O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, responsabilizou ontem as políticas de juros e de câmbio do Banco Central (BC) pela queda de 2% na oferta de novos empregos com carteira assinada no País em 2006 em relação ao ano anterior. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram abertas no ano passado 1,228 milhão de vagas formais ante 1,253 milhão em 2005. Somente em dezembro, houve 317,4 mil mais dispensas que contratações.
Marinho afirmou que o nível da taxa de câmbio, próxima dos R$ 2 por dólar, é pouco atraente para exportadores e afetou as decisões das empresas de frear as demissões. Segundo ele, isso deve ser visto como um “alerta” pelo BC. “O mercado formal no ano passado poderia ter sido melhor se os juros tivessem caído mais e se o câmbio tivesse conseguido se ajustar em um patamar mais favorável às exportações e à indústria nacional.”
No primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva foram gerados 4,651 milhões de postos formais. O resultado é melhor que o acumulado no segundo governo Fernando Henrique Cardoso, quando a economia criou 1,815 milhão de vagas, mas fica bem longe dos 10 milhões de empregos citados como necessidade do País pelo então candidato Lula durante a campanha de 2002.
Marinho frisou que esse número nunca foi uma meta. “Desafio qualquer pessoa a encontrar isso no programa de governo”, afirmou, ponderando que os dados gerais do mercado de trabalho, que ficarão prontos no segundo semestre, apontarão a geração de pelo menos 8,5 milhões de ocupações nos últimos quatro anos, incluindo o mercado informal. O Caged registra demissões e contratações feitas por empresas privadas por meio da CLT, deixando de fora empregados domésticos e servidores públicos.
O ministro, que na terça-feira já havia criticado a política monetária, voltou a dizer que o BC “errou em 2005 e está errando de novo” ao desacelerar o ritmo de corte da Selic. Ele disse não se sentir uma voz destoante no governo por fazer a crítica, porque, com a queda do dólar, muitas empresas estão transferindo investimentos para o exterior. “Me sinto uma voz com a obrigação de alertar a autoridade monetária para o fato de que o câmbio mexe com o mercado de trabalho.”
A construção civil, que gerou 85,8 mil vagas no ano passado, é a aposta de Marinho para 2007. A expectativa é que as medidas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ajudem mais o setor, mas Marinho não citou metas para este ano.
Em 2006 houve abertura de vagas em quase todos os setores. A exceção foi a indústria calçadista, que eliminou 401 postos de trabalho ante 15,7 mil vagas fechadas no ano anterior. A agropecuária, que em 2005 eliminou 12,8 mil vagas formais, em 2006 teve pequena recuperação, abrindo 6,5 mil postos.
O setor de serviços contratou mais 521,6 mil trabalhadores formais enquanto o comércio registrou 336,7 mil e a indústria em geral, 250,2 mil. Regiões metropolitanas geraram 564 mil postos, superando o crescimento de empregos no interior do País, que foi de 433,7 mil vagas. Entre os Estados, São Paulo apresentou o melhor desempenho (267,8 mil), seguido de Rio (82 mil) e Minas (81,5 mil).
DIFICULDADE
Jeferson Hiakuna, de 20 anos, chegou cedo ontem à Rua Barão de Itapetininga, centro de São Paulo. Currículo na mão, se juntou a um grupo que observava placas com anúncios de emprego carregadas por homens-sanduíche. “Está difícil conseguir uma vaga. Quando tem, pagam muito pouco.” Ele não tem segundo grau completo e seu último emprego foi como vendedor em uma loja de eletrodomésticos. Está desempregado desde outubro. “Estou pensando em me mudar para o Japão”, afirma ele,neto de japoneses.
Fonte: O Estado de S.Paulo - 08 FEV 07