Na semana passada, a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid) divulgou seu ranking anual de fusões e aquisições. No topo da lista, quase nenhuma surpresa: os mesmos grandes bancos estrangeiros de sempre. O que chamou a atenção foi a presença de empresas brasileiras pequenas, que não funcionam exatamente como bancos, mas já disputam com eles grandes negócios. No ano em que foi anunciado um recorde de transações - 135 operações no total de R$ 114 bilhões -, nomes como Estáter, Pátria, Brasilpar, Rosenberg, Vergent e Singular Partners mudaram de patamar, estrearam ou até voltaram para a lista.
Criada há apenas cinco anos por ex-executivos de banco (boa parte do BBA), a Estáter entrou para o ranking das dez instituições mais bem colocadas com apenas três operações, que movimentaram R$ 9,4 bilhões. A empresa desbancou grandes bancos na maior operação do ano passado: a compra da Ipiranga pela Petrobrás, Grupo Ultra e Braskem por US$ 4 bilhões. Além de ter sido a única que sentou à mesa de negociações do início ao fim, a Estáter ajudou a desfazer um grande nó no setor petroquímico. Graças a esse trabalho, liderou as reestruturações societárias fechadas no País no ano passado, segundo a Anbid. Foram cinco no total.
A Estáter, ao contrário da maioria das butiques, gosta de entrar em grandes transações, acima de US$ 500 milhões. “Buscamos focar em até cinco ou seis negócios de uma vez só”, diz Pércio de Souza, um dos cinco fundadores da empresa e conhecido por ser o homem de confiança de Abílio Diniz, controlador do Pão de Açúcar, o cliente mais assíduo desde a fundação da Estáter. “A gente procura o que não está óbvio para não ter comissões baixas. É mais arriscado, porque as chances das operações não vingarem é grande. Por isso é importante a capacidade de identificar aquelas que vão dar realmente certo.”
Souza e seus sócios dizem que gostam de negócios complicados. O caso Ipiranga é exemplar. No começo, a Estáter tinha o mandato de venda, mas a operação não era simples. O problema não era quem iria comprar, mas como iria comprar. Em agosto de 2006, um ano antes do anúncio do negócio, os sócios chegaram à conclusão de que deveria haver mais de um comprador. Foram atrás dos interessados e mudaram de lado, assessorando os compradores. Quem acabou assessorando a Ipiranga foi outra butique: o Pátria Investimentos.
A área de fusões e aquisições do Pátria, criada também há cinco anos, dobra de tamanho desde 2005. A butique atua em duas frentes - uma voltada para grandes clientes e outra para operações de médio porte, entre empresas que faturam entre R$ 100 milhões a R$ 500 milhões. “Quando a área foi criada, o grande foco era energia. E até hoje é assim. Mas estamos enfatizando as empresas médias. Elas estão ficando mais sofisticadas, mais profissionalizadas e mais formalizadas”, diz Antonio Wever, responsável pela área de fusões e aquisições.
Atualmente, de cada dez novos mandatos de compra ou venda, quatro vêm de outras áreas de negócios da empresa. Há desde operações que surgem de clientes que têm fortuna administrada pela casa até das empresas compradas pelos fundos de private equity do Pátria. Os melhores exemplos são os laboratórios Dasa e as faculdades Anhanguera. Depois que o fundo entrou como sócio, elas fizeram aquisições em série, todas elas assessoradas pelo Pátria.
Fonte: O Estado de S.Paulo - 31 MAR 08