Quinta, 26 Dezembro 2024

Thiago CardosoPor Thiago Cardoso, Diretor de Agronegócio da Nstech

O transporte é uma das etapas mais complexas – e caras – da logística de grãos, representando em média 15% do valor final do produto, podendo variar para mais ou para menos a depender da rota e distância percorrida. Essa despesa só fica atrás dos custos de produção em si.

O escoamento de grãos das regiões produtoras para as agroindústrias ou para os portos se faz predominantemente pelo modal rodoviário. Estima-se que 65% dos grãos no Brasil sejam movimentados por rodovias.

Sendo assim, o alto custo dos combustíveis e dos pedágios, que somados representam até 60% do custo de transporte, tem impacto direto no valor do frete. Por isso, é essencial que o setor encontre alternativas eficientes de fazer a gestão dessas contas, visando otimizar os gastos com pedágio e buscar eficiência nas melhores rotas a serem percorridas.

Dessa forma, na tentativa de mitigar os custos logísticos, deve-se buscar meios para otimizar as rotas e aperfeiçoar a gestão das despesas com pedágio.

Quantas estradas são pedagiadas no Brasil?

O Brasil lidera o ranking mundial de concessões da malha viária à iniciativa privada. São 461 praças de pedágio distribuídas nos estados brasileiros, conforme listado na tabela abaixo. Na tabela também é possível visualizar os valores máximos e mínimos das praças de pedágio, considerando uma carreta de 6 eixos, principal veículo utilizado no transporte de grãos.

A partir dessas informações é possível observar que a passagem por praças de pedágio se faz presente em diversos fluxos de escoamento de grãos, seja em viagens até os portos ou nas rotas de abastecimento de regiões agroindustriais, evidenciando a necessidade de controle e gestão dos pedágios através de ferramentas que permitam o controle de ganhos e perdas.

Em 2023, segundo projeção da CNT, o setor de transportes gastou cerca de R$ 25 bilhões com pedágios no Brasil. O valor representa cerca de 2% do custo total do transporte no país.

Vale lembrar que embora o pedágio represente parte dos custos de transporte, sua aplicação tem como objetivo trazer benefícios como rodovias mais seguras e melhores condições para as estradas.

Impacto do pedágio no transporte de cargas

O valor do pedágio para caminhões varia de acordo com diversos fatores, como:

Eixo do veículo: caminhões com mais eixos pagam mais caro.

Distância percorrida: o custo total aumenta de acordo com a distância percorrida e o número de postos de pedágio no caminho.

Valor das tarifas de pedágio: as tarifas de pedágio variam de acordo com o estado, a região e a concessionária responsável pela rodovia.

Tipo de rodovia: o valor do pedágio pode ser diferente para rodovias federais, estaduais e municipais.

Como melhorar a gestão dos pedágios no transporte de grãos

A evolução constante da tecnologia traz inúmeras possibilidades de melhoria para o transporte de cargas, desde a segurança das operações até a gestão de frotas e, principalmente, novos meios para a redução de custos.

Um dos sistemas defendidos pela gerência de regulação rodoviária da Superintendência de Infraestrutura Rodoviária da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) é o free flow, um método de cobrança de pedágio que leva em conta a distância percorrida pelo caminhão.

O funcionamento não requer praças de pedágio fixas, já que o sistema opera por sistemas instalados ao longo das rodovias. O método é capaz de fazer a identificação automática e eletrônica dos veículos, melhorando o fluxo nas rodovias e otimizando o consumo de combustível.

Estados Unidos e China utilizam o free flow há algum tempo e, no Brasil, a Lei 14.157/2021 autorizou a implantação do sistema de pagamento do pedágio por leitura de tag ou placa do veículo.

No entanto, nos locais em que o modelo de cobrança free flow já está implantado foram observadas dificuldades de gestão e cobrança em detrimento da não utilização das tags.

O resultado é o alto índice de não pagamento das tarifas nas praças em teste. Dessa forma, o aumento da utilização das tags por parte dos usuários das rodovias se faz necessário para corroborar com o sucesso na implantação do free flow.

Outras soluções para reduzir os gastos com pedágio

Enquanto o free flow não é usado em larga escala no Brasil, outras soluções tecnológicas atuam com eficiência na redução de custos logísticos com pedágio e combustível.

Entre elas estão os sistemas de roteirização (plataforma que escolhe as melhores rotas e identifica as praças de pedágio no trecho) e os sistemas de pagamento eletrônico de pedágio.

Roteirizadores

Um sistema eficiente e moderno de roteirização é capaz de otimizar os custos com o transporte de grãos, incluindo as despesas de pedágio. Isso ocorre porque a tecnologia mapeia os pontos onde estão localizadas as praças de pedágio e indica os melhores percursos.

Calcular a distância e a quilometragem é apenas uma das atribuições da gestão de transportes. Garantir a segurança das viagens, a economia de combustível e reduzir outros ofensores que oneram o serviço entram na lista de vantagens da roteirização bem feita.

A otimização das rotas avalia a qualidade das estradas, identifica trechos pavimentados, serras, pistas simples, índice de acidentes por rodovia e riscos de tombamento.

Também identifica os horários e locais mais suscetíveis ao roubo, sinaliza restrições de tráfego, calcula o tempo médio de deslocamento, mapeia os melhores pontos de parada e abastecimento, estima entregas e indica os postos de pedágio e fiscalização.

No transporte de cargas, esse tipo de informação vale ouro, especialmente quando é essencial conciliar a segurança das viagens com a qualidade das entregas e os custos envolvidos.

Pagamento automatizado de pedágio

O sistema de pagamento eletrônico de pedágio (VPO) é outra ferramenta para garantir a praticidade e a segurança nas rodovias, assim como facilitar o gerenciamento dos pagamentos.

Obrigatório por lei (10.209/2001), o vale-pedágio determina a responsabilidade dos embarcadores (contratantes do serviço de transporte) no pagamento dos pedágios.

A medida atendeu a uma reivindicação dos caminhoneiros autônomos e normatizou a utilização do vale-pedágio como meio de pagamento das despesas de deslocamento de cargas pelo modal rodoviário.

As empresas fornecedoras de vale pedágio obrigatório (VPO) devem ser habilitadas pela ANTT e aceitas em todas as praças de pedágio (federais, estaduais ou municipais).

Desconto nos valores de pedágio pagos via TAG

O uso de tags eletrônicas nos veículos tem crescido cada vez mais e a maior parte das transações realizadas em todo o país é destinada ao uso em pedágios, o que, automaticamente, já garante 5% de desconto sobre o valor praticado em 85 pedágios de diversas rodovias federais (27) e estaduais (58).

Uma das formas de conseguir a diminuição na tarifa é através do Desconto Básico de Tarifa (DBT), uma prática determinada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), também seguida por agências reguladoras estaduais.

O DBT oferece o benefício a motoristas que têm o dispositivo eletrônico no veículo, incentivando o uso deste meio de pagamento para promover melhorias no fluxo das rodovias.

Assim, ao passar por faixas de cobrança automática das praças convencionais de pedágio ou pelos novos pórticos free flow (fluxo livre), os veículos com tags de pagamento ativas já garantem economia extra sobre as taxas praticadas.

Os trechos de pedágios que contam com esses descontos estão em rodovias dos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Como vimos, o transporte de grãos é uma etapa logística complexa e com custos elevados, mas o uso de tecnologias é capaz de facilitar as rotinas, aumentar a eficiência das operações e melhorar a competitividade.

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*Todo o conteúdo contido neste artigo é de responsabilidade de seu autor, não passa por filtros e não reflete necessariamente a posição editorial do Portogente.

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