Sexta, 22 Novembro 2024

Eneas Zamboni* CEO da UX Group

O home office foi um importante aprendizado deixado pela pandemia. Afinal, antes dela, havia muitas dúvidas se ele realmente seria viável; se os colaboradores se adaptariam e se os resultados se manteriam os mesmos. Diante da necessidade do isolamento social, percebeu-se que ele não apenas funcionaria como traria muitos benefícios, entre eles mais qualidade de vida e maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

A pandemia acabou e muitas empresas do setor de tecnologia optaram por manter seus funcionários em casa -- seja por economia ou por comodidade. Porém, mesmo sendo favorável à prática do home office, observo que ele tem um ponto bastante negativo e que acarreta em inúmeras questões: a falta de contato pessoal. Uma reunião online não substitui uma reunião presencial na sua integralidade. Ela pode sim ser muito útil nos momentos em que não é possível estar junto, pela distância, para evitar trânsito e por muitas outras razões, mas em algum momento o contato presencial se torna necessário.

Especialistas dizem que a interação corporal com o próximo é parte de nossa forma de vida como Homo Sapiens; isso está em nosso DNA social, que é moldado por nossas experiências quando crianças. É como se encontrássemos o caminho de volta a estas formas básicas de comunicação. Pesquisas mostram claramente que, quando nossa espécie interage com outros mamíferos, ambos os lados se beneficiam -- esta constatação está no livro Homo Hapticus, do autor Martin Grunwald, professor de Psicologia e chefe do Laboratório de Háptica da Universidade de Leipzig, na Alemanha.

Esta pode ser uma das explicações para a alta incidência de problemas ligados à saúde mental dos colaboradores que atuam no regime remoto. Em uma pesquisa realizada no LinkedIn sobre ansiedade, estresse e depressão de trabalhadores que fazem home office, cerca de 62% dos entrevistados se sentem mais ansiosos e estressados com o trabalho após a pandemia; 39% se sentem solitários; 30% sentem estresse pela falta de momentos de descontração proporcionados pelo ambiente de trabalho e 20% se sentem inseguros por ter dificuldades em saber o que está acontecendo com seus colegas de trabalho e com a empresa. Esta é uma preocupação pungente, que vem levando os setores de RH a buscar respaldo médico para apoiarem suas equipes.

Outro ponto negativo é que o contato virtual como único meio de comunicação cria uma atmosfera de desconexão entre o time, sentimento que pode evoluir facilmente para um descontentamento geral com a empresa. Entre os funcionários mais jovens, a perda acaba sendo maior. A falta de socialização faz com que os estagiários e trainees sintam mais dificuldades ainda no trabalho remoto, o que exige ainda mais estratégias para orientar e também reter os talentos. Ou seja, um cenário bem desafiador para as empresas.

Sendo assim, os gestores devem estar cada vez mais atentos às necessidades de seus funcionários e também criarem estratégias para ajudar líderes a fortalecerem as relações no ambiente de trabalho. Não é fácil. E acredito que isso pede oportunidades de reunir as pessoas, como fazíamos no modelo tradicional.

Por fim, acredito que o home office é muito bom para determinadas situações: quando o colaborador reside muito longe e necessita de muitas conduções para chegar ao trabalho; ou quando possui filhos e há necessidade de fazer malabarismo para poder cumprir sua responsabilidade enquanto pai ou mãe; e principalmente, quando já possui uma carreira estabelecida e não necessita de orientação e supervisão constante.

Há casos em que o trabalho remoto é uma verdadeira "mão na roda", mas creio que não há uma regra de que ele sempre será positivo. Cada caso precisa ser avaliado: cada equipe, cada perfil de profissional, cada projeto. Afinal, flexibilidade também é isso, pensar nas individualidades para chegar a um modelo que funcione para todos. Mas uma coisa é certa: estar junto é sempre positivo.

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