Quinta, 23 Janeiro 2025
 

O ano promete ser agitado na indústria brasileira de celulose. Diante das postergações de alguns investimentos em 2009 e da reorganização da Aracruz e da Votorantim Celulose e Papel (VCP), que se uniram e deram origem à Fibria em setembro passado, os principais fabricantes do País precisam decidir este ano o cronograma dos primeiros projetos do novo ciclo de expansão do setor. Isso se quiserem aumentar a oferta para acompanhar o crescimento de demanda, que tende a se acentuar nos próximos anos. Em um cenário menos otimista, ao menos US$ 5,5 bilhões em aportes precisam ser definidos até o final de 2010. Mas esse número pode saltar para quase US$ 20 bilhões caso o ambiente de negócios permita projeções de investimentos para o longo prazo, segundo levantamento realizado pela Agência Estado.

A lista de empresas que deverá decidir sobre novos projetos ao longo de 2010 inclui Fibria, Veracel, Suzano Papel e Celulose e Cenibra. Mas outras empresas, casos da Stora Enso e Klabin, também podem divulgar novidades sobre seus planos de expansão.

Líder do mercado global de celulose de eucalipto e com menos de cinco meses de existência, a Fibria ainda não anunciou seu plano de investimentos, que deverá incluir projetos divulgados anteriormente pela Aracruz e pela VCP. De acordo com anunciado pela companhia em outubro passado, o primeiro novo projeto deve entrar em operação daqui a três anos.

Não há, no entanto, uma definição de qual será a unidade escolhida até o momento. A princípio a Fibria acreditava que poderia concluir a duplicação da Veracel, joint venture que possui com a sueco-finlandesa Stora Enso, até o final de 2013. Esse prazo, no entanto, não deve ser cumprido devido a problemas enfrentados pela companhia em obter licença ambiental para ampliar a base florestal na região próxima à fábrica, localizada em Eunápolis (BA).

A definição sobre o projeto da Veracel determinará também o cronograma da expansão da fábrica da Fibria de Três Lagoas (MS). Caso o projeto com a Stora Enso enfrente dificuldades, é possível que a ampliação da unidade sul-mato-grossense ocorra antes da Veracel, entre 2013 e 2014.

O projeto de expansão da Veracel foi orçado preliminarmente em US$ 1,2 bilhão, segundo divulgado pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), enquanto a duplicação da fábrica de Três Lagoas pode envolver até US$ 2 bilhões, segundo estimativas calculadas a partir de valores dos projetos já anunciados no mercado.

A Suzano é outra companhia que deverá definir investimentos em 2010. Apesar de manter inalterados os planos de construir duas fábricas no Nordeste, em 2013 e 2014, a companhia postergou a decisão sobre a ampliação da capacidade da fábrica de Mucuri (BA). O projeto, estimado inicialmente em US$ 630 milhões, incluindo investimentos na base florestal, deve ter seu destino definido este ano para que seja implementado até 2012. Do contrário, o projeto tende a ser postergado para depois de 2015 ou suspenso temporariamente.

Outro investimento já anunciado, mas que precisará ser oficializado em 2013, é a expansão da Cenibra. Menos comentada do que as rivais Fibria e Suzano por não ter ações na Bolsa de Valores de São Paulo, a companhia mineira havia anunciado antes da crise a ampliação da capacidade, em aproximadamente 1 milhão de toneladas anuais de celulose, a partir de 2013. Passada a crise, a companhia precisará definir se o cronograma e investimento, que chegou a ser projetado em US$ 1,7 bilhão, serão mantidos.

Há também um projeto localizado no Mato Grosso do Sul, que está sendo elaborado pela Florestal Brasil, e também pode ser fruto de anúncios em 2010. Mas essa iniciativa ainda é embrionária e está associada possivelmente à futura negociação do ativo com um grupo do setor, que assumiria o projeto estimado para entrar em operação entre o final de 2012 e o começo de 2013. Por isso o projeto não foi incluído na lista de iniciativas com definições previstas para os próximos meses.

