A oferta de álcool nos postos de combustíveis de Pernambuco, que começou a falhar nos últimos 20 dias, ainda não foi normalizada. Em plena entressafra das usinas de Pernambuco, os distribuidores estão comprando álcool de Goiás, São Paulo e Minas Gerais, mas, além de pagar mais pelo frete, em torno de R$ 0,32 por litro, faltam caminhões para o transporte.
A crise logística, segundo o diretor do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis de Pernambuco (Sindicombustíveis/PE), Wladimir Figueiredo, é um reflexo do aumento do percentual de biodiesel para o diesel, que passou de 2% para 3% a partir de julho. "Não parece muito, mas é uma elevação de 50% e, para atender à lei, os produtores de biodiesel estão contratando mais caminhões-tanque e isso mexeu com o sistema logístico, atingindo Pernambuco", explica.
O abastecimento de álcool está praticamente resolvido nos postos Texaco, Esso, Ipiranga e Dislub, mas falha nas bombas da Petrobras, que detém a maior fatia do mercado pernambucano, cerca de 35%. "Se pedimos 10 mil litros, recebemos a metade", lamenta Figueiredo, estimando uma queda de 20% no faturamento de julho dos postos de combustíveis pernambucanos.
De acordo com Figueiredo, a Petrobras teria prometido normalizar o abastecimento até o final da semana passada. Procurada pela reportagem, a estatal não se pronunciou até o fechamento desta edição.
Maior consumo
A situação se agrava com o aumento do consumo de álcool no Estado. Enquanto a média era de 12 milhões de litros por mês, em 2007, em maio passado chegou a 24 milhões - resultado do crescimento de carros flex que permitiram aos consumidores optar pelo álcool, em média 62% mais barato que a gasolina.
O diretor da Setta Combustíveis, Claudio Uchoa, que administra 70 postos próprios e outros 400 de bandeira branca em Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, assegura que se houvesse estoque de álcool seria mais fácil enfrentar o problema logístico. "Alguém tem que fazer estoque, mas as distribuidoras, as usinas e o governo alegam falta de dinheiro. E mesmo que os distribuidores quisessem fazer, não existem tanques suficientes para estocagem", afirma Uchoa.
Para Figueiredo, o governo deveria formar um estoque regulador. "O álcool sempre foi vantajoso em Pernambuco mas hoje os consumidores estão optando pela gasolina. É preciso que o governo pratique o discurso de que o álcool é a nossa melhor opção econômica de combustível", afirma.
O presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar/PE), Renato Cunha, também defende uma regulação do estoque por parte do governo e propõe ainda uma adequação da distribuição às safras de estados como o Maranhão, Piauí, Paraíba e Bahia que, devido ao clima, iniciaram a moagem da safra de 2008 no último mês de abril, antecipando-se às safras de Pernambuco e Alagoas que só começam a partir de agosto. "As distribuidoras precisam evoluir e firmar contratos volumétricos com as usinas, mantendo uma avaliação mensal dos preços", conclui.
Fonte: Gazeta Mercantil - 14 JUL 08