Sábado, 01 Fevereiro 2025

O consumidor poderá encontrar novas informações nas embalagens de alimentos. Começa a ser avaliada, no Brasil, a utilização do chamado farol nutricional, que identifica a quantidade dos nutrientes por meio das cores do semáforo. A proposta foi apresentada na semana passada pelo Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (Idec) à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com o objetivo de iniciar o debate sobre a mudança nos rótulos.
O objetivo do Idec é trazer para cá a experiência adotada na Inglaterra e na Espanha, onde a adoção da medida é facultativa. A vantagem, segundo o supervisor de Informações do Idec, Carlos Tadeu de Oliveira, é que a iniciativa agrega dados e não suprime qualquer um dos já existentes. O que modifica é a forma de visualização: vermelho, amarelo e verde serão correspondentes à quantidade excessiva, limite ou abaixo do permitido. "O consumidor identifica facilmente estas cores como pare, atenção e siga. Assim, facilita o controle que a população pode ter sobre o que está comendo, principalmente as pessoas que têm restrições a algum tipo de nutriente, como os diabéticos", argumenta Oliveira.
O debate mal começou e já causa polêmica. "A iniciativa é boa, mas não resolve o problema, que é a falta de conhecimento sobre cada nutriente descrito no rótulo", afirma Claudia Malotti, bióloga e diretora da Labor3, empresa especializada em serviços de análises laboratoriais focadas em alimentos e consultoria em segurança alimentar.
Especialista em análise de rótulos, Claudia explica que o mais urgente é uma campanha de esclarecimento para que a população saiba o que está consumindo e qual a serventia de cada item presente na alimentação. Pesquisas revelam que a maior parte das pessoas confere o prazo de validade, independentemente da classe social. Já as informações nutricionais são acompanhadas por mulheres com mais de 30 anos. Nas demais categorias, a incidência é bem menor. Segundo ela, é fundamental que haja esta mudança antes que se mexa na rotulagem.
A indústria também tem suas dúvidas com relação à efetiva contribuição do farol nutricional. "Corremos o risco de produtos assumirem o papel de vilão sem o serem", adverte o gerente de marketing da Florestal Alimentos, Adriano Orso. O temor, explica, é de que ao ver o sinal vermelho as pessoas considerem o alimento não-recomendável para o consumo. "Na verdade, o que vale é o consumo equilibrado, e há informações suficientes sobre isto", alega o executivo.
A Florestal, que exporta para mais de 70 países, tem conhecimento sobre as exigências de rótulos mundo afora e garante que o Brasil é uma das nações com uma das leis mais rigorosas quando o assunto é rotulagem. "Sabemos que 85% das decisões de compra se dão no ponto-de-venda, por isto é preciso simplificar", acredita.

É preciso estudo para avaliar metodologia, alerta Anvisa

A Anvisa vai avaliar todas as implicações que o semáforo nutricional pode representar na prática. Em entrevista ao Jornal do Comércio, a diretora da Anvisa Maria Cecília Martins Brito fala sobre a medida.

Jornal do Comércio - A Anvisa vai avaliar a proposição do Idec?
Maria Cecília Martins Brito - A Anvisa tem conhecimento da proposta do Idec sobre o uso do semáforo nutricional nos rótulos de alimentos. Antes de tomar qualquer medida, iremos avaliar todas as dificuldades e benefícios que esse sistema pode trazer para a população brasileira.
JC - Qual a avaliação preliminar sobre o farol nutricional?
Maria Cecília - A agência tem acompanhado os estudos e as experiências internacionais sobre o uso de símbolos na rotulagem de alimentos. No entanto, o uso dessa ferramenta é uma experiência recente que tem sido desenvolvida em alguns países europeus, e ainda não existe consenso internacional sobre a efetividade de seu uso. Dependendo do critério escolhido, por exemplo, um leite poderia ser considerado um alimento com alto teor de gordura saturada e ter seu consumo desestimulado. No entanto, sabemos que esse alimento é uma importante fonte de proteínas e cálcio para a alimentação da população.
JC - O que é fundamental nos rótulos?
Maria Cecília - É fundamental que a população tenha acesso a informações corretas e padronizadas. No caso de alimentos, além da rotulagem nutricional, existem diversas informações obrigatórias que permitem ao consumidor conhecer o produto, seus ingredientes, origem e validade. O importante é que as informações sejam apresentadas de forma amigável e que a população entenda aquilo que o rótulo apresenta.
JC - Como saber se o produto está realmente de acordo com o que diz na embalagem?
Maria Cecília - A responsabilidade pelas informações de rotulagem é do fabricante do alimento. O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, por meio das Vigilâncias Sanitárias Estaduais e Municipais e dos Laboratórios de Saúde Pública, realiza ações fiscais a fim de verificar a adequação dos produtos frente à legislação sanitária, incluindo os requisitos de rotulagem geral e nutricional.

Fonte: Jornal do Comércio - 23 JUN 08

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