Segunda, 23 Dezembro 2024

O Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp) e a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) realizaram, na manhã de quarta-feira (9/9), na Capital paulista, um debate inicial sobre a situação atual do País com relação às denúncias de corrupção, a paralisação de grandes obras de infraestrutura e o exercício profissional dos engenheiros. Para o presidente das duas entidades, Murilo Celso de Campos Pinheiro, a categoria tem a obrigação de tratar os temas de forma democrática e ampla. “Temos a responsabilidade, inclusive, de apresentar propostas concretas numa contribuição apartidária, mas política”, destacou o dirigente, informando, ao final da reunião, que novos encontros serão realizados com o mesmo propósito, mas com o compromisso de apresentação de sugestões para a elaboração de um projeto da engenharia para as boas práticas no setor.


Fotos: Beatriz Arruda
Murilo 09SET2015 editada 
Murilo, presidente do SEESP e da FNE, convoca categoria para discutir
propostas em defesa da engenharia e do desenvolvimento do País 


O encontro contou com as análises do engenheiro Frederico Bussinger, ex-presidente do Conselho Nacional de Engenharia e Agronomia (Confea) e hoje prestando consultoria na área de infraestrutura, do professor de Engenharia de Projetos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Marcelo Zuffo, e do consultor sindical João Guilherme Vargas Netto. Para Bussinger, as dimensões legal, econômica, política e mesmo moral da corrupção "têm sido objeto de intenso debate que, certamente, balizarão a governabilidade, a democracia e a própria nação no futuro próximo".

Ele observa que em análises e informações ainda incipientes, sem o rigor da pesquisa científica, mas importantes para passar “o Brasil a limpo”, devem ser esquadrinhas questões relativas ao exercício profissional em instituições públicas e privadas. “É de se imaginar que a própria engenharia tenha sido vitimizada em todo esse processo.” E prossegue: “Prioridades devem ter sido alteradas, necessidades forjadas, hierarquias desrespeitadas, cargos preenchidos não por competência profissional.” Para ele, a “boa técnica” e as “boas práticas” da área devem ser defendidas mesmo que esbarrem nas “regras do jogo”.

Já para o consultor sindical é importante definir bem por quais crises o Brasil passa. Para ele, vivemos a instabilidade política e econômica, mas não a social ainda. Sob a perspectiva da engenharia, Netto defende que a “grande pista” para tratar a questão é discutir os elementos da ineficiência no setor e como superá-los. “Corrupção é uma coisa, ineficiência é outra”, esclarece. Nessa perspectiva, ele observa que “o que destruiu o País foi a mentalidade de que não se pode projetar, não se pode ter empresa pública e que apenas a empresa privada deve organizar, porque ela é submissa à anarquia do mercado”. E questiona: “Por que a nossa engenharia de projetos foi desqualificada?”

Novo ordenamento moral
Para o professor da USP, é difícil aceitar o nível de corrupção que enfrentamos hoje. “Sabe-se que em grandes obras de engenharia isso é clássico. Os grandes dirigentes nazistas se enriqueceram com a corrupção, assim como as grandes corporações norte-americanas, na década de 1930, e outras nos anos 1970 também.” Ele avalia que, com a forte aceleração econômica por que passou o País nos últimos anos, as corporações nacionais de engenharia começaram a trabalhar com grandes cifras. “Eu acredito que o Brasil deve enfrentar essa discussão o mais urgente possível. Não podemos pensar no futuro da engenharia sem levar em conta um novo ordenamento moral para gerações de profissionais que vão vir. Falo como professor, que nunca precisou aprender ética na escola de engenharia.”

Segundo ele, a empresa estadunidense Boeing (de desenvolvimento aeroespacial e de defesa) tem em seu código de ética, como primeira cláusula, a orientação de que “não aceitarás e não propiciarás nenhuma forma de propina”. Ele explica que isso só foi possível porque a empresa incorreu em falhas éticas graves e teve de se autodenunciar para garantir sua sobrevivência. “Empresas de outros países fizeram o seu próprio ajuste para não falir.”

Ao final, todos os palestrantes enalteceram a iniciativa do SEESP e da FNE de abrir o debate, classificado por Zuffo como corajoso. Para ele, “não podemos ficar apenas na retórica, temos uma categoria que precisa ser reforçada em todos os seus valores profissionais e éticos”.

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