Carolina Cabral é sócia-diretora da Nimbi, especialista em tecnologia para a cadeia de suprimentos
A área de compras sempre foi considerada parte executora dentro do operacional, e muitos gestores não tinham a exata consciência da importância do setor para o resultado financeiro da companhia. A evolução das tecnologias, sobretudo as consideradas 4.0, estão modificando esse panorama. Grande parte dos profissionais de procurement afirmam que a transformação digital vai mudar o futuro da área nos próximos anos, de acordo com um estudo realizado pelo The Hackett Group.
Gestores, líderes e profissionais em geral da área de compras já adotam na rotina diária tecnologias que permitem aperfeiçoar o processo, seja pela implementação de ferramentas que utilizam recursos como computação em nuvem e inteligência artificial, ou mesmo com a adoção de metodologias ágeis na gestão dos indicadores com vista à sua otimização. O objetivo é buscar cada vez mais o cenário no qual redução de custo e ganho de produtividade caminhem juntos.
Com esse diagnóstico, já é possível observar reestruturações cada vez mais estratégicas, contando com profissionais capacitados e com tecnologias para suportar esse novo cenário. Com as ferramentas adequadas, é possível aplicar as melhores práticas e fazer a gestão destas. Com isso, permite-se que todo o processo se torne mais ágil e simples. Alguns benefícios da utilização da tecnologia são agilidade nos processos, respeito às melhores práticas de governança (compliance) e aumento de produtividade.
Algumas das mudanças observadas com essas evoluções impactam a relação dos compradores com seus parceiros e fornecedores.
Negociações estratégicas
Com as tecnologias adequadas, pode-se estruturar a troca de informações entre compradores e fornecedores ao longo do processo. Seja por meio de um marketplace ou por intermédio de parceiros homologados da rede privada do comprador. Com a ferramenta certa, cria-se processos de sourcing que permitem realizar diversas modalidades de leilão, além de solicitar informações, cotações e propostas ao mercado. Deste modo, o comprador define a dinâmica do bid, desde a identificação do melhor fornecedor (qualitativo) como também da melhor oferta (quantitativo).
Certificação e homologação
Encontrar, validar e homologar parceiros, além de verificar informações financeiras e jurídicas dos fornecedores, são requisitos fundamentais para atender às melhores práticas de governança corporativa e de compliance. Com o uso da tecnologia, a implementação desses processos se tornou muito mais ágil. A organização das informações por marcadores, status, segmentos ou qualquer informação cadastral se dá de forma automatizada. Mais do que isso, realizar um processo de homologação de forma transparente permite que o fornecedor tenha acesso a todas as informações online, bem como o comprador.
Redução de custos na operação
O uso da tecnologia na gestão de compras das companhias ajuda na simplificação dos processos, sobretudo por reduzir telefonemas, troca de e-mails, redigitação e tabulação de informações, entre outras atividades comuns. Todas essas ações passam a ser realizadas de forma automática. É possível notar também a redução do custo de aquisição e de processamento de uma compra. Esse resultado permite analisar todos os custos envolvidos pela área e também de todos os KPIs apurados de forma estruturada e em tempo real. A melhora da relação com os fornecedores se torna evidente, principalmente no que diz respeito à transparência.
Se a tecnologia já apresenta diversas inovações para o setor de compras das companhias, existe, por outro lado, desafios a serem superados e o principal deles é o da mudança cultural. A reatividade normalmente existe pelo desconhecimento dessas tecnologias e não entendimento de como essa mudança é estratégica e benéfica para a empresa. Esse processo de convencimento vem junto com a evolução presenciada no setor de compras.
O setor está vivendo um momento em que as empresas não estão levando em consideração apenas o preço, mas sim os riscos, a performance e o compliance. Com isso, as tecnologias consideradas 4.0 ganham cada vez mais força. A inovação dos produtos e serviços, os novos modelos de negócios e a digitalização dos processos só são possíveis por meio de cloud computing, business intelligence, analytics, machine learning e Big Data.