Quinta, 28 Novembro 2024

Paulo Hansted, CEO da T-RED Mobi

Pensar que um dia você poderia dialogar com sua cidade é algo que só poderia ser imaginado por leitores e fãs das mais loucas histórias de ficção de H.G. Wells ou Arthur Clarke. Algo muito duvidoso até mesmo para as não tão distantes gerações analógicas dos 80 e 90, que veem a relação de tempo e espaço serem alteradas de forma tão brutal, que fazem seus walkmans e videocassetes parecerem coisa do século passado. E são, afinal estamos no século 21, presenciando uma revolução silenciosa que está alterando o sentido de valor de tudo o que nos cerca.

Na era da Internet das Coisas, tempo é um bem precioso. Um minuto pode ser uma eternidade, tempo suficiente para fazer vídeos no Stories, twittar e acessar um amigo em outro continente. Em sua inexorabilidade, o dia tem e sempre terá 24 horas, mas o que podemos fazer com elas é que não para de se multiplicar. Da incapacidade de se envolver com tantas novidades, a sociedade digital torna-se altamente reativa a tudo que não traduza sentido e valor. As responsabilidades do dia a dia se acumulam e a sensação de sufocamento aumenta. Mais do que perguntas, busca-se respostas. Uma dica precisa, vale muito mais do que uma crítica fundamentada. Conveniência é a palavra de ordem e é ai que a coisa toda ganha uma outra dimensão.

Com a virtuosa disseminação dos devices móveis – celulares, tablets, etc a da banda larga, a sociedade moderna está permanentemente conectada. Onde quer que estejam pode-se acessar, ser acessado e até mesmo ser precisamente localizado. Se em meio a falta de tempo, vivemos em um diálogo permanente com pessoas que conhecemos ou nunca vimos, a extensão desta prática na relação com as cidades pode traduzir ganhos e benefícios nunca antes imaginados.

As Cidades Interativas abrem espaço para o diálogo, elas se comunicam com aqueles que nela vivem ou estão apenas de passagem. Em muitos Estados americanos governos e municípios estão investindo em soluções que transformam suas cidades históricas em verdadeiros museus ao céu aberto. A integração de sistemas de localização e navegação online, permitem o acesso a rotas e experiências de todos os tipos. Em Atlanta, na Geórgia, por exemplo, o simples caminhar pelas ruas da cidade abre espaço para a interação com passagens e personagens marcantes da Guerra Civil Americana. O locais que foram pauta de batalhas, e momentos históricos estão lá, prontos para serem desvendados. Cada esquina pode revelar uma surpresa. Pessoas de todas as idades, munidas de um celular, podem fazer de uma despretensiosa caminhada, uma verdadeira viagem no tempo. Recursos de vídeo, fotos e textos, auxiliam a compreensão dos momentos que cercaram o conflito naquela região. No Estado do Mississippi, o governo investiu no desenvolvimento de rotas digitais, também acessíveis por celular, que oferecem experiências enriquecedoras.

Para os amantes da boa música as Rotas do Blues e Country levam moradores e visitantes a conhecer locais onde nasceram, fizeram carreira e morreram grandes ídolos da música americana. Informações detalhadas de suas vidas estão por toda a parte. A dinâmica é tão bem organizada e acessível, que até mesmo o lendário “Crossroads”, encruzilhada das rodovias 49 e 61, onde reza a lenda, Robert Jackson vendeu a alma ao diabo está lá, fácil de ser localizada numa singela rua da cidade de Clarcksdale. Através deste sistema interativo, legiões de pessoas passaram a visitar a região.

Nas Cidades Interativas a informação é organizada em forma de estímulos, como se convidando que moradores saiam de casa e se envolvam com tudo o que a cidade pode oferecer.

Os encantos, a história, a diversão está pode estar em cada esquina, pronta para dar início a uma boa conversa. Ter a cidade na palma da mão, altera a referência de valor. Lugares por onde passamos e muitas vezes desconhecemos ou damos pouca atenção, podem traduzir grandes experiências. Desta forma, tendo mais motivos para sair de casa, as pessoas interagem mais, se divertem mais e consomem mais. Por conta disto, movimentam mais a economia. Estima-se que as Cidades Interativas tenham o poder de triplicar o valor econômico gerado por cidadãos e turistas.

A simples reorganização da equação da valor e da acessibilidade às atrações que uma cidade já oferece, dinamiza o comércio e toda a cadeia produtiva. A tecnologia abre espaço para uma infinidade de experiências que passam a traduzir benefícios imediatos. Não há espaço para a rotina. Toda hora, cada minuto pode ser um bom motivo para ligar para um amigo, reunir a família, ou até mesmo sair pela cidade sozinho e desvendar tesouros que muitas vezes estão ali bem perto, mas que na correria do dia a dia os olhos não veem.

Neste momento exemplos como estes multiplicam-se por todo o mundo. Muito em breve cidades analógicas serão conhecidas apenas pelos livros de história.

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