Quem tem, como eu, o hábito de ler jornais e não se toca no carnaval, sofre duplamente a passagem da cinquena momesca: abundam as fotos e escasseiam as ideias. As pautas, já pobres, ficam paupérrimas.
Tive duas agradáveis surpresas este ano.
Na segunda-feira, Miguel Torres, presidente da Força Sindical e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi ocupou o espaço nobre de Tendências/Debates da Folha de S. Paulo com um artigo em que criticava a afoiteza de setores do governo que pretendem com uma legislação nova criminalizar os que protestam.
A provocadora pergunta “A volta do AI-5?” feita por Miguel, nem merece resposta. O que se espera é que, com inteligência, se abandone qualquer veleidade repressiva nova que apenas complica um quadro preocupante, mas não assustador. Afinal, como ele diz, “a Força Sindical defende manifestações de rosto limpo, como faz há 25 anos”.
E na terça-feira, em O Globo, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, contrapõe-se no Tema em Discussão, à própria opinião do jornal que, defendendo a desindexação urgente, ataca a política de correção do salário mínimo. Vagner pergunta “Quem tem medo?” e, ao mesmo tempo em que desmascara os argumentos aparentemente polidos contra o salário mínimo, reafirma os efeitos positivos dos reajustes em toda a economia e na sociedade.
Embora tratando de temas díspares, com abrangências diferentes, ambos, Miguel e Vagner, em seus argumentos ressaltam o papel dos sindicatos e das centrais, seja na conquista de reajustes salariais nas campanhas das categorias, seja na conquista do salário mínimo “um dos maiores processos de negociação coletiva de trabalho no mundo”.
Afinal de contas, consegui ler algo sério nos jornalões durante o carnaval.