Além dos projetos citados, outros investimentos, de mais longo prazo, podem ter seus detalhes divulgados este ano. Nessa lista constam a terceira fábrica da Suzano, com início de operação previsto para 2015; a unidade que a Stora Enso pretende construir no Rio Grande do Sul, ainda sem cronograma definido; a fábrica de celulose já anunciada pela Klabin, com início de produção previsto para a partir de 2015; o projeto da Celulose Riograndense (ex-Unidade Guaíba da Fibria), cujo cronograma em análise pelos chilenos da CMPC pode apontar para início da produção entre 2014 e 2015, além de mais uma fábrica da Fibria, a operar provavelmente a partir de 2017 no Rio Grande do Sul ou no Espírito Santo.

A definição da viabilidade desses projetos se torna mais factível à medida que o ambiente de negócios se torna mais claro. "O mercado está bastante demandante para novas capacidades de baixo custo e o cenário do câmbio sinaliza para maior estabilidade", destaca o analista da Link Investimentos, Leonardo Alves.

Beneficiadas pelo aumento da demanda por celulose de fibra curta, caso do eucalipto brasileiro, e pelo fechamento de capacidades de unidades pouco competitivas do hemisfério Norte, as fabricantes pretendem se adequar ao aumento da demanda previsto para os próximos anos. A despeito das preocupações com a recente desvalorização do dólar frente ao real. "Todo exportador quer um dólar valorizado, mas esse setor tem passivo muito grande em dólares, por isso, quando convertida a dívida para reais, o efeito do dólar também tem um efeito positivo", afirma o analista da SLW Corretora, Pedro Galdi, para quem o efeito cambial também pode ser compensado com a redução dos custos.

Além de o ambiente estar mais favorável à definição de quais projetos serão competitivos no ambiente pós-crise, outros dois fatores estimulam o aumento da produção nacional. O primeiro é o baixo número de projetos anunciados para os próximos anos. O segundo é a recuperação das margens do setor e da capacidade de investimento das empresas. "O ano de 2009 foi um ano muito bom para o mercado de celulose. Como efeito da crise e da queda dos preços, muitas capacidades foram fechadas e a oferta mundial encolheu. Além disso, os chineses ampliaram as compras principalmente de celulose de fibra curta, em substituição à fibra longa", explica Galdi. "E para 2010 é possível esperar um volume ainda mais forte", conclui o analista.

Criada em setembro passado, a Fibria é um exemplo desse movimento. A fabricante, originada na união entre Aracruz e VCP, chegou ao mercado com dívida bruta de R$ 15,67 bilhões e nível de alavancagem superior a 7 vezes, na relação entre dívida líquida e Ebitda.

Diante desse cenário, a prioridade traçada pela direção da companhia foi reestruturar o elevado nível de endividamento, o que se tornou possível após a venda da Unidade Guaíba para a CMPC e da conclusão de operações de emissão de US$ 1 bilhão em bônus e captação de US$ 1,175 bilhão em linhas de pré-pagamento à exportação. Com isso, a companhia não apenas pretende reduzir a dívida contraída com operações de derivativos e alongar o prazo dos vencimentos como também retomar os planos de investimentos em novas linhas de produção. "A Fibria precisa ampliar sua capacidade para não perder espaço no mercado", alerta Alves, da Link.

Situação semelhante vivem a Suzano Papel e Celulose e a europeia Stora Enso. A primeira superou a fase mais aguda da crise com mais de R$ 2 bilhões em caixa e ainda pode contar com recursos do Grupo Suzano provenientes da venda da Suzano Petroquímica para viabilizar os novos investimentos. Já a Stora Enso, que em meio à crise anunciou fechamentos de capacidades na Escandinávia, na América do Sul dá sinais de que poderá retomar seus planos de investimentos, seja na Veracel, no projeto previsto para o Rio Grande do Sul ou até mesmo na parceria com a chilena Arauco, em território uruguaio.

Fonte: Jornal do Comércio

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