Dezessete trechos das obras da Linha 4 (Amarela) do Metrô passarão por uma operação pente fino, que será realizada por auditores independentes contratados pelo Consórcio Via Amarela, responsável pela construção. Entre os pontos está a Estação Fradique Coutinho, na Zona Oeste de São Paulo, onde uma vistoria apontou falhas que poderiam provocar “acidentes de proporções imprevisíveis”, segundo reportagem do "Jornal Nacional" exibida na terça-feira (13).
O anúncio foi feito pelo secretário de Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella, nesta quarta-feira (15). Ele disse que as obras nesses trechos ficarão paralisadas até o término da fiscalização, que deve durar 14 dias.
"Boa parte da obra vai parar por 14 dias para que seja feito um pente fino na linha. É uma medida de prevenção em termos de segurança", disse.
O Ministério Público quer que sejam verificados os locais onde está sendo feita concretagem. Após a operação pente fino, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) vai certificar cada um dos trechos onde foi feita a fiscalização para dar garantia de que nos locais não há mais problemas.
Auditores independentes contratados pelo Consórcio Via Amarela farão essa operação pente fino. Segundo Portella, seis trechos já foram verificados e aprovados.
Portella deixou claro que o canteiro de obras da Fradique Coutinho será um dos pontos de atenção. "Na Fradique Coutinho (as obras) só voltam depois que tiver um laudo com certificado de segurança" afirmou.
O secretário anunciou a decisão em uma entrevista, depois de passar boa parte da tarde desta quarta-feira (14) reunido com o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Rodrigo Rebelo Pinho.
O presidente do Metrô, Luiz Carlos David, também se reuniu durante toda a tarde com o promotor de Justiça de Habitação, Carlos Alberto Amin Filho, técnicos do IPT e do Consórcio Via Amarela.
"Algumas coisas que estão em processo de concretagem, o próprio Ministério Público quer que a auditoria seja feita. Nos lugares em que a obra não está em andamento, nós vamos fazer este pente fino e o IPT vai certificar."
Portella disse que, ao saber da notícia de que novo relatório aponta falha estrutural na Fradique Coutinho, o governador José Serra "mandou parar a obra e fazer a fiscalização". Aparentemente irritado, Portella fez duras críticas ao Consórcio Linha Amarela. "O mais grave foi o consórcio não ter informado ao Metrô e a mim mesmo que houve um problema. Partes do laudo (mostrado pelo "Jornal Nacional") o próprio Consórcio contesta. Só que devia ter contestado na data em que foi feito e não agora", desabafou.
Segundo o "JN", uma vistoria feita na Estação Fradique Coutinho apontou falhas que poderiam provocar “acidentes de proporções imprevisíveis”. A inspeção foi feita 15 dias depois do desabamento na Estação Pinheiros, ocorrido no dia 12 de janeiro, considerado o maior desastre da história do Metrô paulistano, em que sete pessoas morreram.
De acordo com o laudo feito após a vistoria, há risco de desabamento da Estação Fradique Coutinho por conta de problemas na solda da estrutura metálica que sustenta suas paredes. O laudo foi assinado pelo inspetor Nelson Damasio, que recomendou a paralisação da obra.
Ele defendeu que o único problema das obras da Estação Fradique Coutinho foi uma falha de comunicação entre o Consórcio Via Amarela, responsável pelas obras, e a empresa estatal. Segundo ele, o Metrô não foi informado da realização do laudo que indicou problemas na folga da estrutura metálica.
Ainda de acordo com Grillo, os problemas são parte da estrutura provisória da construção, que será removida quando a estação estiver pronta.
O coordenador geral da Defesa Civil de São Paulo, Jair Paca de Lima, disse na época do desabamento das obras da futura Estação Pinheiros, também da Linha 4, que deixaram sete mortos, que se houvesse um plano de emergência, vidas poderiam ter sido poupadas.
O plano envolveria um treinamento dos moradores dos arredores das obras do Metrô para, ao sinal de um risco iminente, abandonar o local e saber como se comportar diante do perigo.
Especialistas ouvidos pelo G1 dizem que as leis brasileiras não obrigam as empresas a elaborarem planos de abandono de área. “Desconheço que haja legislação que determine, mas nada impede a empresa de buscar um treinamento do seu corpo de funcionários para orientar não só os trabalhadores, como também a população do entorno”, afirmou José Carlos de Freitas, promotor de Habitação e Urbanismo do Ministério Público de São Paulo.
O coordenador da Defesa Civil afirmou que “seria bom” que o Consórcio Via Amarela, responsável pelas obras da Linha 4, tomasse a iniciativa de elaborar um plano semelhante e se disse disposto a colaborar com o trabalho. “Isso não faz parte da nossa cultura, mas é comum em países como Estados Unidos e Japão. Serviria de exemplo para o Brasil”, disse Jair Paca de Lima.
O Consórcio Via Amarela, entretanto, se exime dessa responsabilidade. Por meio de sua assessoria de imprensa, o grupo de empresas diz que essa atribuição é da Defesa Civil, mostrando-se, contudo, aberto a colaborar. O consórcio ressalta que faz leituras diárias de movimentação do solo e que, em abril de 2005, acionou a Defesa Civil para a interdição de oito casas na Rua João Elias Saada, próxima à cratera da Estação Pinheiros.
Para o promotor José Carlos de Freitas, a iniciativa poderia ser dividida entre os envolvidos nas obras. A assessoria de imprensa do Metrô foi questionada sobre o tema e pediu que o G1 procurasse o Consórcio Via Amarela para tratar do tema.
Fonte: G1 - Notícia atualizada às 22h41 do dia 14 FEV 07