudos Avançados da USP e ex vice-presidente do Intergovernmental Panel on Climate Change(IPCC). A mudança neste índice mudaria completamente a participação da pecuária nas emissões globais. Portanto, a pecuária não é o problema, é uma aliada na solução do problema.
Não podemos esquecer que o Brasil tem uma história recente de ocupação territorial e a pecuária desempenhou inegável papel na expansão das fronteiras agrícolas brasileiras. O nosso país nasceu e cresceu com a pecuária. Bois ajudaram a definir as fronteiras do país. Quando a política incentivou a ocupação do território brasileiro, a pecuária foi a atividade econômica a abrir caminhos no sertão.
Novas tecnologias foram sendo incorporadas ao campo, a melhoria genética, pastagens mais produtivas, inovações em manejo sanitário e nutricional. A integração entre lavoura, pecuária e floresta, última palavra em tecnologia agropecuária tropical, mal começa a entregar suas imensas possibilidades de aumento de eficiência no campo. A incorporação de tecnologia na produção incrementou a produtividade de tal forma que, nos últimos 17 anos, a área de pastagens tenha diminuído no país ao mesmo tempo em que o rebanho, a produção e a exportação, foram fortemente impulsionados pelo mercado.
Nesse período, a pecuária passou a reduzir a área que ocupa, e ainda assim continua a aumentar sua produção. Entre os concorrentes, segundo estudo da Faculdade de Zootecnia da Universidade de São Paulo, o Brasil foi o que mais reduziu as emissões de metano para cada quilo de carne produzida nos últimos 20 anos, efeito colateral do aumento de eficiência. Ao mesmo tempo um alimento antes caro e escasso passou a ser acessível à imensa maioria da população brasileira, e a nossos clientes lá fora.
O desmatamento novo, transformado em pastagens, deriva muito mais da ausência do Estado e de sua incapacidade em gerir o próprio território nas regiões de fronteira agrícola e nas áreas com infraestrutura em expansão do que dá necessidade de novas áreas produtivas pelo setor.
Se por um lado o aumento da produtividade reduz a pressão por desmatamento, a lei do novo Código Florestal, e seus instrumentos, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) nacional e o Programa de Regularização Ambiental (PRA), sem paralelos no mundo, certamente ajudarão a vencer o desafio da gestão territorial.
A indústria representada pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), por sua conta, assumiu a responsabilidade de controlar sua cadeia de fornecimento estabelecendo critérios socioambientais na compra de gado e usando a mais avançada geotecnologia para criar o maior monitoramento privado do mundo na origem de sua matéria-prima, contribuindo, assim, diretamente para a redução do desmatamento na Amazônia.
Produzir mais com menos. É o que o Brasil tem feito. E este é um lema que tem levado os diferentes atores envolvidos com a pecuária a trabalharem juntos em busca de soluções para o grande desafio de conciliar produção, preservação e mudanças climáticas.
A própria Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO – sigla em inglês), em sua publicação Tackling Climate Change trough Livestock, reconhece a função da pecuária na mitigação de mudanças climáticas, e pilota a Agenda of Action, iniciativa global que atua na busca de consensos e soluções. Assim como atua a Global Roundtable on Sustainable Beef (Mesa Redonda Global sobre Carne Sustentável), iniciativa que reúne multinacionais, produtores, indústrias e ONG’s na formulação de princípios e critérios para uma pecuária sustentável.
No Brasil, o GTPS, Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável, entre inúmeras iniciativas, trabalha na disseminação de boas práticas de produção em diferentes regiões do país.
Sustentabilidade, nunca é demais lembrar, baseia-se em um tripé ambiental, econômico e social.
De um lado do mundo, pessoas estão comendo carne, algumas pela primeira vez, porque estão saindo da pobreza. Aqui, deste lado, pessoas têm a chance de sair da pobreza porque participam, direta ou indiretamente, de um sistema agroindustrial que movimenta 170 bilhões de dólares no país gerando emprego e renda em regiões carentes de oportunidades.
É claro que a atividade ainda tem muito a melhorar. Obviamente existem ainda desafios imensos pela frente, que envolvem o acesso a crédito e tecnologias na produção, a segurança jurídica, a gestão territorial, entre muitos outros.
Tendo como um dos seus pilares a melhoria contínua, o GTPS foi criado justamente para debater e propor soluções a esses desafios.