Denis Luna é empresário, treinador de empresários e sócio da ActionCOACH São Paulo
Gerir uma empresa é uma tarefa complexa, cheia de variáveis mutáveis e de opções de modelos de gestão. Justamente por isso, há tantas chances e maneiras de errar. Como empresários, quando nos deparamos com um modelo de gestão, ainda novo ou pouco comentado no mercado, muitas dúvidas surgem. As mais recentes são sobre o modelo de gestão compartilhada.
A gestão compartilhada nada mais é do que uma administração realizada em conjunto por vários indivíduos dentro de uma mesma empresa. O que une essas pessoas é um projeto ou processo em comum, um objetivo claro e consistente que precisa ser alcançado por todo o grupo, em um curto período de tempo.
O modelo permite unir expertises de diversos especialistas em cada setor envolvido, garantindo uma troca de ideias, experiências e domínios. A equipe responsável pela solução desse projeto ganha uma sub equipe que cuidará da administração do processo, dividindo responsabilidades, descentralizando a gerência de pessoas e, com isso, garantindo melhores resultados.
É importante lembrar que a gestão compartilhada, se bem aplicada, pode ser uma ferramenta poderosa para a solução de problemas ou desenvolvimento e execução de projetos na empresa. Porém, independente do modelo escolhido para gerir, as equipes sempre serão compostas por pessoas. Nesse sentido, nada vai para frente se não houver um alinhamento muito claro quanto aos objetivos e resultados que se pretende atingir no projeto.
Assim, é necessário lembrar que uma das principais causas de atrasos, desentendimentos e fracassos de projetos dentro de uma empresa que mantenha uma gestão tradicional, centralizada, é justamente a falta de definição clara dos objetivos do projeto, ou a ausência de uma comunicação adequada entre os membros da equipe com relação aos objetivos, metas e propósito do projeto.
Observando esse cenário, imagine o que pode acontecer com um projeto em gestão compartilhada se essas questões não forem muito bem tratadas. É preciso pensar em como colocar a casa em ordem antes de aderir a um novo modelo. Com certeza, existem vantagens em conduzir projetos assim, mas elas só serão reais se esse primeiro ponto organizacional for resolvido.
Feito isso, é possível entender que com uma gestão compartilhada pessoas de diferentes áreas da empresa podem contribuir para um mesmo projeto com perspectivas diferentes e relacionadas ao seu setor, fazendo com que o projeto seja desenvolvido em harmonia, sem prejudicar uma ou outra área. Além disso, um problema de uma área específica pode ser solucionado com uma sugestão vinda de outro departamento. Quem está de fora tem uma perspectiva diferenciada.
Outra grande vantagem é que há um aproveitamento dos talentos de outros setores. A aptidão de outros especialistas pode acabar sendo de grande utilidade. A questão vai além do ponto de vista e se estende às habilidades que normalmente não são utilizadas em um determinado setor da empresa.
Dito isso, é importante ressaltarmos alguns pontos de atenção ao se trabalhar com uma gestão compartilhada. É preciso ter um domínio profundo do funcionamento da equipe e dos comportamentos dos colaboradores, já que as pessoas tendem a buscar soluções apenas para suas parcelas do problema. Isso, por vezes, faz com que, ao invés de haver uma concentração em prol da resolução do problema, haja uma fragmentação de pensamentos.
É preciso manter a equipe centrada naquele objetivo em comum. Ele é um problema de todos os colaboradores, não de um único setor. Outro ponto de atenção é a dificuldade em encontrar uma solução. Exatamente pela diversidade de pessoas e divergências de ideias e pensamentos, fica bem difícil se chegar a um consenso. Para evitar esse entrave, é extremamente importante haver uma sinergia entre os líderes que compartilham a gestão.
Acredito que, apesar de a gestão compartilhada ser uma ótima ferramenta, talvez ela não funcione para todas as empresas. Os líderes devem conhecer muito bem suas equipes e o perfil de cada um para propor uma ação dessas, visando ter resultados expressivos e em menor tempo. É preciso conhecer bem o objetivo de cada equipe para tomar a melhor decisão.