José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
A única porta de entrada e saída do grande oeste catarinense é a rodovia federal BR-282. É único caminho para escoar as riquezas exportáveis da região. Ela assegura a integração política, econômica e cultural de Santa Catarina porque é a espinha dorsal do sistema rodoviário catarinense. É essencial para o escoamento da vasta produção agroindustrial do oeste de Santa Catarina aos portos e aos grandes centros brasileiros de consumo. Por ela transitam milhões de dólares em produtos exportáveis que asseguram as divisas das quais o país precisa para sustentar seu desenvolvimento.
Entretanto, as atuais condições da BR-282 provocam acidentes diários com perda de vidas que enlutam muitas famílias e causam astronômicos prejuízos econômicos para empresas e para o País.
A via tornou-se um gargalo logístico para o transporte de toda a produção agropecuária da região oeste, reconhecida como maior produtora de suínos do país, uma das maiores produtoras de aves, a maior exportadora de suínos e aves e o maior pólo brasileiro de carnes industrializadas.
Além de deteriorada, a BR-282 começa a dar sinais de que está com sua capacidade esgotada. O fluxo de veículos aumenta cotidianamente e em alguns trechos os motoristas são obrigados a conviver com congestionamentos. A deterioração progressiva de toda malha atinge níveis que requerem a atuação em caráter emergencial, objetivando dotá-la de condições mínimas necessárias à segurança dos usuários e fluidez de tráfego.
É impressionante a constatação dos estudos do Instituto de Pesquisas Rodoviárias: o mau estado de conservação da rede viária resulta no acréscimo do consumo de combustíveis em até 58%, no aumento no custo operacional dos veículos em até 40%, na elevação do índice de acidente em até 50% e no acréscimo no tempo de viagem até 100%.
Nesse momento de crise econômica consorciada com crise política, não há dinheiro para a obra, mas é incontestável a necessidade de duplicação da BR-282 para interromper os terríveis e irreparáveis danos humanos e econômicos. O governo federal acaba de anunciar cortes de investimentos, atingindo exatamente essa e outras rodovias federais em território catarinense.
A duplicação é imperiosa e seus efeitos serão sentidos na retenção das populações dos pequenos municípios, no controle da migração regional, na redução do processo de litoralização catarinense; na atração de capitais financeiros em investimentos produtivos no hinterland barriga-verde, no aumento da competitividade internacional dos produtos primários e produtos industrializados do grande oeste catarinense e na melhoria da qualidade de vida da população.
Esse quadro de crise não vai durar para sempre e as lideranças do oeste precisam manter posição sobre a duplicação da rodovia sem esquecer, simultaneamente, o projeto das duas ferrovias essenciais para o futuro de Santa Catarina. Uma é a ferrovia intraestadual, ligando o oeste aos portos catarinenses, conhecida como "ferrovia da integração", necessária para a exportação da vasta produção industrial e agroindustrial barriga-verde. A outra é a ferrovia interestadual Norte-Sul ligando centro-oeste brasileiro a Chapecó, com extensão até o porto gaúcho de Rio Grande, importantíssima para trazer o milho que abastece as cadeias produtivas da avicultura, da suinocultura e da bovinocultura.
A planificação governamental deve ir muito além dos quatro anos de mandato, projetar um horizonte de 30 a 50 anos e, nele, embutir megaobras como a duplicação da 282 e as ferrovias. Pensando grande, com lucidez e em longo prazo, todos os projetos se tornam possíveis. Mas é preciso iniciar agora.