Por Thaís Barbosa
O Porto de Santos possui fornecimento próprio de eletricidade proporcionada pela Usina Hidrelétrica de Itatinga, que completou 94 anos, em plena atividade, no último dia 10. Situada em Bertioga é um museu vivo, que apresenta edificações e equipamentos centenários, funcionando como se fossem novos. Apesar de pouco conhecida no Brasil, trata-se de um local que atrai visitantes do mundo inteiro, que se encantam pelo local.
Sua história começa em 1903, quando a então Cia Docas de Santos, administrada pelas famílias Guinle e Gaffrée, comprou a Fazenda Palaes, no sopé da Serra do Mar, em Bertioga, a exatos 30 quilômetros do Porto de Santos. A idéia era que através da construção de uma usina hidrelétrica própria, pudesse dar sequência às obras de melhoria técnica do Porto de Santos, visto que este passaria a demandar maior suprimento de energia elétrica em função da modernidade de seus equipamentos e instalações.
Projetada pelo engenheiro Guilherme Benjamim Weinschenk, a usina começou a ser construída em agosto de 1905. Sua inauguração aconteceu cinco anos mais tarde, 10 de outubro de 1910, com potência nominal de 20 mil kva. Sua energia destinava-se à eletrificação das instalações do porto, à iluminação geral do cais, armazéns e escritórios. A Hidrelétrica de Itatinga era, na época, uma das maiores usinas hidrelétricas do País em fio d’água (não há barragem, com a água vindo de uma represa parcial do Rio Itatinga) e também se tornou a de maior altura em termos de queda d’água.
A captação da água ocorre em uma altura superior a 900 metros, na curva do Rio Itatinga, onde antes havia uma cachoeira. Basicamente, a água que abastece a usina vem do Rio Itatinga, localizado no limite entre os municípios de Bertioga e Mogi das Cruzes. Com nascentes na Serra do Mar, há cerca de 900 metros de altura, o rio encontra a barreira da usina, que a desloca para a barragem (cerca de 70 metros descendo a montanha).
Há um reservatório no topo da serra, tecnicamente conhecido como "Câmara de Equilíbrio". Neste ponto, foram construídas as câmaras d’águas, que marcam o início da canalização. A partir daí, o rio é canalizado em cinco tubos, que descem a serra até os geradores da usina. A coluna d'água é de 980 metros, sendo a maior do Brasil.
A usina operou com 20 MW de potência até 1997, quando uma pá da turbina Pelton NBº 5, se rompeu. A usina, então passou a operar com quatro dos seus cinco geradores, produzindo 16 MW. Atualmente, dois foram tirados de operação, por estarem em manutenção. Os 16 mil quilowatts de potência da usina são obtidos através da vazão de 3,3 metros cúbicos por segundo do Rio Itatinga.
A energia produzida é levada a Santos através de uma rede de transmissão de 30 quilômetros de extensão e o sistema conta com cinco sub-estações, na Fazenda, Caiubura (em Bertioga), Caetê e Monte Cabrão (área continental de Santos), na Torre Grande (Vicente de Carvalho, em Guarujá) e no Macuco (em Santos).
De acordo com os registros históricos da Codesp, Itatinga na realidade veio para substituir uma usina termoelétrica também de propriedade da Companhia Docas, eletrificando as instalações do porto e a iluminação do cais, armazéns e escritórios. Mas foi somente em 21 de fevereiro de 1911 que foi concluída a troca de todos as máquinas a vapor por motores elétricos.
Desde a sua construção a usina vem operando ininterruptamente, e sua capacidade possibilita à companhia manter o funcionamento das instalações portuárias, que tem uma demanda média de 10 mil quilowatts e ainda ceder as sobras às concessionárias dos serviços de fornecimento de energia.
Além do porto, até 1927, a usina forneceu eletricidade a Santos, São Vicente e a cidades vizinhas, inclusive, alimentou a construção da Usina Henry Borden, em Cubatão. Em 1925, durante uma crise de energia na Capital, Itatinga também forneceu 5 mil quilowatts de energia a São Paulo.
Itatinga foi interligada ao sistema elétrico da Região Sudeste em 4 de setembro de 1975. A partir dessa data, passou a operar com toda sua capacidade, com a concessionária local da época, a Eletropaulo (Eletricidade de São Paulo), absorvendo automaticamente toda a energia excedente do porto. Essa melhoria também possibilitou que o porto recebesse energia suplementar, durante períodos emergenciais, como na época de secas do Rio Itatinga.
Apesar de tão próxima a Santos e São Paulo durante quase 8 décadas, Itatinga manteve o seu aspecto bucólico de uma cidade do interior, também em grande parte devido ao zelo da Codesp, que até hoje somente permite visitantes munidos de uma autorização especial nas instalações da Vila.
Foto: Prédio principal da usina, que abriga os geradores
Crédito: Cid José Beraldo (1993). Esta imagem foi compilada do site A Usina de Itatinga - Cia Docas de Santos (não oficial)