Quinta, 07 Agosto 2025
Opinião | Ricardo Scheffer
CEO da SONDA do Brasil, líder regional em Transformação Digital
Ricardo Scheffer

A Rota Bioceânica avança como um dos projetos mais estratégicos para o futuro da América do Sul. O projeto prevê um corredor rodoviário de 2.396 quilômetros que conectará os oceanos Atlântico e Pacífico por meio dos portos de Antofagasta e Iquique, no Chile, passando pelo Brasil, Paraguai e Argentina.

Com a conclusão prevista para ser feita em 2026, este projeto propõe uma nova lógica para o comércio exterior brasileiro e sul-americano, que reduzirá em até 17 dias o tempo de transporte de cargas com destino à Ásia e Oceania, sendo uma alternativa à passagem pelo Canal do Panamá.

O corredor bioceânico também é uma janela estratégica para ampliar os intercâmbios comerciais e industriais na própria América. Em 2024, o Brasil exportou US$ 337 bilhões, dos quais aproximadamente 29% foram destinados a países do continente americano, configurando a segunda região com maior número de exportações, ficando atrás apenas da Ásia, de acordo com a Comtrade Database das Nações Unidas - repositório de estatísticas oficiais de comércio internacional.

Essa estratégia vai além da economia, representando uma promessa de integração física, e cultural, com efeitos multiplicadores sobre o desenvolvimento das cidades ao longo do trajeto, que vai do fortalecimento do turismo e a valorização das riquezas culturais e paisagísticas da região, chegando a países fora da rota, como, por exemplo, a Bolívia, que também deve se beneficiar, com acesso facilitado ao Pacífico para escoamento de mercadorias.

Porém, para que essa transformação se concretize, a infraestrutura física precisa ser acompanhada por uma infraestrutura digital robusta, jornada que demanda desafios a serem superados. Faltam 300 quilômetros de pavimentação no trecho paraguaio, a ponte binacional sobre o Rio Paraguai precisa ser concluída e os acordos aduaneiros, sanitários e de segurança entre os países seguem em negociação. É nesse contexto que a tecnologia deixa de ser apenas um suporte para tornar-se eixo central da integração.

Nesse cenário, o Mato Grosso do Sul, estado que ganha relevância como centro de distribuição de mercadorias e porta de entrada das exportações brasileiras rumo ao Pacífico, saiu à frente com a Infovia Digital, uma PPP (Parceria Público Privada) que visa levar conectividade à região. Por meio da instalação de uma rede de fibra óptica que conecta o estado e chega até Porto Murtinho - na fronteira com o Paraguai - a região impulsiona a porta de entrada das exportações brasileiras rumo ao Pacífico, com impacto direto na atração de investimentos e no desenvolvimento regional.

Outras soluções, como vídeo analítico, câmeras inteligentes, sensores de tráfego e plataformas integradas de controle aduaneiro são fundamentais para viabilizar a operação segura da rota. Por exemplo, a conexão com Centros de Operações Integradas (COIs) permitirá monitoramento em tempo real do Corredor, assim como promoverá a fiscalização sanitária de cargas e a resposta rápida a emergências.

Nesse ponto, postos de apoio automatizados e sistemas digitais de integração aduaneira entre os países devem acelerar os trâmites e melhorar as condições de trabalho dos motoristas, promovendo mais eficiência e segurança.

Além disso, a rota, que hoje é prevista ser majoritariamente rodoviária, deve sofrer ampliação para outros tipos de modais. As recentes negociações entre Brasil e China para expansão ferroviária indicam que o projeto tende a ganhar ainda mais complexidade logística e, com isso, cresce a importância de uma infraestrutura tecnológica à altura desse desafio.

Mais do que uma via de escoamento de produtos, a Rota Bioceânica tem o poder de conectar pessoas, culturas e cadeias produtivas, impulsionando o desenvolvimento de cidades ao mesmo tempo em que facilita o comércio exterior de países latino-americanos. Neste novo mapa de integração sul-americana, a tecnologia deixa de ser coadjuvante e passa a ser a base que sustentará a competitividade, a segurança e a fluidez de todo o projeto

Ricardo Scheffer

CEO da SONDA do Brasil, líder regional em Transformação Digital

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