Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)
Iniciadas há exatamente duas décadas, as negociações para a criação de um acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia (UE) parecem caminhar para uma conclusão satisfatória até o final de 2018, a se levar em conta o que garantiu o secretário-geral do Itamaraty, Marcos Galvão, indicado recentemente para chefiar a missão brasileira junto à UE. Nem mesmo as restrições impostas por Bruxelas à carne de frango brasileira deverão afetar a reta final das conversações, segundo o diplomata.
Por enquanto, como assegurou o embaixador, há ainda 12 grupos negociando questões específicas, como serviços, acesso a bens industriais e agrícolas e propriedade intelectual, entre outros, mas restariam poucas pendências em alguns deles. Sabe-se ainda que há a pretensão dos europeus para que sejam eliminadas as barreiras tarifárias para automóveis fabricados na Europa, enquanto o Mercosul reivindica acesso mais fácil para carnes e etanol.
Seja como for, é de se elogiar, desta vez, a conduta da diplomacia brasileira, que soube como conduzir as negociações primeiro dentro do Mercosul, especialmente em relação ao parceiro mais importante do grupo, a Argentina, e depois com os europeus, sem reações ríspidas diante de algumas atitudes da UE para com produtos brasileiros, especialmente o embargo ao frango e pescado provenientes do Brasil. É de se lembrar também que agora Brasil, Argentina e Paraguai tem regimes favoráveis à liberalização comercial, o que facilitou a adoção de uma diretriz comum para as negociações.
Ainda que o sucesso nas negociações comerciais venha a demorar mais um pouco, não se pode deixar de reconhecer que a UE é um parceiro de destaque no comércio com o Brasil. Basta ver que, nos quatro primeiros meses de 2018, as exportações de produtos brasileiros para os 28 países que formam aquele bloco cresceram 34,4% em comparação com igual período do ano passado – contra 5,8% de aumento em relação aos EUA e 4% em relação a China. Sem contar que o Brasil já se tornou a quarta maior fonte de investimentos diretos de países europeus, com 127 bilh&o tilde;es de euros acumulados, perdendo apenas para EUA e Suíça.
Levando a UE a uma posição mais liberal está ainda a política protecionista dos EUA, sob o governo Donald Trump, que a obriga a abrir outras frentes de negociação, o que inclui maior aproximação com o Mercosul e a China. Já o bloco sul-americano deixou para trás uma agenda de retórica esquerdizante e passou a adotar uma agenda mais pragmática, colocando como prioridade alcançar bons resultados econômicos.
Isso significa que, além do acordo com a UE, o Mercosul pode fechar o projetado tratado com a Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru), com o decidido apoio do Chile que tem no Brasil o seu principal parceiro comercial na América do Sul, com uma corrente de comércio que chegou a US$ 8,5 bilhões em 2017, o que representou alta de 22% em relação a 2016. Em outras palavras: pela primeira vez em muitos anos, a diplomacia comercial brasileira parece que acertou o passo.