José Maria Mendonça, vice-presidente da Fiepa e presidente do CIP e presidente da Comissão de Energia FIEPA/CIP
De muitas formas pode se falar de água. Seus benefícios são uma dádiva nos dada por Deus. Como engenheiro, vou tentar explicitar a minha opinião, já defendida por diversas vezes em fóruns privados, e hoje, externá-la publicamente. É óbvio que estará sujeita a críticas e a entendimentos maledicentes, porém, me julgo no dever de assim proceder.
Desejo falar de água como fonte de energia, mais precisamente, elétrica. Preocupa-me esta decisão, que no meu ponto de vista é insensata, de construir no Brasil, particularmente na Amazônia, hidrelétricas a fio de água, diminuindo de forma brutal nossas reservas desse precioso líquido. Um pequeno dado para subsidiar minha preocupação: há trinta anos tínhamos uma reserva de água para geração de energia para dois anos, hoje, com o crescimento do consumo e a diminuição dos reservatórios, não temos para seis meses e continuará declinante, se algo não for feito para reverter esta tendência.
Vejo com muita tristeza esta discussão extremamente apaixonada e pouco técnica sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu. Tecnicamente também não gosto do projeto, penso que no futuro vamos nos arrepender desta decisão de construirmos um reservatório tão pequeno de 516 km² e ficarmos com o eterno custo e preocupação de mantermos água em um trecho do rio que poderá ficar seco.
Em minha opinião, o projeto com o reservatório de 1226 km² era mais viável economicamente e ambientalmente. Desta forma, levo à discussão de nossos ambientalistas, pois foi por sua pressão que ocorreu esta diminuição do reservatório, já que existiam várias soluções mais benéficas para a população do entorno do lago, embora com esta ressalva, sou totalmente favorável a sua construção imediata, pois será a reafirmação da opção por uma energia limpa.
Vejo com tristeza o quanto o paraense critica a hidrelétrica de Tucuruí, e segundo estes críticos, seus eternos problemas. Iremos refletir por um minuto e imaginar o Estado do Pará sem Tucuruí, ou teríamos um número enorme de termelétricas a óleo, poluindo nossa região ou estaríamos parados no tempo. Repito: os formadores de opinião são injustos, ressaltando os problemas e esquecendo os incríveis benefícios, sobretudo por ser uma energia limpa, não poluidora do meio ambiente.
A matriz energética do Brasil é predominantemente limpa e assim tem de continuar. O que ocorreu agora no Japão tem de ficar em nossa memória, temos água na Amazônia e ventos no Nordeste. Disse um climatologista, em um congresso de que participei em São Paulo, que em anos de muitos ventos, pouca água e em anos de poucos ventos, muita água; isto quer dizer para nós, engenheiros, que a energia eólica (dos ventos) e a hidráulica (das águas) são complementares, só que não conheço reservatório de vento e sei que todos nós conhecemos reservatório de água. Aí vai minha insistência em aumentarmos nossas reservas de água, pois é a forma mais segura de estocar energia, nossos netos nos agradecerão.
Por fim, deixo a minha opinião com o único objetivo: de fazermos a nossa sociedade, como um todo discutir este assunto, procurando o que é melhor para o povo brasileiro e deixemos de lado o egoísmo que às vezes nos faz parar no tempo.