Domingo, 02 Junho 2024

Menos de 24 horas depois de perder o leilão pela Corus, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) mudou seu status no mundo dos negócios. De caçadora, passou a ser vista pelos analistas financeiros como caça. Mas é cedo para tratar a empresa brasileira como alvo, segundo rumores de mercado. A CSN estaria se preparando para fazer uma oferta pela US Steel, a maior siderúrgica americana, avaliada em US$ 10 bilhões.

O dilema da CSN é um retrato da nova lógica do capitalismo: quem não está comprando um rival pode tornar-se alvo de uma oferta. A roda dos negócios está girando cada vez mais rápido. Em 2006, o número de fusões e aquisições bateu recorde. As transações envolvendo empresas brasileiras atingiram valor recorde de US$ 71 bilhões. A maior parte dessas operações foi fechada no exterior. Em 2007, estima-se que US$ 100 bilhões vão trocar de mãos.

A movimentação nos bancos de investimentos e escritórios de advocacia dá uma medida do ritmo das negociações. O ano de 2007, ao contrário do que reza o jargão popular, começou antes do carnaval. “Na última semana de dezembro, apareceram oito novos processos de fusão e aquisição, o que é um fato inédito nessa época do ano”, diz o sócio do escritório Mattos Filho, Moacir Zilbovicius. No momento, o Mattos Filho assessora 30 casos ao mesmo tempo.

As conversas de negócios espalham-se por todos os setores. Neste momento, segundo o Estado apurou, a Camargo Corrêa negocia a compra da empresa têxtil e de calçados Alpargatas na Argentina. A Camargo já é dona da Alpargatas no Brasil, mas quer transformar o país vizinho numa base de produção e exportação da marca Topper, criada na Argentina e franqueada para o Brasil.

A operação depende da conclusão de uma negociação do fundo de investimentos Newbridge, dono da Alpargatas na Argentina, com os credores. A empresa enfrentou grave crise na desvalorização do peso, em 2001, e sua dívida supera US$ 200 milhões.

No Brasil, estão sendo costurados desde negócios de grande porte, como a venda da operadora de celulares TIM, a empresas mais modestas, como a rede de livrarias Siciliano. Em conversas sigilosas, ela já foi oferecida às Lojas Americanas e deve ser apresentada a cadeias rivais, como a brasileira Saraiva e a grupos estrangeiros. Considera-se ainda a possibilidade de vendê-la a um fundo de private equity (que compra participação em empresas), que já manifestou interesse na Livraria Cultura e poderia unir as duas.

O que explica esse turbilhão de negócios é uma combinação de crescimento da economia mundial, lucros recordes nas empresas e, principalmente, o acesso a crédito fácil e barato.

Há cinco anos, os donos de empresas médias eram desprezados por gerentes de bancos. Hoje, empresários de portes médio e grande estão conseguindo recursos baratos, ao emitir papéis de dívida aqui ou no exterior ou ao vender ações na Bolsa de Valores.

Em 2004, a venda de ações de empresas na Bolsa movimentou R$ 3 bilhões. No ano passado, o movimento foi quase cinco vezes maior. “As ofertas de ações são o caminho mais acessível para quem quer vender sua empresa ou parte do capital”, diz Carlos José Rolim de Mello, do Machado, Meyer, Sendacz e Opice, escritório brasileiro responsável pelo maior número de fusões e aquisições fechadas em 2006, segundo a Thomson Financial.

QUEIMAR DINHEIRO

O dinheiro da Bolsa ajuda a financiar as fusões e aquisições. Mais do que isso: a onda de abertura de capital força empresários a repensar seu negócio. Para quem entra na Bolsa, é uma oportunidade para reforçar o caixa e fazer a empresa crescer. Para quem fica de fora, o sinal é que o concorrente está mais forte e que também será preciso se mexer.

“Boa parte das empresas está com excesso de caixa e vai queimar o dinheiro em projetos e aquisições”, diz o advogado do escritório Barbosa, Müssnich e Aragão, Leandro Zancan. “Não são todas as empresas que abrem o capital que sobrevivem. Algumas tendem a se destacar, ganhar valor e comprar concorrentes”, diz Ricardo Lacerda, presidente do banco de investimentos do Citigroup.

A facilidade de acesso ao dinheiro está mudando a lógica dos negócios, a ponto de ficar mais difícil saber quem é caça e quem é caçador. Um caso exemplar é a disputa acirrada pela usina Vale do Rosário, do interior de São Paulo.

O primeiro lance foi dado pelo maior grupo de açúcar e álcool do Brasil, o Cosan, que colocou muito dinheiro em caixa depois de ir à Bolsa. Com a oferta de US$ 750 milhões, a Cosan achou que o negócio estava garantido. Mas acionistas minoritários se rebelaram e conseguiram recursos para fazer a contraproposta a dois fundos de investimentos ligados ao ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e ao ex-ministro do Planejamento, Antonio Kandir. Para complicar, a Bunge entrou na briga e fez seu lance.

O excesso de dinheiro está encurtando o caminho de crescimento das empresas. O tamanho deixou de ser limitador. Uma empresa modesta como a fabricante catarinense de softwares Datasul, que fatura cerca de R$ 180 milhões, estreou na Bolsa em junho e captou R$ 317 milhões. Seis meses depois, comprou duas empresas - uma na Argentina e outra no Brasil.

“Estamos avaliando 18 empresas ao mesmo tempo para comprar duas ou três neste ano. Dois terços do dinheiro captado será gasto em fusões e aquisições”, diz o presidente da Datasul, Jorge Steffens. “Comprar é um jeito de sobreviver ao avanço das multinacionais.”

Fonte: O Estado de S.Paulo - 12 FEV 07

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