Antônio Carlos Amazonas Salles, diretor na Ctrl+Play
O processo de transformação digital já se faz presente no mundo há alguns anos e nos traz novos desafios, tendências, e nos leva a repensar a forma como agimos em nossa vida privada e pessoal. São inquestionáveis os benefícios da tecnologia: a comunicação ficou muito mais fácil e o acesso às notícias e informações ficou mais fluente, a alguns toques na tela. Porém, nem tudo são flores.
Apesar de toda a facilidade e comodidade que as novas ferramentas nos proporciona, a verdade é que muitas pessoas não as usam corretamente ou mesmo não fazem parte de sua realidade social. Para se ter uma ideia, no Brasil, enquanto ainda discutimos o analfabetismo funcional, as atenções de outros países já estão voltadas para um novo problema educacional: o analfabetismo digital.
O relatório anual “The Inclusive Internet Index 2019”, elaborado pela revista britânica The Economiste patrocinado pelo Facebook, avaliou recentemente como a internet contribui positivamente para melhorar fatores socioeconômicos em nível global. O Brasil aparece na 31ª posição no rankinggeral de 100 países, que avalia preparo, facilidade de acesso, disponibilidade e relevância da internet em nível global. No quesito de preparo, que abrange as categorias alfabetização, confiança e segurança no uso da internet e políticas de incentivo do uso da web, o país ficou nas posições 66ª, 21ª e 50ª, respectivamente.
Infelizmente, os dados mostram que nosso país ainda tem seu avanço travado pelo nível de preparo e educação digital. Nesse contexto, gosto de destacar o conceito “Cidadania Digital”, que é o uso responsável das tecnologias pelas pessoas. Como cidadãos, temos o direito e o dever de saber usar corretamente as inovações tecnológicas que surgem ao nosso redor, mas nem todos se relacionam com as informações da internet. Ou pior: alguns têm fácil acesso à tecnologia, mas não a usa adequadamente e, por isso, confiam facilmente no que é dito nas plataformas online.
E aí digo um dos pontos que entristece nós educadores: uma das posições mais altas alcançadas pelo Brasil no ranking da The Economist foi o nível de confiança em informações compartilhadas em redes sociais. Enquanto ficamos em 4º lugar nesse quesito, a Suécia tem uma população mais desconfiada e ficou em 62º lugar. Ou seja, ainda não somos alfabetizados quando o contexto é a confirmação da veracidade dos fatos noticiados no meio digital.
Espero, de verdade, que nos próximos anos esses índices mudem. Afinal de contas, em uma sociedade cada vez mais dependente da tecnologia, o futuro não pertencerá mais aos que sabem usá-la, mas sim àqueles que podem geri-las.Para isso,temos um longo caminho para percorrer para que o exercício da Cidadania no ambiente virtual ocorra para todos. Portanto, enfatizo a necessidade de que a educação tecnológica aconteça ainda na infância, para que nossas crianças não usem as novas ferramentas somente como um passatempo, mas também como uma poderosa ferramenta de inclusão e desenvolvimento socioeconômico.