Quinta, 28 Agosto 2025
Opinião | Andréa Simões
Diretora de Gente, Cultura e Transformação Digital da Informação na Log-In Logística Integrada, grupo de soluções logísticas, movimentação portuária, navegação de Cabotagem e Mercosul, além de atuação na ponta rodoviária.
Andréa Simões

De acordo com dados do Ministério da Previdência Social (MPS), em 2024 foram registradas mais de 472 mil licenças médicas concedidas para afastamentos de trabalho por ansiedade e depressão, registrando um crescimento de 68% em relação ao ano anterior e destacando-se como o maior número desde 2014. Esse cenário impacta diretamente o setor logístico, que depende de equipes operacionais e administrativas em constante ritmo de produtividade e coordenação. A saúde mental, portanto, vem deixando de ser uma pauta apenas de recursos humanos para se tornar um fator determinante de eficiência, segurança e continuidade dos serviços.

Com a recente revisão da Norma Regulamentadora 1 (NR-1), cuidar da saúde mental dos colaboradores deixou de ser uma opção para as empresas e tornou-se obrigação legal. A principal alteração da norma está em exigir que os riscos psicossociais passem a integrar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), promovendo uma mudança significativa ao incluí-los entre as responsabilidades obrigatórias das companhias. O descumprimento pode gerar multas, fiscalizações, interdições e até responsabilizações trabalhistas, civis e criminais, colocando em risco a continuidade das operações.

No entanto, diante destas mudanças, setores de alta pressão, estão diante de um marco regulatório que além de impor desafios, revela oportunidades para transformar a gestão de pessoas em uma vantagem competitiva. Essa exigência abre espaço para uma mudança cultural onde organizações que investem em prevenção, em protocolos de acolhimento e na capacitação de líderes, colherão resultados não apenas em conformidade legal, mas também em eficiência operacional.

Para isso, saúde mental e produtividade não podem ser vistas como dimensões separadas, colaboradores emocionalmente equilibrados são mais engajados, resilientes e colaborativos, qualidades fundamentais para lidar com a complexidade operacional em setores que exigem precisão e agilidade, como é o caso do setor logístico.

Saúde mental e logística de alto desempenho

Na navegação, as equipes em terra e a bordo devem ser treinadas para identificar sinais de esgotamento mental e atuar de maneira humanizada. Nesse contexto, canais de escuta ativa e sigilosos cumprem um papel essencial ao permitir que colaboradores relatem dificuldades sem receio ou estigma.

Diante disto, a revisão da NR-1 pode ser um divisor de águas para o setor. Ao incorporar o cuidado com a saúde mental às práticas de gestão, as empresas deixam de tratar o tema como despesa e passam a reconhecê-lo como investimento estratégico, capaz de gerar eficiência, segurança, além de outros diferenciais competitivos em um mercado cada vez mais exigente.

O desafio cultura, entretanto, permanece, já que o setor logístico, tradicionalmente, valoriza a resiliência e a resistência emocional, o que ainda dificulta a abertura de espaço para a vulnerabilidade e para o diálogo sobre saúde mental. A revisão da NR-1 exige justamente o oposto, líderes preparados para escutar, acolher e intervir preventivamente. No entanto, romper esse estigma requer tempo, consistência e investimentos estratégicos para prevenir crises, reduzir acidentes e manter colaboradores saudáveis, protegendo a competitividade das operações.

Mudanças e efeitos

As alterações não devem ser encaradas apenas como um desafio regulatório, mas como uma oportunidade de repensar a maneira como as empresas cuidam das suas equipes. Afinal, tratar a saúde mental como um pilar estratégico, e não apenas como cumprimento de lei, é reconhecer que produtividade e bem-estar estão intrinsecamente conectados. Diante disto, a revisão da NR-1 torna-se um convite para repensar a cultura organizacional, integrar a prevenção de riscos psicossociais à gestão estratégica e reconhecer que cuidar das pessoas é também cuidar da operação.

A implementação de programas contínuos de suporte à saúde mental, que tragam acolhimento e encaminhamento individualizado, e campanhas de conscientização com workshops, são opções que promovem a cultura do autocuidado e desmistificam tabus relacionados à saúde mental. Além disso, com a evolução digital, a coleta e a análise de dados, são considerados pontos fundamentais para monitorar o impacto das ações, permitindo ajustes estratégicos e demonstração dos benefícios para a empresa e os colaboradores.

A adequação, também requer o avanço de programas com a finalidade de contemplar riscos físicos e psicossociais de forma integrada, reforçando a prevenção e a capacitação. Por isso, para que empresas se adaptem a revisão da norma, é importante visar a estruturação deste modelo de programa como uma oportunidade para consolidar iniciativas voltadas especificamente ao cuidado mental, estimulando a saúde física, emocional e social.

Da prevenção ao resultado concreto

Essas iniciativas, quando integradas, trazem impactos positivos e resultados perceptíveis, isto porque indicadores como absenteísmo e clima organizacional, por exemplo, tendem a apresentar melhora. Quando priorizado um trabalho baseado em dados, acompanhamento contínuo e ajustes estratégicos, esse ciclo não só atende às exigências regulatórias, como também fortalece a cultura da empresa e a confiança dos colaboradores.

Para organizações que ainda não sabem por onde começar, é viável entender que não é preciso iniciar com grandes estruturas, desde que exista espaços de diálogo e escuta. A criação de canais acessíveis é um primeiro passo importante para valorização do bem-estar das equipes. Com consistência, apoio especializado, treinamentos e integração, essas ações evoluem e se consolidam como programas robustos e iniciativas estruturadas.

Empresas que investem em programas internos de desenvolvimento, capacitando lideranças e incorporando métricas de bem-estar em sua gestão, atendem à lei, e conquistam equipes mais engajadas e colaborativas, com resultados sustentáveis, e isso inclui também o aspecto financeiro. Afinal, cuidar da saúde mental daqueles que fazem parte do setor logístico é investir na força humana que move toda a cadeia de todos as indústrias.

Andréa Simões

Diretora de Gente, Cultura e Transformação Digital da Informação na Log-In Logística Integrada, grupo de soluções logísticas, movimentação portuária, navegação de Cabotagem e Mercosul, além de atuação na ponta rodoviária.

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