Quarta, 27 Novembro 2024

Márcia Taques é empresária e coordenadora de Estratégias Digitais do Secovi-SP (Sindicato da Habitação)

O uso crescente de tecnologia aliado ao avanço da economia compartilhada está alterando o comportamento do consumidor do mercado imobiliário. Já temos 3,8 bilhões de pessoas conectadas à internet no mundo, o que equivale a 46% da população mundial.

Esse incremento permite ao consumidor o acesso a todo tipo de informação de qualquer lugar, alterando sua relação com os espaços em que vive. Além disso, é possível, por meio da tecnologia e do compartilhamento, usar, emprestar e dividir todo tipo de ativo, somente acessível anteriormente por meio da propriedade. Daí, a importância de as empresas tradicionais de se envolverem cada vez mais com tecnologia.

O ambiente de trabalho tinha importância elevada, considerando que era o local em que as informações se tornavam acessíveis aos colaboradores de determinada corporação por meio dos equipamentos ali existentes, e onde também era possível se conectar e trabalhar em conjunto com colegas. Embora o contato humano seja insubstituível e desejável, é mesmo necessário se deslocar a um local por causa de informação, equipamentos e contatos, quando tudo isso está disponível no celular?

O que importa de fato na indústria imobiliária sempre foi e será a forma com que nossos consumidores querem e precisam fazer dos espaços. Os imóveis devem permitir que o consumidor exerça suas atividades - seja morar, trabalhar ou comprar - da forma mais confortável, eficiente, produtiva e agradável possível. Ora, se muda o comportamento do consumidor, muda a forma como ele exerce seu trabalho, alteram os hábitos de compra e as necessidades dentro e fora do lar. Esses espaços também devem evoluir.

Os três "cês" pertinentes a todas as gerações anteriores aos Millenials 'cargo, casa e carro' não norteiam os indivíduos nascidos após 1990. Esta geração, que é a primeira nativa digital, que nasceu conectada à internet e com conteúdo de interesse disponível como, quando e onde quiser. É este consumidor que visitará algumas dezenas de apartamentos decorados daqui a algum tempo até achar àquele que o atenda. Será que ele esperará 30 meses até a entrega da unidade? Talvez não. Pois, essa geração imediatista, quer um produto feito a partir das suas necessidades, e agora.

Diante deste contexto, ou as empresas tradicionais abraçam estes novos conceitos, ou serão atropeladas por aqueles que a enxergam. Existem exemplos de disrupção em nosso mercado: Airbnb e Quinto Andar são apenas dois exemplos de empresas que pensam tecnologia e economia compartilhada. As proptechs (empresas de tecnologia dedicadas ao mercado imobiliário) receberam investimento de USD 2,67 bilhões em 2016. Em 2011, haviam sido aportadas com apenas USD 186 mil.

As organizações terão de mudar internamente para atender o desafio: a cultura, o modelo de negócios, a forma de trabalhar. É necessário que elas se apoiem em tecnologias e se aproximem das startups, com o objetivo de produzir insights acerca do seu modelo de negócios. Há muitas ferramentas disponíveis e acessíveis, que, aliadas a experiência e quantidade de informação acumulada nas empresas tradicionais do mercado, têm potencial de produzir produtos incríveis.

É preciso que nosso mercado se prepare e conheça as tecnologias que suportarão as necessidades deste novo consumidor. É nesta esteira que surgiu o Movimente, iniciativa dos Novos Empreendedores do Secovi-SP. Por meio de uma chamada de startups, pretendemos estabelecer o intercâmbio entre elas e as empresas tradicionais, de forma que novas tecnologias sejam criadas com base em problemas empresariais conhecidos, propondo soluções tecnológicas existentes. Teremos eventos de aproximação entre empresários e startups, bem como rodadas de negócios, visando extrair o máximo de cada um para a construção de um mercado imobiliário mais conectado às necessidades do consumidor do futuro.

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