Por Rafael Cervone, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e presidente em exercício do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp)
Com apenas 1.347 reais, cada um dos cerca de três milhões de mutuários da primeira e da segunda fase do programa Minha Casa, Minha Vida poderia adquirir um conjunto completo de tolhas de banho, rosto e mesa, cobertores, lençóis, travesseiros e fronhas, além de tapete e cortina para a sala de estar, num total de 38 itens. O cálculo é referente a quatro pessoas por residência e se baseia em estatísticas da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex) e do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV).
Considerando a elevada importância desses produtos, essenciais para a saúde, conforto e bem-estar das pessoas, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) está propondo ao Governo Federal a sua inclusão no Minha Casa Melhor, ao lado dos equipamentos eletroeletrônicos, linha branca e móveis, já contemplados nesse programa. Segundo a proposição da entidade, a compra do chamado Kit Têxtil e o número de peças seriam facultativos, atendendo à livre escolha das famílias. Estas, entretanto, passariam a contar com a alternativa de adquirir, por meio do programa, itens prioritários para a sua nova casa.
De acordo com cálculos que fizemos na ABIT, com base em dados e números da última Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD), Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), ambas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI), é de 252 reais o gasto médio anual das famílias brasileiras com renda de até cinco mil reais (limite de elegibilidade do Minha Casa Melhor) com artigos têxteis para o lar.
Multiplicando-se esse valor pelos três milhões de mutuários das duas primeiras etapas do Minha Casa, Minha Vida, temos um mercado interno potencial de aproximadamente 760 milhões de reais por ano, o equivalente a cerca de 590 mil kits têxteis referenciais. Portanto, em dois anos, o orçamento do programa Minha Casa Melhor referente às roupas de cama, mesa banho, cortinas e tapetes seria de 1,5 bilhão de reais, gerando 54 mil empregos diretos. Trata-se de um volume expressivo.
Caso a aquisição dos produtos têxteis por meio do programa abranja apenas produtos nacionais, o que seria garantido já no cadastramento dos canais de distribuição no Minha Casa Melhor, a medida, além de contribuir para a qualidade da vida de milhões de habitantes em todo o Brasil, estimularia uma indústria constituída por 32 mil empresas, numerosas delas pequenas e médias, e empregadora de 1,7 milhão de pessoas. Tal incentivo é ainda mais relevante se considerarmos que esse parque fabril e a sua mão de obra intensiva estão distribuídos praticamente em todo o território nacional.
Além disso, o setor têxtil e de confecção é um dos que foram mais atingidos na economia brasileira, a partir da crise internacional desencadeada em 2008, pela paulatina perda de competitividade da manufatura ante a investida de concorrentes estrangeiros, nem sempre pautados pelas práticas comerciais inerentes ao capitalismo democrático. Assim, neste momento em que o Governo Federal está lançando a terceira etapa do programa Minha Casa, Minha Vida, é bastante oportuna a criação do Kit Têxtil. Este conjunto referencial de produtos complementaria o leque de opções para que os mutuários das duas etapas anteriores e os novos tenham suas residências totalmente equipadas e funcionais.