Marcos Guglielmi é treinador de empresários, empresário e sócio fundador da ActionCOACH São Paulo
A greve dos caminhoneiros tomou o Brasil nas últimas semanas e provocou um impacto imenso em diversos setores do país, sobretudo em sua atividade econômica. Independente de seus motivos, e até mesmo dos acordos firmados e medidas tomadas, o que restam são as consequências que irão afetar a população pelas próximas semanas.
Enquanto o governo cuida para que serviços básicos sejam normalizados, o setor privado ainda deve sofrer um bocado com diversos problemas ocasionados pelo período prolongado de paralisação. Comércios e indústrias de todos os níveis sofreram com baixas de estoque, perdas de vendas e problemas nas suas equipes, que muitas vezes trabalharam incompletas.
Muito se evidenciou a falta de combustível, porém a greve afetou o abastecimento de todos os itens. Uma crise no abastecimento significa falta de produtos essenciais. Um exemplo é a falta de entrega de produtos químicos nas estações de tratamento de água, o que faz com que a população tenha o risco de ficar desabastecida de água ou tenha uma água de qualidade inferior para consumo.
É uma época complicada para ser gestor, pois se seguem semanas que demandaram uma postura atípica para contornar o momento de instabilidade. Será preciso estratégia para lidar com as inúmeras atribulações e, para isso, é preciso se apoiar em processos sólidos, estratégias bem elaboradas e uma visão de ação assertiva, focada no que realmente faz diferença para a empresa.
Um exemplo de uma visão limitada, que na verdade prejudica mais do que ajuda, foi a dos empresários que decidiram-se por simplesmente repassar o problema ao consumidor final, aumentando preços para cobrir vendas que deixaram de ocorrer, ou mesmo para se aproveitar do caos para obter um lucro abusivo.
O descaso com o cliente final e um tratamento imediatista traz pouco lucro, e muito mais problemas em longo prazo. Houve sim prejuízos, mas repassar a conta não é a forma mais inteligente de lidar com o problema. Essas empresas ficaram com imagens marcadas, foram taxadas de aproveitadoras - algo grave em um mundo cada vez mais conectado a valores mais nobres na hora de dialogar com o cliente.
A busca por lucros maiores é uma constante nas empresas, mas não de uma maneira que tenha aparência desonesta. Há maneiras de diluir prejuízos. Muitos perderam mercadorias que ficaram paradas. Outros perderam fontes de produção. Mas, jogar a conta para o cliente, não é o caminho.
Uma postura de trabalho para ajudar a população é muito mais proveitosa. É importante lembrar que as mercadorias sendo vendidas a preços abusivos hoje foram adquiridas pelas empresas ao custo normal de mercado, pois na época não havia desabastecimento. Em alguns casos, nem existe motivo para repassar os custos.
Uma empresa bem estruturada tem caixa para lidar com momentos curtos de crise, e essa preparação vem de muito antes da greve. A empresa não pode ser vulnerável, pois vende confiança a seu consumidor. Falta produto, mas não pode faltar bom relacionamento - e muito menos ética.
É preciso agir com estratégia, pensar em longo prazo. Ter essa postura de “estar ao lado da população”, atrai mais clientes, fideliza os antigos e isso sim traz aumento de lucro e repõe o caixa. Uma comunicação clara tem momento certo aqui. É uma oportunidade de mostrar valores como idoneidade, transparência e cooperativismo.
Mesmo que haja a necessidade de reajustar preços, ser honesto com o cliente e informá-lo, mostra que a empresa sabe que está vendendo algo mais caro, porém a qualidade se mantém. É uma questão de confiança. O relacionamento em longo prazo é o que irá remediar o que ainda está negativamente impactado pela greve.
É preciso, também, aprender com a situação. Essa greve deixou evidente a dependência que o país tem do transporte rodoviário. Nesse sentido, vale a pena o empresário pensar em formas alternativas de realizar a entrega de seus itens ou adquirir materiais de seus fornecedores. Sabemos que ferrovias e hidrovias não são soluções plausíveis no momento, pois o país está defasado em muito tempo nessas estruturas, mas há algumas opções a serem exploradas.
Um exemplo é o de carros elétricos. Talvez os custos iniciais de investimento ainda sejam altos, mas fora isso, nada impede que empresas, que tenham um volume não muito alto de itens para entrega, disponham de veículos elétricos para realizar esse transporte. O importante é que os clientes estejam sempre informados sobre o que está acontecendo. Essa comunicação aproxima a empresa do cliente e demonstra confiança.
Assim, para quem quer lidar com o impacto de ações desse tipo, vale a pena lembrar: estar preparado, aprender com os erros e focar no cliente são as chaves para se obter sucesso na adversidade.