Sexta, 22 Novembro 2024

Um dia para ficar na história. Hoje, quando o navio João Cândido cruzar a comporta do dique seco do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) e flutuar no mar de Suape, será como proclamar o renascimento da indústria naval no Brasil. O País, que viu o setor submergir nas últimas duas décadas (depois de ter ocupado o segundo lugar no ranking mundial, nos anos 70), concretiza sua retomada. Esse ressurgimento também aponta para uma mudança no mapa da construção naval, que no passado esteve concentrada no Rio de Janeiro e, agora, tem o Estado de Pernambuco como timoneiro desta nova fase. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai testemunhar hoje, ao lado de uma constelação de autoridades, 3,7 mil funcionários do EAS e 2,5 mil convidados, a cerimônia de batismo e lançamento ao mar do primeiro petroleiro fabricado em Pernambuco, do navio nº 1 do Programa de Modernização e Renovação da Frota da Transpetro (Promef).

Sem tradição na indústria naval, Pernambuco precisou empenhar esforço dobrado para capitanear a retomada do setor. O primeiro desafio foi construir, a um só tempo, o estaleiro mais moderno do País e o primeiro petroleiro do empreendimento. Além disso, foi preciso transformar donas de casa, cortadores de cana, vendedores de picolé, comerciantes e outros profissionais das mais diversas categorias em operários da indústria naval. O presidente do EAS, Angelo Bellelis, afirma que essa transformação foi a mais gratificante. Os funcionários provaram que era possível fazer navios em Pernambuco e o estaleiro abriu oportunidades e conseguiu mudar a vida dessas pessoas (leia depoimentos na página ao lado). O tom da cerimônia de hoje realça essa importância do engajamento dos empregados. Vários operários darão seus testemunhos em vídeos.

“O Promef foi apontado como impossível. Muitas pessoas não acreditavam que o Brasil pudesse volta a construir navios. Parecia que vínhamos de outro planeta fazer essa proposta”, conta o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. O Promef encomendou 49 navios a estaleiros nacionais, dos quais 22 serão construídos pelo Atlântico Sul. No livreto que será distribuído hoje na solenidade, a Transpetro fez questão de usar o mote Navegar é possível.

Durante a solenidade será distribuída uma história em cordel escrita pelo cordelista e xilogravurista pernambucano J.Borges. “Recebi o convite da Transpetro para fazer o cordel contando a história do estaleiro e da série de 22 navios encomendados pela empresa, inclusive este primeiro”, diz o artista, que estará presente na cerimônia. Ele diz que não conhece bem o Complexo de Suape e que escreveu a história em uma semana, com informações repassadas pela Transpetro e uma foto do petroleiro João Cândido.

Em 2008, quando o governo federal anistiou os marinheiros que participaram do movimento de 1910, no Rio de Janeiro, conhecido como Revolta da Chibata, o presidente Lula prometeu ao filho de João Cândido (líder do levante), Adalberto Cândido, que daria o nome de seu pai ao primeiro petroleiro construído no Brasil, depois de 13 anos de estagnação da indústria naval no País. Hoje, Candinho (como é conhecido o filho do almirante-negro) estará na plateia assistindo à cerimônia de batismo do navio. “Meu pai é personagem de mais de dez livros e já foi homenageado em nome de ruas, escolas e monumentos. Mas a emoção agora é diferente, porque ele dará nome a um navio, local onde comandou o movimento. Agora, a embarcação vai rodar o Brasil e o mundo levando o nome dele”, diz. O ano de 2010 marca o centenário da Revolta da Chibata, uma rebelião dos marinheiros brasileiros contra os castigos físicos praticados pelos oficiais da Marinha.

Fonte: Jornal do Commercio

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