Segunda, 07 Outubro 2024

Valter Pieracciani é sócio-diretor da Pieracciani Desenvolvimento de Empresas, consultoria especializada em inovação

A Porsche, já há alguns anos, realizou um movimento estratégico que poderia servir de inspiração para toda a indústria de automóveis e caminhões. Criou uma nova empresa no negócio de consultoria para oferecer suas especialidades à própria Porsche e também a concorrentes. À primeira vista, uma jogada brilhante que parece fazer sentido para outras empresas do segmento. Um CNPJ novo, serviços novos, clientes novos, menos dependência de consultorias externas, redução de custos e, principalmente, novos negócios fora do tradicional, com possível diversificação de receitas.

Indústrias de outros setores também abriram consultorias próprias, a exemplo da Bayer, gigante do setor químico, e da Embraer, que criou no passado a Embraer Sistemas. São movimentos de certa forma alinhados à ideia de serviceirização ou servitização, tendência considerada irreversível por indústrias inteligentes e competitivas.

As spin off, quero dizer, as "filhotinhas" que se originam dessa separação, passam a oferecer, no dia seguinte ao de sua criação, especialidades que a empresa-mãe domina e pratica. Nascem, portanto, com uma vantagem competitiva importante quando comparadas a empresas puras de consultoria: muitas destas chegam somente até os relatórios e as recomendações, sem nunca terem de verdade vivenciado na pele o que preconizam.

Não há dúvida de que a indústria de automóveis e caminhões é ultra especialista em uma série de assuntos de grande interesse de outros setores. Alimentos e bebidas, serviços de saúde e a própria indústria farmacêutica, entre outros exemplos, têm muito a aprender com as vitoriosas batalhas da indústria automotiva nos campos da redução de custos, da parceria (nem sempre equilibrada) com fornecedores, do lean thinking, do refino dos processos de compras, da gestão de suprimentos e da rede de concessionárias. Enfim, há muitas lições a extrair de um setor que apanhou ininterruptamente para sobreviver a dezenas de crises.

Além disso, essas "house consultancies", vamos chamá-las assim, podem configurar uma excelente estratégia para receber veteranos que, por limite de idade, devem se aposentar nas empresas-mãe, mas estão em plena forma física e laborativa. Mais do que isso, são profissionais que aprenderam o que sabem vivendo na carne as mudanças que muitas empresas sonham em fazer.

Mas se é tão bom assim, por que outras montadoras não fazem o mesmo movimento? A verdade é que, apesar de parecer fácil e lógico, não é bem assim.

Primeiramente, abrir um novo CNPJ para uma multinacional no Brasil já é, por si, uma barreira quase intransponível. Contadores, tributaristas e advogados terão uma lista gigante de argumentos contrários. Falarão nos custos para manter outro CNPJ, em compliance, em dificuldades para transferir os profissionais de uma empresa para outra, etc. Outro obstáculo: para quem sempre foi indústria e cujo mindset claro é de indústria, há grandes desafios em mudar para o outro lado do balcão e passar a prestar serviços especializados. Mundos diferentes.

No entanto, a maior dificuldade, essa sim a mais concreta, é atingir excelência em serviços de consultoria. Essa profissão que aparentemente não tem barreiras de entrada, para a qual parece ser suficiente saber algo e encontrar um cliente disposto a pagar por tal conhecimento é, na verdade, muito diferente disso.

Para tornar-se consultor há que se manter atualizadíssimo. Não parar de estudar um só segundo, já que as tecnologias de gestão avançam em velocidade supersônica. É preciso ter grande sensibilidade para compreender as várias dimensões de problemáticas vividas pelo potencial cliente – a dimensão técnica é apenas uma delas, nem sempre a mais relevante. O consultor tem que saber conceber o projeto, traduzi-lo em uma proposta, precificar adequadamente. Precisa planejar os recursos de execução e, principalmente, entregar acima das expectativas dos clientes. Não é trabalho para amadores ou aspirantes.

Sendo assim, o melhor caminho talvez seja o de, em vez de lançar-se nesse novo mercado, as indústrias aliarem-se a empresas já estabelecidas de consultoria. Essa atitude seria, inclusive, um passo concreto na direção do conceito de corporações abertas e redes. Sob essa ótica, montadoras passariam a deter participação em consultorias já operacionais e de sucesso, compondo uma simbiose positiva que reuniria o melhor dos dois mundos.

Acredito que veremos isso ocorrer em um futuro próximo. Resta ver quem sairá na frente.

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