Quarta, 22 Janeiro 2025

Fonte: UOL Notícias

A Índia há muito vem lutando para fornecer energia suficiente para iluminar seus lares e fazer suas indústrias funcionarem 24 horas por dia. Nos últimos anos, o governo e o setor privado tentaram mudar isso construindo inúmeras novas usinas elétricas.

Mas a iniciativa está enfrentando dificuldades porque o país não consegue combustível suficiente – principalmente carvão – para fazer as usinas funcionarem. Políticas equivocadas, gerenciamento ruim e preocupações ambientais impediram o avanço dos esforços do país para escavar o combustível de maneira rápida o suficiente para acompanhar sua crescente necessidade de energia.

Um complexo sistema de subsídios e controles de preços têm limitado o investimento, particularmente em recursos como o carvão e o gás natural. Isso também criou anomalias, como os preços da eletricidade no mercado que são mais baixos do que o preço de produzir energia, o que levou a grandes prejuízos nas usinas estatais. Um debate sobre quanto de suas florestas a Índia deveria entregar à mineração também limitou a produção de carvão.

Os problemas do setor energético contribuíram substancialmente para um segundo ano de desaceleração do crescimento econômico na Índia de quase 10% em 2010 para estimados 7% este ano. Empresas reportam que os blecautes mais frequentes as obrigaram a reduzir a produção e gastar significativamente mais em diesel para fazer funcionar geradores reservas.

A desaceleração é palpável na Sowmya Industries, uma pequena companhia que fabrica placas de metal que contém o concreto enquanto ele se solidifica em colunas e vigas, uma ferramenta essencial para o setor da construção.

A companhia, localizada fora desta cidade na costa sudeste da Índia, enfrenta vários problemas, incluindo um aumento de 20% no preço das matérias-primas e uma queda nos pedidos. Mas o gerente da Sowmya, R. Narawhima Murthy, disse que a falta de fornecimento confiável de energia é um problema ainda maior. Sua companhia perde três horas de energia toda noite. E durante o dia todo às quartas-feiras e sábados – eufemisticamente chamados "feriados elétricos" - ela recebe energia suficiente apenas para acender as luzes, mas não para usar as máquinas pesadas de cortar metal.

"É muito frustrante", disse Murthy. "Energia é uma necessidade básica. Tudo depende de energia." Não deveria ser assim. Há dois anos, mais de duas dúzias de grandes projetos elétricos foram planejados perto da fábrica, mas a maioria deles foi descartada ou esquecida porque a Índia não conseguia cavar carvão suficiente para alimentá-los.

As frustrações de Murthy refletem um mal estar nacional mais amplo. Analistas dizem que as dificuldades econômicas da Índia poderiam facilmente ser evitadas se os políticos tivessem lidado melhor com problemas como a falta de energia elétrica, fraca infraestrutura e regulações restritivas. Em vez disso, os políticos se distraíram com escândalos de corrupção e disputas por influência.

"Praticamente não há novos investimentos tanto por parte do governo quanto do setor privado", disse Ashok M. Advani, presidente executivo da Blue Star, a maior fabricante comercial de ar condicionado na Índia. "Temos um ambiente muito incerto."

No último ano, o problema de energia elétrica do país ficou mais agudo, com a diferença entre a demanda e a oferta crescendo para 10,2% no mês passado, em comparação aos 7,7% do ano anterior. Em alguns estados como Andhra Pradesh, onde fica Nelore, e na vizinha Tamil Nadu, os blecautes se tornaram tão comuns que muitas fábricas dizem receber mais eletricidade de geradores a diesel do que da rede elétrica, a um custo que é aproximadamente três vezes mais alto.

Um grande problema é a anêmica produção de carvão, que fornece 55% da eletricidade da Índia. A produção de carvão aumentou apenas 1% no ano passado enquanto a capacidade das usinas elétricas saltou para 11%. Alguns produtores de energia vêm importando carvão, mas esta opção ficou menos viável recentemente porque o maior fornecedor da Índia, a Indonésia, dobrou os preços do carvão.

A Índia tem uma das maiores reservas de carvão do mundo, mas não consegue explorá-la eficientemente, em grande parte porque uma companhia estatal, a Coal India, controla 80% da produção. A companhia foi paralisada por decisões políticas como uma norma que requer que ela venda carvão com um desconto de 70% em relação aos preços de mercado. Os críticos também dizem que ela não investiu de forma suficientemente agressiva em novas minas e tecnologias.

