Domingo, 19 Janeiro 2025

Fonte: Valor Econômico

Por Vera Saavedra Durão | Valor

RIO - O ADR da Ternium (TXUS), braço siderúrgico do grupo ítalo-argentino, Techint está despencando hoje na Bolsa de Nova York. Logo após a divulgação de comunicado da companhia, confirmando que está interessada na aquisição de uma participação minoritária na Usiminas, o papel caiu 14,72%, cotada a US$ 21,49. Também na Bovespa, depois de terem subido pela manhã, as ações ON da Usiminas recuam 3,40%, cotada a R$ 22,46 e a PNA desce 0,50%, valendo R$ 11,93. A volatilidade desses papéis é intensa.

Os sinais imediatos desse comportamento são de que o mercado não recebeu bem a notícia da futura sociedade e está descrente quanto ao fechamento do negócio, por causa do preço oferecido pelo grupo Techint - R$ 40 por ação -, como reportou hoje o relatório do banco Barclay’s, que causou frisson entre bancos, consultorias e empresas do setor siderúrgico.

Fontes da indústria do aço ouvidas pelo Valor acreditam, porém, que a transação pode ser boa para a Ternium e não  faria mal à Usiminas, que deixa de ter dois sócios - no caso a Votorantim e a Camargo Corrêa - pouco interessados em se manter no nicho da indústria do aço. Em contrapartida ganha um parceiro que tem presença há 40 anos no setor, como é o caso do grupo Techint, muito interessado em entrar no mercado brasileiro. O grupo tem três unidades na América do Sul: duas no México e uma na Argentina, além de uma nos Estados Unidos.

O alvo do relatório do banco Barclay’s foi a notícia de uma oferta de R$ 40.00 [ou algo próximo deste valor] por 26% de ações ON da siderúrgica brasileira, correspondentes a participações de 13% do grupo Votorantim e 13% do grupo Camargo Corrêa. No total, o grupo ítalo-argentino estaria disposto, caso confirme esta informação, a pagar R$ 5,2 bilhões para entrar na usina controlada pelos japoneses da Nippon Steel. Este seria o preço do investimento numa nova usina a ser construída no Porto Açú, de Eike Batista, mas sobre a qual a Ternium ainda não bateu o martelo.

Fontes do setor siderúrgico acreditam que a família Rocca, dona do grupo Techint e consequentemente da Ternium, tem suas razões para fazer tal oferta, aparentemente superelevada, já que as ações ON da Usiminas estão cotadas no mercado a R$ 22,46 (há poucos minutos atrás) Como profundo conhecedor da indústria do aço, o grupo Techint parte do princípio de que o setor siderúrgico está “muito descontado”, ou seja muito desvalorizado, muito barato,  por conta do ciclo ruim que vem atravessando. Mas no cenário que desenham para a transação anteveem um “turn around” no fundo do túnel, senão não fariam tal oferta.  

Para um interlocutor que conhece bem as duas partes, o grupo ítalo-argentino  está com caixa líquido e precisa fazer um movimento de investimento ou aquisição para ampliar seu suprimento de placas de aço. Hoje, a Ternium tem déficit de 3,7 milhões de toneladas do semiacabado. Este volume é necessário para abastecer os laminadores de sua usina mexicana.

Uma parceria com a Usiminas, que hoje está trabalhando numa estratégia de contenção de custos e pequenos investimentos de melhoria de competitividade e eficiência e que abandonou o projeto de expansão de placas de Santana do Paraíso, poderia deslanchar o projeto de mais uma planta de placas na usina de Cubatão. O projeto seria abastecido com o minério da Usiminas Mineração transportado pela MRS. Com uma produção  em torno de 4 milhões de toneladas embarcada pelo porto de Cubatão o projeto brownfield sairia mais barato que o projeto do Açu.

Esta seria uma grande vantagem para a Ternium se entrasse para o grupo de controle da Usiminas.

As chances da Ternium de ter sucesso na sua investida para ser sócia da Usiminas são boas. A empresa tem bom relacionamento com o controlador da companhia, a Nippon Steel . A Usiminas já foi sócia da Ternium com uma participação de 14%, pois entrou com a ítalo-argentina na época da privatização da siderurgica venezuelana Sidor, depois reestatizada por Hugo Chaves.

No início deste ano, a Ternium adquiriu a participação da Usiminas na Ternium juntamente com a Techint. As informações que circulam no setor siderúrgico acreditam que o negócio pode vir a ser fechado. A Nippon Steel, com 27,8% da Usiminas, poderia declinar do direito de preferência no negócio devido ao alto preço da oferta da Ternium. As possibilidades de Gerdau ou CSN entrarem no bloco de controle da siderúrgica mineira ficam cada vez menores diante desta “zebra”.

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