São Paulo - A desaceleração nas decisões de investir é mais representativa nas empresas indústriais, cujos desembolsos são vultosos. Segundo pesquisa da Serasa, a fatia das indústrias que vão ampliar os seus investimentos caiu de 57%, em 2007, para 47%, neste ano. A pesquisa foi feita em junho, por meio de entrevistas a 1.010 executivos de empresa da indústria, comércio, serviços e instituições financeiras. Desse total, 636 têm investimentos em curso neste ano, cuja ampliação já é afetada pela alta dos juros. A Vitopel, maior fabricante de embalagens plásticas flexíveis da América Latina, por exemplo, adiou a decisão sobre novos investimentos.
Segundo o seu presidente, José Ricardo Roriz Coelho, os projetos vão permanecer engavetados até o horizonte ficar mais claro em relação à dimensão e intensidade das medidas adotadas pelo governo para segurar a inflação. “O aumento nas taxas de juros é sinal para os empresários segurarem as pontas porque o avião vai sacudir”, argumenta. A empresa investe atualmente US$ 55 milhões na compra de um equipamento alemão que pode ampliar em 20% a sua capacidade de produção, que hoje é de 150 mil toneladas de filmes flexíveis por ano. “A idéia era aumentar a produção, mas vamos desligar máquinas antigas até o mercado melhorar”, conta o executivo. Além das incertezas no mercado interno, a Vitopel sofre os efeitos do câmbio desfavorável e da crise internacional, que deverão provocar queda de 33% nas suas exportações , das 35 mil toneladas de 2007 para 20 mil toneladas. A Dimas de Melo Pimenta Sistemas de Ponto e Acesso - Dimep, líder de vendas de relógios e controles de acessos no País, reduziu os investimentos previstos para o ano, de 5% para 2% do faturamento, cujo montante a empresa não divulga. “Os projetos não foram cancelados, e sim suspensos temporariamente”, afirma Dimas de Melo Pimenta III, vice-presidente da empresa.”Vamos esperar para ver a reação do governo frente as pressões inflacionárias”. Já na Indústria Brasileira de Televisores (IBT), dona da marca Cineral, a preocupação é com a dificuldade de repassar para o varejo o aumento de custos ocorridos com a elevação dos preços de matérias-primas e insumos.
Segundo Abdo Antonio Hadade, presidente da IBT, os preços precisam ser reajustados em 15%, o que tornaria viável o investimento de R$ 15 milhões previsto para 2009. “Como os lojistas não aceitam negociar aumentos, já estamos reavaliando os projetos”. Este ano, a IBT vai desembolsar R$ 10 milhões , mesmo montante investido em 2007, que serão aplicados na compra de máquinas e equipamentos para aumento da capacidade de sua fábrica na Zona Franca de Manaus.
Varejo otimista
Os empresários do comércio são os mais otimistas em relação aos investimentos para 2008. Segundo a Serasa, 59% das empresas do setor pretendem investir este ano mais do que em 2007. Na pesquisa realizada há um ano, esse número era menor, de 56%. Tanto na indústria quanto nos serviços e instituições financeiras, caiu o número de empresas que esperam ampliar os investimentos . A Dicico, redes varejista de materiais de construção, pretende investir R$ 100 milhões neste ano, ante R$ 60 milhões em 2007. Desde janeiro, a empresa já inaugurou um centro de distribuição e dez novas lojas. “Hoje estamos com 40 lojas e vamos terminar o ano com 50”, diz o seu presidente, Dimitrius Markakos.
Apostando no crescimento do consumo da Classe C, a Dicico optou investe na abertura de lojas em bairros da capital paulista e em cidades do interior do Estado pouco explorados pela concorrência. “Estamos ocupando o espaço antes que outros ocupem”, diz o empresário.
Fonte: Tribuna do Norte - 28 JUL 08