Disputas políticas também causaram problemas. Nos anos recentes, os reguladores de carvão tentaram abrir novas áreas à mineração, mas não coordenaram suas decisões com os reguladores ambientais, que bloquearam a maior parte da mineração porque ela destruiria densas florestas.

A Índia também parece ter muito gás natural, que é uma fonte de energia mais limpa que o carvão, mas tampouco explorou totalmente essas reservas. Firmas privadas têm poucas iniciativas para fazer isso porque o governo limitou o preço deste combustível.

"Há uma crise imensa ameaçando", diz Chandan Roy, um executivo aposentado de uma produtora de eletricidade administrada pelo estado, a National Thermal Power Corp. Ele acrescentou que as soluções potenciais eram bem conhecidas, mas os líderes políticos estavam relutantes em levá-las adiante porque isso significaria aumentar os preços da eletricidade e dos combustíveis fósseis.

Para muitas companhias, a falta de energia se tornou debilitante. No estado de Tamil Nadu, no sul do país, Srihari Balakrishnan, dono de uma indústria têxtil, disse que usa cerca de 6.300 galões de diesel num dia comum para manter sua fábrica funcionando, gastando US$ 3 mil a mais do que gastaria se houvesse energia disponível o tempo todo.

"Não podemos usar 20% a 30% de nossa capacidade", disse ele. "Não podemos usar a rede elétrica por dois dias inteiros da semana. Quando temos energia, temos um corte de seis horas", acrescentou ele.

Murthy da Sowmya, fabricante de placas de metal, disse que sua produção poderia ser 30% maior se ele tivesse acesso à energia confiável. Numa tarde recente, seus funcionários estavam correndo para cortar placas de metal antes do final do expediente. Eles não poderiam usar as máquinas no dia seguinte, quando soldariam as placas, o que pode ser feito com a energia convencional da rede elétrica em vez de usar a rede de energia industrial.

"Quando a energia acaba, nenhuma máquina aqui funciona", disse Murthy, 35, enquanto andava pela fábrica. "Temos que planejar antes." O irmão de Murthy começou o negócio num pequeno barracão há oito anos, e juntos os dois transformaram-no numa fábrica com um lucro anual de US$ 390 mil. Eles fornecem principalmente para empreiteiras da região de Nelore, onde a economia é dominada pelo cultivo de arroz e um porto em expansão.

A apenas 28 quilômetros de sua fábrica fica o local proposto para várias usinas elétricas que deveriam ter eliminado a necessidade de rearranjar o trabalho de acordo com a agenda de eletricidade.
V. Balashowry, empresário por trás de um desses projetos de usina elétrica, a Kineta Power, entrou com um pedido para receber combustível da Coal India há quatro anos. Ele esperava estar produzindo quase 2 mil megawatts de energia hoje, o que teria aumentado a capacidade elétrica do Estado de Andhra Pradesh em cerca de 15%.

Balashowry, ex-integrantes do Parlamento pelo Partido do Congresso, que está no poder, já comprou 1.150 acres de terras com pasto e florestas, incluindo 850 acres do Estado de Andhra Pradesh, e garantiu a aprovação ambiental para sua usina. Mas nenhum banco lhe empresta dinheiro para construir até que a Coal India concorde em fornecer-lhe o combustível.

"Temos recursos na Índia, mas eles não são capazes de fazer a coisa certa", disse ele, referindo-se aos funcionários do governo, durante uma entrevista recente em Nova Déli.

Outras companhias também estão paralisadas. A Reliance Power, que é controlada pelo bilionário Anil Ambani, diz que parou com o trabalho de construção de uma grande usina elétrica porque não podia mais pagar pelo carvão da Indonésia, como planejava.

O negócio de Murthy sofre de um golpe duplo por conta desses atrasos – ele não recebe energia elétrica suficiente e há menos construções na região, o que significa menos demanda para seus produtos. Ele disse que há alguns anos, a companhia estava prosperando porque a falta de energia não era tão grave e os projetos de infraestrutura do governo e da construção privada aumentaram a demanda para seus produtos.

Ele agora tem dez funcionários, sendo que tinha 15 há dois anos. "Foi uma queda muito rápida", disse ele. "No ano passado, tínhamos um turno à noite."

Tradutor: Eloise De Vylder

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