Engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
É flagrante a falta de competitividade da economia brasileira em razão dos fatores que formam o chamado custo Brasil, ou seja, alta carga tributária, encargos trabalhistas além da conta, excesso de burocracia nos portos e aeroportos, juros elevados, corrupção governamental, alto custo de energia, sobrevalorização do real e a ausência de uma política de comércio exterior menos errática. Mas nenhum desses fatores constitui obstáculo maior que a infraestrutura precária que o País oferece a quem quer produzir.
De fato, sem investimentos pesados na construção e modernização de rodovias, ferrovias, hidrovias e acessos a portos e aeroportos, além da ampliação da rede de armazenagem da safra de grãos, o País continuará condenado a apresentar ciclos curtos de crescimento, os chamados “vôos de galinha”. O resultado disso é que os produtos manufaturados brasileiros hoje, segundo cálculos do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), costumam ser, em média, 34% mais caros que os similares importados, o que acaba por inviabilizá-los tanto no mercado interno como no externo. E explica o fenômeno da desindustrialização por que passa o Estado de São Paulo, o mais rico e desenvolvido da Nação.
O que fazer? Talvez a única coisa que resta seja tocar um tango argentino, como recomendava o poeta Manuel Bandeira (1886-1968), sempre que se deparava com problemas insolúveis. Afinal, se o Brasil levou 86 anos para construir os atuais 220 mil quilômetros de rodovias, não se pode imaginar que seja capaz de pavimentar 700 mil quilômetros de rodovias até 2030. Nem que irá conseguir recursos para construir novas estradas, melhorar e fazer novos aeroportos, reduzir o caos portuário e ampliar a malha ferroviária, hoje muito abaixo de suas necessidades.
Afinal, estudo desenvolvido recentemente por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) concluiu que o País precisaria investir R$ 1,09 trilhão nos próximos 16 anos para melhorar sua infraestrutura de transportes de forma a diminuir a distância em relação à de países com "grande competitividade econômica" e de dimensões continentais, como a China, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Ou seja, R$ 607 bilhões deveriam ser investidos em rodovias, R$ 364 bilhões em ferrovias, R$ 85 bilhões em portos e R$ 33 bilhões em infraestrutura aeroportuária.
Para se ter uma ideia do tamanho do investimento, basta lembrar que economia do Brasil tem um Produto Interno Bruto (PIB) nominal avaliado em R$ 4,14 trilhões. Logo, é fácil concluir que, sozinho, o governo jamais conseguirá investir em infraestrutura na mesma velocidade que a economia necessita, o que significa que a participação da iniciativa privada, inclusive de capitais estrangeiros, será cada vez mais necessária.
Nesse sentido, talvez uma alternativa seja copiar o exemplo da Grécia, que concedeu à empresa chinesa Cosco o direito de operar dois dos três terminais de contêineres do porto de Piraeus. O resultado é que o território grego está virando um centro de transporte regional na Europa.