José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
Merecem análise hoje e no futuro os efeitos da greve dos transportadores que eclodiu em 21 de maio e paralisou o País por longos e penosos dez dias. Impressiona como esse movimento desorganizou a economia nacional e impôs pesadas perdas a praticamente todos os setores da atividade econômica. As suas consequências permanecem e continuam emergindo em análises e relatórios e impactando empresas, organizações, Governo e sociedade.
A questão não é emitir juízo de valor, mas procurar entender como o Brasil ficou tão profunda e perigosamente dependente de um modal de transporte, não possui um protocolo de emergência para crises dessa natureza e reagiu de forma tão despreparada. É necessário colher o caráter pedagógico desse episódio, pois é muito provável que seja reeditado no futuro.
Assusta o autismo do Governo Federal que – embora tenha instrumento e recursos – não detectou, não dimensionou e não compreendeu a amplitude e os potenciais perigos do movimento, pois eram fartos e abundantes os sinais de que a crise era iminente. Isso, sem mencionar que os próprios dirigentes haviam formalmente comunicado a possibilidade da paralisação. Nesse aspecto, o mundo descobriu a fragilidade do Governo, o que se reflete na piora da avaliação de risco do País pelas agências internacionais.
A conjugação de alguns fatores impeliu os caminhoneiros para a greve: a elevação dos preços internacionais do petróleo (barril tipo Brent subiu 80% em um ano), a desvalorização do real, os frequentes reajustes anunciados pela Petrobras, o excesso de caminhões comprados com subsídios do BNDES e o ritmo lento da economia.
Os transportadores fizeram o que fazem todos os grupos de pressão no Brasil (os mais ativos deles estão nas diversas categorias do funcionalismo público) que geralmente bloqueiam soluções amplas e duradouras, agindo frequentemente pela manutenção do status quo.
É imperioso reconhecer que o Governo empenhou-se em abreviar a greve para diminuir o sofrimento da população e os prejuízos das empresas. Não teve sucesso, porém, em razão da fraqueza negocial da equipe de interlocução que capitulou muito rapidamente, fez todas as concessões e não obteve nenhuma garantia.
Por outro lado, os encargos decorrentes do acordo ferem ainda mais a combalida situação fiscal da União. As medidas sugam recursos de várias áreas, inclusive saúde e investimentos, para sustentar os 9,5 bilhões de reais necessários para a manutenção do preço do diesel estável por 60 dias. Por outro lado, a solução oferecida com tabela de fretes é economicamente impossível de ser adotada. Em mais um pacote de bondades para o setor, a Câmara dos Deputados aprovou o marco regulatório dos transportes de cargas que passará a ser beneficiado com oito renúncias fiscais, abatimento de impostos e anistia a multas.
O quadro de dificuldades que o País enfrenta há quatro anos e o ambiente de pessimismo foram potencializados com o movimento dos transportadores. Os indicadores econômicos pioraram. O dano não é apenas psicossocial, como documentam as bilionárias perdas na agricultura, na indústria, no comércio e no setor de serviços.
Não se esperam mais avanços na modernização do Estado brasileiro para este ano, pois reformas estruturais não ocorrerão enquanto não houver estabilidade. Mas é essencial aperfeiçoar seu papel para enfrentar de forma inteligente esse tipo de crise. Também não é hora de se falar em aumento de impostos. O Estado consome 60% de tudo o que arrecada. É um organismo que se devora, autofágico e oneroso, absorvendo 40% do PIB e devolvendo serviços de má qualidade à sociedade. É nesse clima que entraremos na mais importante eleição da história do Brasil.