Bence Pál Deák é economista e advogado especializado em Direito Imobiliário do Deák Advogados
A paralisação dos caminhoneiros terminou. Mas os efeitos negativos do movimento permanecerão por muito tempo em vários setores da economia. O segmento imobiliário é um deles.
O mercado imobiliário viveu uma profunda crise no período compreendido de 2014 em diante. Até esta data o mercado estava aquecido, com os valores dos imóveis aumentando e com registro de vendas de unidades por valores crescentes, tanto para os que adquiriam imóveis para moradia, quanto os que eram uma forma de investimento.
Mas, em virtude da crise que atingiu toda a economia nacional, a partir de 2014, com a volta do fantasma da inflação e a recessão, houve a violenta alta dos juros. E o mercado imobiliário também registrou consequências negativas , que foram ainda maiores que de outros setores da economia. As transações e as vendas de imóveis passaram a apresentar quedas, voltando aos patamares de 2011.
Em 2018, com o resultado de algumas medidas corretivas que foram adotadas, se vislumbrava a retomada da atividade economia. com o controle da ameaça da inflação, o banco central foi diminuindo os juros e começaram a surgir alguns índices de empregos positivos.
Como resultado, o ano começou com otimismo. Tudo parecia que estava indo na direção da recuperação. A Caixa Econômica Federal – que era a maior agência de financiamento imobiliário, reduziu os juros praticados nos financiamentos imobiliários e voltou a aumentar os limites de crédito aplicados aos financiamentos de imóveis. Uma novidade há muito esperada pelo mercado. Já se anunciava que era apenas um "primeiro passo" e que muitas outras medidas teriam que ser adotadas para a recuperação do setor. E os bancos privados também promoveram a diminuição dos juros. Sinal verde.
Nunca é demais lembrar que o setor imobiliário deve ser considerado como um dos mais importantes da economia. O segmento tem tecnologia, que pode ser considerada como uma das melhores do mundo e possui capacidade de produção e de atendimento da demanda. Além disso, é intenso em mão de obra e os insumos podem ser quase que exclusivamente nacionais, portanto fornecidos regularmente e sem dependência de mercado exterior ou mesmo de cotação de moeda estrangeira.
Porém, embora tivessem acontecido resultados otimistas no começo do ano, a partir de março/abril, isso perdeu um pouco da intensidade. O que afetou a recuperação foram a falta de regulamentação previdenciária e o aspecto político do governo, principalmente na esfera federal. Ainda assim, se vislumbrava uma possibilidade de recuperação.
Caminhoneiros - Com a deflagração do chamado movimento ou paralisação dos caminhoneiros, toda a economia ficou em compasso de espera. Até mesmo os setores essenciais, como saúde e alimentação foram afetados. E o processo de recuperação será longo.
A causa desta situação caótica é evidentemente o próprio governo, seja o atual ou o anterior. O anterior estabeleceu um critério politico para a fixação de preços de combustíveis: ou seja, determinou o congelamento de preços como forma de controle de inflação e popularidade. Excelente receita política, mas péssima medida econômica.
O atual governo, optou pela linha contrária de fixação de preço. Na tentativa de salvar a empresa, o único critério de fixação de preço é supostamente o "técnico" e visando apenas o beneficio da Petrobrás. As variações cambiais e o preço do petróleo repercutiram imediatamente no preço de venda. Pouco importando a consequência nos demais setores da economia e no "bolso da pessoas".
No caso ocorreu o que se pode chamar de a "tempestade perfeita": Variação positiva, tanto Cambial como na cotação do petróleo. Com o repasse instantâneo nos preços, é o que se pode chamar de "tempestada perfeita". Dé no que deu!!!
Imóveis - O mercado imobiliário vinha em recuperação e dando indícios de melhora. Em março deste ano houve um aumento substancial de vendas de imóveis. Mais por conta dos números reprimidos, mas ainda assim eram números positivos.
Um fato importante é que os preços dos imóveis permaneciam estáveis. E com a inflação e juros em patamares baixos, eram indício de que em breve se passaria a um recuperação no setor.
Mas, com o movimento deflagrado, não se pode mais prever – em especial no curto prazo - o sentido que o mercado imobiliário irá seguir.
Existem alguns pontos favoráveis no que se refere à aquisição de imóveis em 2018. Contrário a qualquer outro investimento, tem finalidade de uso – para moradia ou aluguel. O imóvel é um bem de raiz: menos sujeito a especulações de mercado, que podem afetar até mesmo a empresas tidas como mais sólidas: veja Petrobras, que era Blue Chip. E é preciso ressaltar que os imóveis podem ser uma complementação à aposentadoria.
Entre os fatores que precisam ser considerados este ano, um período difícil: a enorme crise política impede a reestruturação dos critérios econômicos e de equilíbrio da nação (reforma previdenciária, por exemplo); não há políticos com representatividade para as eleições presidenciais; a baixa confiança na classe política, em geral, traz desconfiança quanto ao futuro; receio de valorização de políticas extremistas; aplicações financeiras têm juros baixos e capital deve retornar para o setor.
Nesta configuração, as pessoas se tornam tremendamente cautelosas, especialmente no que se refere às transações de longo prazo, como é o caso de imóveis - ativos de valores altos e que comprometem a renda por longo período.
Podemos concluir, portanto, que o momento não é bom para nenhum segmento. Porém, algum capital deverá ser direcionado para o mercado imobiliário. Não se pode esquecer que não se trata apenas de investimento. O imóvel tem função de moradia, que é essencial a todos os seres humanos, não importa a classe ou rendimento e pode ser sempre um bom investimento no prazo mais longo. A oportunidade está sempre presente no setor: sempre é possível aproveitar os preços mais em conta e as oportunidades do momento. Existem muitas no mercado. E, ainda na questão previdenciária, os imóveis podem ser um substituto no caso de rebaixamento do valor das pensões.