O crescente uso do contêiner no transporte da produção mundial, com a perspectiva de que dentro de dois anos quase 75% de toda carga geral seja movimentada por essa via, segundo dados da Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de uso Público (Abratec), faz com que os principais terminais do segmento, a Libra Terminais e a Santos Brasil, corram para incrementar até 2009 sua capacidade de movimentação no maior porto do País, o de Santos. Somadas, a duas empresas estão aportando quase R$ 300 milhões em Santos.
"O contêiner cresce junto com a economia, inclusive vemos produtos que tradicionalmente não utilizavam esse meio de movimentação, como o ferro-gusa e o açúcar, entre outras commodities, começarem a ser transportados desse modo", analisou Gustavo Pecly, presidente da Libra em Santos. Ele confirmou ao DCI que o novo Terminal Valongo S.A. (Teval), onde a Libra investe cerca de R$ 97, 5 milhões, ficará pronto no último trimestre deste ano. O Teval terá a capacidade de movimentar 300 mil contêineres por ano. Para se ter uma idéia, no ano passado, todo o complexo da empresa em Santos movimentou, ao todo, 525 mil unidades - cada unidade (TEU) corresponde a um contêiner de 20 pés. Para 2008, a previsão é aumentar em 9% as operações dos terminais.
O presidente da Libra também afirmou que outra importante característica do novo espaço é a otimização do fluxo logístico da região (na margem direita do Porto de Santos), com a possibilidade de receber até 100 vagões de composições ferroviárias. "O Teval tem como principal objetivo regularizar o fluxo de cargas na margem direita de Santos, com a idéia principal é ser um concentrador de cargas, tanto da via ferroviária quanto da rodoviária. O resultado é que as cargas poderão chegar esse ponto, serem armazenadas, desembaraçadas e, depois, enviadas aos terminais de embarque", explicou o executivo.
O local poderá receber as principais companhias de logística ferroviária, como a América Latina Logística (ALL) e a MRS Logística, além da FCA. O fato é que a Libra observou uma tendência do mercado mundial em migrar do transporte rodoviário para o ferroviário - modal que também vive um incremento das operações em contêineres. O terminal busca ainda ordenar o fluxo do transporte na região, atendendo à necessidade de redução de custos e tempo para os exportadores e importadores. Assim, será possível reduzir congestionamentos e deslocar parte dos volumes transportados para a noite.
A Libra venceu a licitação para operar o espaço ao apresentar um projeto para desenvolvimento de um terminal multimodal para movimentação de cargas e contêineres, em um momento que muito se discute a questão do uso dos terminais públicos de uso misto. O grupo Libra tem ainda terminais no Rio de Janeiro, a Libraport, em Campinas, e a Libra Cubatão. A empresa foi patrocinadora do 3º Fórum Brasil Comércio Exterior, evento que discutiu os rumos do setor no Brasil e terminou ontem, em Santos.
Tecon
Outra que aposta no aquecimento do segmento é a Santos Brasil Participações, que vai destinar R$ 200 milhões para a construção do Terminal 4, contando com as instalações. A previsão é de que a área que será incorporada ao complexo do Terminal de Contêineres de Santos (Tecon), fique pronta para entrar em atividade no início de 2009.
De acordo com a assessoria da empresa, o novo anexo do complexo terá área de 112 mil metros quadrados, que irá somar aos outros 484 mil m² que a Santos Brasil opera na Baixada Santista. Nos último anos, o Tecon movimentou 1, 250 milhão de contêineres e deve elevar esse número para 1,350 milhão ainda em 2008.
A Santos Brasil, criada a partir do consórcio vencedor do leilão de privatização do Tecon, tem hoje entre seus principais acionistas, o fundo Opportunity, a Multi STS Participações e a PW237 Participações, que controlam um dos maiores terminais de contêineres da América do Sul. O grupo adquiriu recentemente a Convicon Contêineres, de Vila do Conde, no Pará, e o Tecon de Imbituba, em Santa Catarina.
Denúncia
A Santos Brasil vai fazer estudos de viabilidade para o projeto Barnabé Bagres, que vai dobrar a capacidade do Porto de Santos. Recentemente, a empresa foi alvo de uma denúncia de que teria sido favorecida no processo. Sobre o assunto, o Ministro dos Portos, Pedro Britto, disse que a autorização foi a público em abril, época em que foi concedida, e que não foi feita em caráter de exclusividade, garantindo que a realização do estudo pela Santos Brasil não obriga o governo a usá-los e que qualquer empresa pode solicitar sua participação no processo.
O coordenador de Logística e Promoção das Exportações da Secex (Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento), José Manoel Cortinas Lopez, abriu a rodada de palestras do último dia do "3º Fórum Brasil Comex", em Santos (SP). Lopez apresentou, entre outros assuntos, as ferramentas eletrônicas de consulta na Internet, na página do MDIC, e falou sobre as macrometas do PDP (Política de Desenvolvimento Produtivo), mostrando números do comércio exterior brasileiro. "O comportamento nos últimos dez anos apresenta números pujantes, com aumento de exportações, importações e da corrente do comércio. Mas há problemas: o saldo das transações voltou a ser deficitário", declarou. Para contornar essa situação, Lopez disse ser necessário aumentar os investimentos e incentivar as micro e pequenas empresas. Sobre logística, ele afirmou que a iniciativa privada e o governo devem trabalhar juntos, cada um na sua função, e que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já prevê essa integração.
Fonte: DCI - 04 JUL 08