Especialista em turismo e sócio-fundador da Encontre Sua Viagem, franquia de turismo
Passadas a euforia e a ostentação que sucedeu o boom econômico da Ásia e de outros países do Leste, o novo segmento da população que ascendeu ao mercado de luxo representa um desafio às marcas turísticas no mundo todo. Esse consumidor aprende o conceito “turismo de luxo” sobre outra perspectiva: menos ostentação e glamour e mais exclusividade e experiências culturais, com consciência ambiental e responsabilidade social.
De fato, várias marcas de luxo lançadas recentemente têm optado por um enfoque mais dirigido a novos estilos de vida que a aparências de riqueza. Nesse segmento, podemos mencionar, por exemplo, o Emoya Luxury Hotel and Spa, na África do Sul, cuja principal atração é o Shanty Town. Trata-se da reprodução de uma favela, não mais que um barraco com os mesmos materiais das moradias originais da região, mas que, ao contrário do tradicional, dispõe de sistema de aquecimento e acesso a internet.
Há também agências que oferecem hospedagens em aldeias indígenas, iglus, mansões excêntricas, cápsulas subterrâneas e muitas outras opções exóticas que podem ser encontradas no portal Hotels Unusual of the World. O fator preço não é um limitador. Os mediadores desses pacotes concordam que o preço alto é, na verdade, uma demanda relevante na definição do luxo.
Ele será o limiar ao público alvo, indicativo de qualidade, exclusividade e diferenciação social. Conforme aponta o relatório da pesquisa “World Travel Market Trends Report”, da Euromotor, o gasto médio desse turista, em cada viagem, é cerca de 20 mil dólares, em comparação aos 2,5 mil dólares do turista tradicional. Estudos da Organização Mundial de Turismo (OMT) e da International Luxury Travel Market (ILTM) apontam que o turismo de luxo movimenta 3% do volume total e 25% da receita do setor de turismo mundial.
Dada as dimensões desse mercado e o montante de dinheiro que circula nele, há muita gente querendo abocanhar uma parte desse bolo e, por isso, a concorrência é cada vez mais acirrada. Por este motivo, os agentes têm investido na personalização dos serviços, ditada pela criação de uma relação pessoal baseada na confiança entre fornecedor e viajante e, muitas vezes, mediada pelas mídias sociais.
Sairá na frente aquele fornecedor que estabelecer parcerias para o desenvolvimento de novos produtos, a fim de manter a visibilidade e garantir a perfeita coordenação dos serviços, desde os planos de transporte, acomodações, serviços de transfer e passeios. Dessa maneira, as possibilidades de se manter no mercado são expressivas. De acordo a uma pesquisa realizada pela Luxury Marketing Council, os clientes de luxo tendem a ser mais fiéis aos seus prestadores de serviços e são importantes veículos de propaganda “boca a boca”.
Para o Brasil, as perspectivas são animadoras. A expectativa é de que o mercado de luxo cresça 25% nos próximos anos. O que é plenamente respaldado por uma população de mais de 170 mil milionários no país (a maior da América Latina) e por dados que apontam que somos um dos países favoritos a despontar como destino diferenciado nos próximos anos, de acordo ao relatório da Pangea Network.
O Brasil já possui pousadas e hotéis reconhecidos por publicações renomadas como Condé Nast Traveller e possui interesse em expandir a escala de empreendimentos de luxo. Melissa Oliveira, presidente da Brazilian Luxury Travel Association (BLTA), que tem 23 hotéis associados, diz que a expectativa é dobrar o número de empreendimentos de luxo do grupo. Além disso, temos credenciais que recompensam com folga o investimento que possa ser requerido: o país é número um do mundo em riquezas naturais e o 23º em riquezas culturais. No entanto, infraestrutura e mão de obra qualificada ainda não os acompanham no mesmo passo.
Trata-se da remodelagem do termo “luxo”. A insígnia, antes vazia, plena de ostentação e aparência, agora se mune de conhecimento e experiências inovadoras, também.